
05 dez Agrotóxicos e transgênicos ameaçam a população
As normas de segurança alimentar estabelecem que todos tenham direito a uma alimentação saudável. Mas e os vegetais transgênicos e os cultivados com agrotóxicos? Será que eles estão dentro dos preceitos que garantem sustentabilidade e respeito a natureza?
Henfil profetizou que o Brasil seria o campeão mundial no uso de agrotóxicos. Charge feita nos anos 1980.
O consumo de alimentos como hortaliças, frutas, grãos e cereais é recomendado por diversos especialistas. Por conterem nutrientes e serem mais leves que os alimentos de origem animal, a princípio seriam benéficos para a saúde. Entretanto, aqueles que são adquiridos em feiras, lojas e supermercados, em sua maioria, estão carregados de agrotóxicos e estes prejudicam a saúde humana e o ecossistema.
De acordo com o Conselho Nacional[a] de Segurança Alimentar e Nutricional da Presidência da República, o conceito de Segurança Alimentar está relacionado às estratégias que garantem alimentos de qualidade para todos e a diversidade de culturas alimentares. A ideia é promover a saúde com respeito à natureza. Isso é lindo no papel. Na prática, porém, muito pouco é executado.
A bancada ruralista e a indústria dos agrotóxicos pressionam os deputados para que até os pesticidas proibidos em outros países sejam usados em território nacional. Pior, eles incentivam a produção de monocultura que prejudica o cultivo de vários gêneros alimentícios, pois muitas sementes são modificadas geneticamente e podem contaminar plantações naturais.
A agricultura convencional utiliza agrotóxicos com a intenção de combater insetos e demais pragas em plantações. Assim, obtém-se um bom rendimento na safra. Todavia, as pragas não são totalmente aniquiladas. Muitas vezes os insetos adquirem resistência aos agrotóxicos, sendo necessário aplicar outros, em maior quantidade e combatividade. Deste modo, o ecossistema fica gravemente ferido.
De acordo com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), os agrotóxicos são também chamados de defensivos. Assim, as marcas produtoras dessas substâncias usam essa terminologia para não chocar os consumidores. O termo também blindaria juridicamente as companhias, caso houvesse adoecimento humano em decorrência da aplicação. Desta maneira, as empresas podem alegar que os agricultores não seguiram devidamente as instruções de uso.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em 2010, publicou uma pesquisa na qual houve coleta de 2.488 amostras dos vegetais, devidamente analisadas pelo Programa de Análise de Resíduos em Alimentos. Com isso, verificou-se que havia incidência de resíduos de agrotóxicos acima do nível estabelecido pela legislação. Nesse estudo constatou-se que 28% das amostras estavam insatisfatórias – isto é, com o nível acima do Limite Máximo de Resíduos (LMR) – ou possuíam substâncias proibidas aplicadas nestes alimentos[b]. Aqueles que estavam em níveis “aceitáveis” somavam 37% das amostras, sendo que apenas 3,7% do material não possuía vestígios de fitossanitários (outro nome dado aos agrotóxicos).
De acordo com os resultados da pesquisa realizada pela ANVISA, os alimentos que contém maior presença de agrotóxicos são: pimentão (91,8%), morango (63,4%), pepino (57,4%) e alface (54,2%). Desse modo, como na situação ilustrada pela tirinha de Henfil exposta no começo do texto, entende-se que estamos comendo o veneno, e não o vegetal. O uso dessas substâncias pode ter gerado um bônus de alimentos disponibilizados com “menores” preços; entretanto, o preço menor conduz às caras consequências para a natureza e a saúde.
A começar pela natureza, está provado que não apenas pragas, mas também espécies de insetos polinizadores são mortas pelos agrotóxicos. Na cidade de Gavião Peixoto (SP), em 2014, por exemplo, quatro milhões de abelhas foram exterminadas em decorrência do uso indiscriminado de agrotóxicos. Esse fenômeno não acontece apenas no interior de São Paulo. No Brasil como um todo, e em outros países como os Estados Unidos, essas substâncias estão aniquilando milhões de colmeias.
Os agricultores aplicam esses insumos para protegerem as plantações de insetos, mas acabam matando todos eles. As empresas produtoras de substâncias nocivas à saúde deveriam saber que as abelhas polinizam o material genético das plantações. Sem elas, o ciclo de vida das plantas não continua. Quebrando ciclos naturais, os agrotóxicos são absorvidos pela terra e chegam aos lençóis freáticos. Desse modo, peixes e outros animais os absorvem e, pescados, levam à mesa substâncias indesejáveis presentes no organismo. O consumidor terá, assim, mais uma fonte de exposição ao veneno que gradualmente se acumula em seus sistemas vitais e ocasiona doenças a médio e longo prazo.
O Brasil é o país que utiliza mais agrotóxicos no mundo. Os organismos vegetais alterados geneticamente, chamados de transgênicos, segundo as empresas criadoras, contribuiriam com a diminuição do uso de defensivos. Mas acabaram tendo o efeito contrário, com a aplicação de mais fitossanitários nessas plantas geneticamente modificadas, as quais contribuíram para o país ficar em primeiro lugar no ranking. Detalhe: muitos dos agrotóxicos usados no Brasil são proibidos na União Europeia. Um exemplo é o Glifosato que, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), é um dos agrotóxicos que podem favorecer a incidência de doenças cancerígenas.
Vegestein
O livro Frankenstein de Mary Shelley conta a história de um cientista maluco que faz experiências com partes putrefatas do corpo humano, para que juntas possam ganhar vida. Os resultados da experiência foram desastrosos. Mas a história contada a seguir não é uma ficção e sim uma realidade, infelizmente.
Além de estarmos suscetíveis ao perigo de uma alimentação vegetal carregada de substâncias nocivas à nossa vitalidade, chega a vez dos alimentos transgênicos – ou, como alguns críticos dessa cultura os chamam, alimentos Frankenstein. A intenção das empresas que criam e comercializam os transgênicos é a mesma da comercialização de agrotóxicos: aumentar a produtividade da lavoura resultando no aumento da oferta de alimentos. Porém, não é isso que ocorre na prática.
Os organismos geneticamente modificados (OGM) possuem duas categorias: os cisgênicos e os transgênicos. Os cisgênicos são alimentos manipulados entre os da própria espécie, com cruzamentos e alteração genética. No caso dos transgênicos, utiliza-se genes de outros vegetais e até genes animais. A implementação dos OGM é polêmica, pois não sabemos quais os impactos destes alimentos a longo prazo.
O Bt é uma tecnologia que utiliza os genes da bactéria Bacillus thuringiensis, que confere ao milho e à soja a proteção contra as lagartas que se alimentam de suas folhas e brotos, sendo desnecessário o uso de pesticidas para o combate. A técnica pode ser benéfica por não usar agrotóxicos, mas as plantas submetidas tornam-se tóxicas e matam insetos não-alvo, desequilibrando o ecossistema.
A engenheira agrônoma Ana Primavesi, pioneira da Agroecologia no Brasil, afirma em sua pesquisa que as proteínas implantadas, as plantas da tecnologia Bt ficam invulneráveis aos parasitas. Porém, a longo prazo, os efeitos de proteção se enfraquecem. Desse modo, é necessário que se aplique agrotóxicos em 27% nos cultivos Bt. A proteína tóxica não seria o bastante para defender as plantas deficientes em nutrientes.
Em 2014, houve resistência de lagartas contra as plantas transgênicas Bt, na cidade de Campo Verde (MT). Ao comprar sementes de plantas Bt com o objetivo de economizar com agrotóxicos, acabaram por descobrir resistência das lagartas e ter um prejuízo com o gasto inesperado. Essas companhias vendem gato por lebre, ou melhor lagarta.
Existe também o risco de polinização cruzada, que poderá provocar mutações em espécies vegetais nativas com resultados desconhecidos. Assim, o uso dos OGM não garante plantas resistentes aos insetos, aliás, estas plantas ficam mais tóxicas e os consumidores ingerem alimentos que potencializam o surgimento de doenças cancerígenas. E seria, portanto, mais um motivo pra não consumir esses tipos de alimentos, se é que podemos chamá-los assim.
Visão a curto prazo
O motivo que faz o agronegócio hegemônico usar estas tecnologias nefastas ao ecossistema é o lucro em detrimento a saúde e do ecossistema. Em um seu estudo realizado na Universidade de São Paulo, o especialista em Agronomia Luiz Carlos Demattê constatou que a agricultura convencional despreza a relação íntima e dependente com a natureza, usando seus recursos com um viés produtivista, exploratório e de curto prazo, não sustentável. O uso de nitrogênio, por exemplo, prejudica a fertilidade dos solos, favorecendo a desertificação de áreas férteis, e se torna responsável pelas mudanças climáticas no planeta.
Diante do quadro grave relacionado aos casos citados acima referentes às consequências cruéis que os agrotóxicos e os transgênicos causam para a natureza, na qual nós estamos incluídos, devemos procurar alimentos verdadeiramente saudáveis,. A internet possibilita encontrar locais de venda de alimentos orgânicos, produzidos sem agrotóxicos e de forma sustentável. Com o consumo destes produtos estamos respeitando a natureza. Esses alimentos são, em geral, mais caros. Porém, o que será realmente dispendioso serão os gastos com a saúde a médio a longo prazo, ao se consumir alimentos que mais adoecem do que nutrem. Caso a população não se conscientize sobre essa questão, nem saúde e alimentos terá.
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