
20 out Centro de reabilitação pós-covid em Uberlândia é primeiro em MG
Ana Victória Moreira e Júlia Vidotti
A recuperação da COVID-19 não se encerra com a alta hospitalar. No processo de recuperação são observadas sequelas como fraqueza muscular e respiratória, fadiga, alterações de sensibilidade e, até mesmo, saúde mental prejudicada. A Prefeitura de Uberlândia, observando a necessidade de um tratamento específico para esses pacientes, criou o Centro de Reabilitação Pós-Covid (CRPC). Denominado Centro Vida, o espaço foi inaugurado no dia 10 de agosto, na área central de Uberlândia.
O Centro Vida é o primeiro local de Minas Gerais com o atendimento dedicado exclusivamente à reabilitação de pacientes com Covid-19 que, apesar da alta hospitalar, ainda precisam de acompanhamento profissional. O local atende uma média de 180 pacientes por mês e conta com o trabalho de uma equipe formada por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais, dentistas, nutricionistas, enfermeiros e médicos.
A Conexões conversou com a coordenadora da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência vinculada ao Ministério da Saúde e fisioterapeuta do Centro Vida, Marcella Furtado de Souza, que deu mais informações sobre o projeto e compartilhou um pouco de sua experiência.
O Centro Vida está localizado no centro de Uberlândia, na avenida Rio Brando, número 49, e funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h.

Marcella Furtado, coordenadora da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência vinculada ao Ministério da Saúde e fisioterapeuta do Centro Vida/ Arquivo pessoal.
Conexões: Em quais casos pessoas que tiveram Covid precisam de um tratamento de reabilitação?
Marcella Furtado: O que é observado é que muitos ficam com sequelas respiratórias e com a questão pulmonar bem comprometida. Dessa forma, nós fazemos o condicionamento físico e trabalhamos com a questão da reexpansão pulmonar. Existem pacientes que fazem uso de oxigenioterapia, nós também acompanhamos. Assim como os casos psicológicos ligados à reabilitação, como quando o paciente fica com sequelas motoras, dificuldade para andar ou para realizar as atividades diárias. Normalmente tratamos as sequelas motoras, respiratórias e também associadas às questões psicológicas, como dificuldade de alimentar, de deglutição.
Conexões: Como acontece o encaminhamento do paciente ao Centro?
MF: Nós temos duas portas de entrada: uma pelo hospital municipal e outra pelos serviços públicos que internam pacientes e possuem uma agenda direta com o Centro Vida. Na alta, os pacientes são comunicados sobre o dia e o horário que serão atendidos no Centro. Nós liberamos uma agenda diária e, assim, conseguimos ter vagas todos os dias de avaliação para os hospitais. Caso ele tenha alta do serviço particular ou da Universidade Federal de Uberlândia, a porta de entrada é pela atenção primária – que são as unidades básicas de saúde. Essas unidades básicas possuem um questionário que chamamos de “Ficha Funcional de avaliação pós covid” e, com base nessa avaliação, a equipe compartilha com o Centro Vida para fazermos a gestão do caso. Assim, não é através de fila e nem o usuário procura diretamente, pode ser qualquer profissional da saúde de nível superior. No momento, nós não temos fila de espera porque temos feito um esforço para atender todos os usuários, todos os dias temos vagas disponíveis para esses hospitais e para a equipe da avaliação primária.
Conexões: Qual o perfil dos pacientes?
MF: As sequelas são variadas e o perfil dos pacientes também. Temos pessoas jovens que tinham uma vida ativa, não tinham comorbidades e que, a partir da covid, perderam força muscular, emagreceram muito, alguns chegam a perder até 30 kilos durante a internação. Há também muitos casos com a parte pulmonar comprometida em que o paciente não tinha nada antes da covid e hoje usa oxigênio.
Conexões: Já é possível perceber melhorias nos pacientes desde o início do trabalho?
MF: Embora as sequelas sejam graves, a melhora é muito rápida, com a equipe multidisciplinar fazendo o acompanhamento, as melhorias têm sido bem rápidas e muitas pessoas [que] chegaram em cadeira de roda, já tiveram alta e estão andando. Muitos pacientes que estavam com falta de ar, custando para falar, hoje já correm na esteira, vivem normalmente.
Conexões: Quando o paciente pode receber alta?
MF: Quando os profissionais identificam que já houve uma melhora significativa. Eles entram em contato com a unidade de saúde de referência dessa pessoa e já agendam um retorno para ela dar continuidade em um acompanhamento na unidade em que a pessoa mora. Ele não simplesmente tem uma alta e é desligado, eles compartilham o caso, explicam como o paciente está, sua evolução e o tipo de acompanhamento que precisa ser feito. Antes da alta, o instrumento que utilizamos no dia da avaliação, a gente reaplica para pontuar o quanto ele melhorou.
Conexões: Como ficará o Centro Vida quando a crise sanitária for dada como controlada?
MF: A ideia do Centro Vida é que seja um serviço permanente, nós vamos continuar atendendo sequelas pós-covid, até porque alguns pacientes têm alta e, depois de algum tempo, desenvolvem esse tipo de sequela e precisam de acompanhamento. Nós também [fazemos] acompanhamos pacientes que fazem uso de oxigenoterapia domiciliar prolongada, independente do covid. Tem casos que são em funções restritivas, obstrutivas como bronquites, enfisema, que chamamos de DPOC [doença pulmonar obstrutiva crônica] e também quando houver uma reeducação nos casos de reabilitação pós-covid. Vamos atender reabilitação de pós operatório de cirurgia cardíaca e vascular e casos de internação que a pessoa precisa da reabilitação cardiorespiratória pulmonar, por exemplo, um caso de pneumonia.
Conexões: Existe alguma experiência que você gostaria de compartilhar?
MF: Teve um caso que nos emociona muito, tanto a mim quanto a toda equipe. Um usuário que chegou, relativamente jovem, na casa dos 30, chegou com muita dificuldade para caminhar até a recepção devido a falta de ar, que era tão grande que ele tinha que parar de um em um metro para sentar e respirar, ele demorou uns 15 minutos para chegar na recepção. A equipe já se preparou, se mobilizou para atender, foi avaliado que ele precisava fazer uso de oxigênio porque a saturação dele estava muito baixa, qualquer movimento que ele fazia a queda era brusca. Imediatamente foi feito um exame, fizemos a avaliação, emprestamos um equipamento chamado de concentrador de oxigênio para ele levar para casa, porque ele não tinha como ir embora daquela forma. Isso foi em uma sexta, passamos o final de semana acompanhando por telefone, monitorando, e segunda foi iniciada a reabilitação dele. Hoje [dois meses após o tratamento] ele está bem, está fazendo uso de uma dosagem muito baixa de oxigênio, tem grandes chances dele parar de usar o oxigênio. Ele voltou a trabalhar, não sente mais falta de ar, tem uma vida totalmente independente agora. Ele usa o oxigênio só quando faz alguma atividade mais rigorosa. Ficamos muito felizes de ver a evolução dele, e o quanto ele melhorou e a gente teve uns três casos bem parecidos. Todos os dias nós temos feedbacks dos pacientes para agradecer o trabalho.
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