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Aumento do suicídio reforça a importância de campanha “Setembro Amarelo”

Suicídio entre universitários pode revelar problemas sociais

Autoria: Gabriel Souza e Ítana Santos

“O suicídio é um ato de comunicação. A pessoa comunica em morte o que ela não conseguiu comunicar em vida” , Suicidologista Dra. Karina Okajima Fukumitsu | Foto: CVV

Hoje, o aumento da incidência de suicídios na população jovem é um fenômeno mundial no âmbito da de saúde pública. No Brasil, local em que 3 pessoas se suicidam a cada 45 minutos, o suicídio é o segundo fator que mais mata adolescentes no país. No último ano, houve pelo menos seis tentativas de suicídios na Universidade de São Paulo (USP), enquanto no segundo semestre de 2016, um aluno da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) tentou cometer o mesmo ato.

Segundo pesquisas divulgadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o meio estudantil, principalmente relacionado ao Ensino Superior, é um grande agravante nas reincidências de casos. Estima-se que no mundo há 800 mil casos de suicídio e, deste modo, uma morte a cada 40 segundos.

Números tão altos mobilizam estudos acerca da temática. Rafaela Cyrino, Doutora em Sociologia e professora adjunta do Instituto de Ciências Sociais (INCIS) da UFU, sugere olhar para além das particularidades de cada caso. “É importante tentar compreender as causas deste aumento, visto que pode indicar problemas sociais, advindos, por exemplo, da falta de perspectiva sentida pelos jovens, da falta de confiança em si mesmos, em um estilo de vida extremamente individualista e competitivo, entre outros”.

 

Saúde pública

 

Segundo a OMS, nove a cada 10 casos de suicídios possuem prevenção, mas devido aos estigmas, tabus e falta de prevenção social as vítimas não são salvas a tempo. No que diz respeito às formas de intervenções, a rede pública de saúde tem poucos serviços e  profissionais com baixa capacitação no assunto.

Desde 2015, o mês de setembro é dedicado a atividades de prevenção ao suicídio no Brasil. A criação da campanha do Setembro Amarelo é uma tentativa de fazer com que se quebrem algumas barreiras quanto à discussão sobre suicídio, para que seja possível combatê-lo. O início do movimento no país foi dado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

No Ranking Mundial, o Brasil ocupa a oitava posição nos casos de suicídio, sendo o país com maior número de pessoas com transtorno de ansiedade e o quinto em número de pessoas com depressão. Rafaela considera que o suicídio pode ser um sinal de que algo não vai bem na vida em sociedade. Sobretudo em casos de suicídio ocorrentes entre pessoas jovens que, supostamente, ainda possuem uma vida inteira pela frente.

Para a docente, é papel da universidade contribuir para a compreensão destes fenômenos sociais, que não podem ser compreendidos apenas pela problemática pessoal do indivíduo. Além das questões individuais , a docente propõe uma reflexão: “De que forma a vida em sociedade contribui para o crescimento deste fenômeno?”.

Terapia

 

Na busca de um método para diminuir os casos e melhorar a situação de saúde mental dos estudantes, são feitas orientações psicológicas na UFU. O serviço de apoio psicológico contribui como um espaço de escuta para o estudante em sua singularidade e necessidades específicas. Um dos objetivos é ajudá-lo a refletir sobre o impacto do sofrimento psíquico em sua vida pessoal e acadêmica. Tudo isso de acordo com Valéria Paiva Casasanta, psicóloga. Para ela, os encontros de orientação e acolhimento possibilitam aos profissionais de saúde fazerem os encaminhamentos necessários de acordo com as especificidades de cada caso, além de fornecerem dados importantes sobre a realidade institucional.

No que diz respeito a este atendimento, é feita uma orientação ao universitário; se ele for bolsista, tem direito a quatro encontros, caso contrário, apenas um. Ao término dos atendimentos, é feito um redirecionamento para o SUS. Este é um empecilho para grande parte dos estudantes, devido à mobilidade. Outra questão evidente é que o curso de Psicologia da UFU não faz este atendimento aos estudantes, dando assistência somente à comunidade externa da universidade de Uberlândia.

Ao analisar o acompanhamento psicológico da UFU, a estudante de Jornalismo Milena Félix de Souza relata sobre sua experiência desde o contato com o sistema até o encontro com a psicóloga. “O sistema é muito burocrático e poucas pessoas sabem sobre esse atendimento”, afirma a estudante. E chama a atenção para a situação: “é muito preocupante, porque realmente os alunos da instituição são muito sobrecarregados e é necessário um acompanhamento psicológico”.

Ainda sobre o atendimento psicológico na instituição, Valéria afirma: “O acolhimento psicológico é realizado em até quatro sessões e tem como objetivo principal auxiliar o estudante a lidar melhor com as dificuldades emocionais que apresentam reflexos em sua vida pessoal e acadêmica”. Para ela, a saúde do estudante precisa ser vista além dos aspectos físicos, pois existe uma relação indissociável entre emoções e corpo.

CVV COMUNIDADE

É um programa de apoio emocional mantido pelo Centro de Valorização da Vida.  Visa apoiar as pessoas com necessidade de ajuda emocional e em locais e situações de risco, ajudando-as a lidar com as realidades cotidianas e inesperadas em qualquer lugar da comunidade.

O CVV possui diversas plataformas de comunicação | Foto: CVV

Ítana Santos
itanaluzia@gmail.com
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