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A desvalorização é parte do trabalho doméstico

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2013 havia 67 milhões de trabalhadores domésticos adultos no mundo, sendo que 80% corresponde à população feminina, ou 55 milhões de empregadas. Esta modalidade representa 27% da ocupação feminina na América Latina e Caribe. “O trabalho doméstico é uma das ocupações com níveis de remuneração mais baixos no mundo, com médias de salário abaixo da metade do salário médio no mercado de trabalho”, informa a OIT.

Uma dessas milhões de mulheres que trabalha como empregada doméstica no Brasil é Crislei Oliveira da Silva. Hoje com 39 anos, ela começou a trabalhar aos sete, junto de sua irmã. “A minha mãe não tinha condição de ficar comigo e minha irmã. [Então] ela deixou a gente na casa de uma senhora, chamada Laura, para a gente trabalhar. Ela [Laura] falava que era ajudar, mas não era ajudar porque acabava que a gente fazia as tarefas domésticas sem remuneração nenhuma”, conta Crislei. Além dela e sua irmã, trabalhavam na residência de Laura outras quatro crianças. 

De acordo com a OIT, o número de crianças e adolescentes em situação de exploração de trabalho infantil doméstico no Brasil teve uma diminuição de 61,6% entre 2004 e 2015, passando de 406 mil para 156 mil pessoas.

Crislei diz que a realidade da empregada doméstica não é nada fácil, mas que é necessário continuar e lutar por melhores condições de trabalho. “Empregada doméstica é muito sofrido. Acorda cedo, deixa os filhos, mas nós acabamos adotando outra família para a gente estar cuidando. Não é pra gente ser cuidado, é pra gente estar cuidando, limpando, organizando e, muitas vezes, não é reconhecida porque o salário da empregada doméstica é muito pouco, mas tirando isso é bom”, opina.

Ela ainda conta que, no ínicio, por ser criança, teve dificuldades em conseguir receber um salário justo, mas que hoje em dia consegue receber o suficiente. “Não ganho o que eu quero, mas eu ganho bem”, conta. Em 2013, foi aprovada no Brasil a emenda parlamentar conhecida como “PEC das domésticas” que igualou os direitos das empregadas domésticas com os demais tipos de trabalhos, numa tentativa de garantir melhores condições para a classe. De lá para cá, o número de empregadas domésticas com carteira assinada diminuiu, não se sabe os reais fatores que levaram a essa queda, se foi devido ao desemprego generalizado ou por ter se tornado mais complicado para o empregador manter as funcionárias regularizadas.

O sonho de Crislei, no entanto, não é continuar a trabalhar como doméstica, mas se tornar enfermeira. “Tentei antes, mas não dei conta de concluir o curso, agora tô tentando de novo como técnica em enfermagem”, revela. Segundo ela, a nova profissão permitirá ter horários melhores de trabalho e um salário superior ao de doméstica. Poderá ter uma qualidade de vida maior e passar mais tempo com suas duas filhas. “Falta um ano e poucos meses para acabar o curso”, diz com um sorriso no rosto que transparece a esperança de uma vida melhor. 

Vanessa Gianotti
vanessagianotti.jor@gmail.com
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