16 mar A escolha do silêncio diz muito
Quando um veículo de comunicação escolhe falar sobre algo, entendo algumas coisas. A primeira delas é que esse veículo pode ter acreditado ser importante falar sobre determinado assunto e, por considerá-lo algo relevante, resolveu noticiar. A segunda é que esse veículo tinha espaço na sua folha de jornal ou na sua grade televisiva, o que permitiu a veiculação do material. A terceira é que esse veículo pode ter tido uma razão política. Quando um veículo divulga uma informação com base em suas determinações políticas e ideológicas, ele veicula não apenas por ter espaço e tempo ou por acreditar ser relevante. Ele veicula por acreditar que o seu país não pode seguir sem o conhecimento daquele fato.
Ao contrário, quando um veículo de comunicação escolhe não falar sobre algo, abordando no lugar sobre outros assuntos, consigo entender outras coisas. Primeiramente, que os editores possivelmente não consideraram determinado assunto relevante e merecedor de atenção. Em segundo, entendo que talvez não houvesse espaço na folha de jornal ou na grade televisiva. Em terceiro, entendo que talvez, por motivos ideológicos e políticos, escolheu-se não falar (ou falar pouco) por acreditar que o país devesse ou precisasse seguir sem o conhecimento de determinado fato. Ou até o que pode ser pior: que o país não precisasse se preocupar com determinado assunto.
Antes de qualquer discussão sobre parcialidade ou imparcialidade, o jornalismo detém a grandeza de ser o porta-voz das calamidades e alegrias do mundo. É o jornalista que carrega consigo as atualizações sobre fatos importantes, que conhece o jogo político das sociedades, que descreve, traduz e fala por vários e, em tempos de internet, ainda conserva a aura de ser uma fonte confiável. É possível observar que inúmeros jornais brasileiros de grande circulação no país escolheram não dar destaque para a notícia da morte de Marielle Franco nesta manhã, alguns sequer fizeram referência à matéria na capa, página essa que é a vitrine de informações das edições que circulam diariamente pelo mundo.
Escolher falar pode significar uma escolha política. Escolher não falar sempre significa uma escolha política, principalmente quando se trata da morte de uma vereadora da segunda maior cidade do Brasil. Escolha essa que vem justificando a omissão de assuntos e fatos recorrentes no país.
Pouco ou nada se falou dos embates estaduais entre professores da rede pública e governos do estado e de agressões contra professores em passeatas e greves, tendo em vista o tanto que esses fatos impactaram o funcionamento da educação pública ultimamente. Pouco se falou dos estudantes que foram agredidos por policiais e forças armadas nos últimos tempos, fosse por questões de embate, manifestação, ou fosse por motivos sociais e econômicos que entraram em conflito com a truculência de generais e comandantes nas últimas semanas. Pouco se falou sobre direitos que podem ser reduzidos e a maneira que eles podem interferir na vida do cidadão que ganha pouco e paga muito.
Não falar sobre o assassinato de uma mulher negra, de origem pobre, mestra em administração pública e eleita vereadora da cidade do Rio de Janeiro pode significar muitas coisas. Apesar da variedade de razões que jornais e veículos de comunicação podem ter para hierarquizar notícias, certas coisas não devem passar despercebidas. A morte de Marielle, o que pode ter ocasionado tal violência e a instabilidade sentida no país, são algumas dessas coisas.
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