25 jun Aperte os seus cintos e redobre a atenção ao dirigir
Imagine um país em que pelo menos 13,4 milhões de cidadãos estão desempregados. O Produto Interno Bruto (PIB) tem o seu primeiro resultado trimestral negativo em três anos. O número de homicídios por arma de fogo, principalmente entre jovens, apresentou um aumento de pelo menos 6,8% entre 2016 e 2017. Seria prudente esperar que o governo federal se preocupasse com as questões relacionadas a esses dados, certo?
No entanto, o Presidente Jair Bolsonaro (PSL) e sua equipe optam por ignorar qualquer pesquisa, fundamentada em dados concretos, na mesma medida em que desprezam a educação e a ciência. Em quase seis meses de governo, Bolsonaro se preocupa em estabelecer políticas ainda mais nocivas para a população.
No começo de junho, enquanto deputados discutiam em um seminário a reforma da previdência, a principal bandeira do governo, o presidente da república foi pessoalmente até a Câmara Federal entregar um Projeto de Lei (PL) que altera diversas pontos das leis de trânsito. Vale lembrar que um presidente só vai pessoalmente na câmara pedir pela aprovação de um projeto quando esse é de extrema importância, o que prova mais uma vez a falta de parâmetros de Bolsonaro.
A PL apresentada, propunha, entre outras coisas, dobrar o número de pontos necessários para que um motorista irresponsável perca sua Carteira Nacional de Habilitação (CNH); extinguir os exames toxicológicos exigidos para motoristas profissionais; aumentar validade da CNH e acabar com a multa para motoristas que transportam crianças menores de sete anos sem cadeirinhas de proteção.
As propostas de Bolsonaro dão aval para que esses motoristas possam ser totalmente imprudentes, colocando as suas vidas, as dos seus filhos e de terceiros em risco. Uma vez que o uso da cadeirinha diminuiu em pelo menos 12,5% as mortes de crianças no trânsito, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Mesmo com a diminuição de mortes de crianças no trânsito, dados do DataSus apontam que mais de 40% das mortes de crianças nas estradas acontecem dentro dos carros. Ou seja, caso o projeto seja aprovado, esse número ainda pode aumentar. Entre 2016 e 2016 foram registrados 37 mil mortes no trânsito. Cerca de 60% dos leitos de hospitais eram ocupados por vítimas de acidentes, números esses que representam uma queda desde a implementação do código de Trânsito Brasileiro, de 1997. Se, com leis mais firmes tivemos tantas vítimas na estrada, imagine dividir espaço com motoristas descuidados que acumulam pontos na carteira e que não passam por exames toxicológicos para comprovar a capacidade de continuar dirigindo.
Todavia, essa situação não parece ser uma preocupação do presidente, que no fim das contas parece legislar em causa própria, uma vez que sua família acumulou mais de 44 multas de trânsito nos últimos cinco anos, principalmente por excesso de velocidade. Voltando ao que deveria ser prioridade para o governo, não vemos saída desse labirinto que nos encontramos. Em meio a uma horda de desempregados, uma economia que adormece, um cenário de violência, desconsideração pela educação e pelo desenvolvimento nacional, Jair Bolsonaro continua executando seu aparente projeto de governo: o de um país sem perspectivas, regado a sangue e ódio.
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