Observatório Luminar
Luminar é um observatório de mídia voltado para o acompanhamento sistemático da cobertura jornalística sobre políticas públicas. Acesse clicando aqui

Clarice: cineasta, estudante e mãe

 “Eu perco um pouco de atenção na aula. Mas, ao mesmo tempo, eu ganho tempo na relação com minha filha”, comenta Clarice Bertoni durante nossa conversa sobre maternidade e graduação. Ela é mãe de Mariana, de 4 anos, e estudante do primeiro período de Jornalismo da UFU. A universidade para ela não é novidade. Formada em Cinema pela Estácio de Sá no Rio de Janeiro, sentiu vontade de retornar para a sala de aula e enxergou no Jornalismo a oportunidade de um mercado mais amplo.   

“Eu parei minha vida por causa da faculdade e da Mariana,

então eu preciso me dedicar o máximo

possível”, declara Clarice. Foto: Arquivo Pessoal

 Nesta segunda graduação, Clarice precisou contornar algumas pedras no seu caminho. “Eu não sabia que o curso era integral porque na outra faculdade era noturno. Minha intenção era deixar ela [Mariana] com o pai e iria vir pra faculdade”. Os caminhos não seguiram como planejado. Por estudar apenas à tarde, Mariana precisaria ficar com alguém na parte matutina, pois as aulas de Clarice ocupam quatro das cinco manhãs da semana. 

A solução seria uma creche dentro da universidade ou qualquer outro tipo de assistência. No papel isso é possível, pois foi aprovada, no fim de 2015, uma resolução que garantia bolsa de auxílio creche para alunos com filhos menores de 6 anos. Dentre os discentes matriculados nos cursos presenciais da UFU, 7% possuem crianças nessa faixa etária.

 

Entretanto, atualmente isso não funciona na prática. No edital divulgado esse semestre, a bolsa de auxílio creche não consta na lista. Ao enxergar essa defasagem da universidade, Clarice conversou com os professores e pediu que Mariana pudesse assistir às aulas. “Todos foram bacanas. Teve até uma professora que disse: ‘se alguém reclamar, você me fala, porque eu criei três filhos na faculdade’”.

  “Eu pensei em colocar ela numa escola integral, mas fiquei com dó por ela passar 12 horas numa escola. Além de também atrapalhar nossa  convivência ”, comenta a discente. Foto: Laura Fernandes | Agência Conexões Mariana vem todos os dias com a mãe para a universidade. Clarice comenta que, por ela acordar muito cedo, normalmente a criança acaba dormindo nas aulas. Mas de algumas delas, acaba participando. “Na aula de Economia, o professor usa Mariana como exemplo para falar sobre micro e macroeconomia. É a aula que ela mais gosta”, comenta a discente.

 

Clarice conta que não tem grandes problemas durantes as aulas porque Mariana tem quatro anos, “mas tem dias que ela tá a mil e eu tenho que ir pro corredor durante uns dez minutos”. Para ela, se fosse um bebê, a situação seria diferente e teria mais dificuldades para conciliar maternidade e graduação.

 

Clarice comenta que tem o apoio do pai de Mariana, mas sabe que isso não acontece com todas as mães que estão na universidade. “Ele divide a escola comigo. Mas e o caso de uma mãe que isso não acontece? Se ela parar a faculdade para cuidar da criança,  vai ficar mais difícil ainda depois resgatar os estudos e, posteriormente, se inserir no mercado de trabalho”.

 

Agência Conexões
agenciaconexoes@gmail.com
No Comments

Post A Comment