12 jul Comunicação aliada à Educação Ambiental é caminho para a conservação
É possível pensar uma relação entre Educomunicação, Comunicação e Meio Ambiente ao se observar a Educação Ambiental: uma linha educativa preocupada com o desenvolvimento de cidadãos responsáveis com o Meio Ambiente. No Brasil, uma das ações que envolvem o assunto é a Lei n° 9795, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, em 1999. A integração entre Educomunicação e Educação Ambiental pode ser observada no Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), que proporciona meios interativos e democráticos para que a sociedade produza conteúdos e dissemine conhecimentos através da comunicação ambiental voltada para a sustentabilidade.
Diálogo
A entrevista com Mauro das Graças Mendonça – doutor em Educação Ambiental e professor do curso técnico em Meio Ambiente no Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM), campus Uberlândia – ajuda a entender como a Comunicação contribui com a Educação Ambiental.
Mauro acredita que a informação tem papel importante no processo de conscientização ambiental | Foto: Carol Santos.
Conexões: Qual é a sua visão da realidade ambiental de Uberlândia?
Mauro: Eu percebo que, ao longo dos últimos 30 anos, houve uma grande evolução na parte legal e estrutural. Uberlândia foi a primeira cidade no interior de Minas Gerais a ter uma Secretaria do Meio Ambiente e, hoje, está estruturada do ponto de vista da gestão dos órgãos públicos. E tem muita coisa interessante acontecendo na cidade. Por exemplo, tanto o tratamento de água e esgoto quanto o de resíduos sólidos são exemplos no Brasil, o que leva a uma repercussão. E, paralelamente, a ideia de Meio Ambiente disseminou-se entre a população – na teoria. Na prática, no entanto, vemos pouca coisa: seja com a separação de resíduos sólidos ou com a coleta seletiva. Muitos não entendem a importância da situação ambiental no município. Então, vejo que há um discurso grande, mas a prática ainda deixa a desejar. Vejo também muito amadorismo nesta área do Meio Ambiente. Muita gente que faz com o coração desprovido de razão, outras amadoristicamente e outros de forma mediana.
Conexões: A Educação Ambiental é transdisciplinar?
Mauro: Sim. Ela envolve uma gama muito grande de conhecimento e de formações. Se ficar limitada à informação, ao discurso político de sensibilizar, ela funciona com muita restrição.
Conexões: Na Política Nacional de Educação Ambiental, há um inciso que fala sobre a importância da contribuição da comunicação em massa e outro que fala sobre a importância das instituições educativas. Você acha que a comunicação em massa faz a sua parte na Educação Ambiental?
Mauro: Talvez, no meio televisivo, possa até fazer. Mas são flashes. E as pessoas ficam encantadas durante os cinco segundos nos quais estão assistindo. Mas eles são insuficientes para introjetar nas pessoas as mudanças necessárias. Então, precisamos falar de mudanças de hábitos culturais, tanto no âmbito geral quanto particular. Eu estou dizendo que a comunicação é insuficiente, mas necessária – ela é, atualmente, falha. Se observarmos os sites dos órgãos públicos, não há uma linguagem que atinja o cidadão; é difícil encontrar as informações desejadas: precisamos de mapas, links. De vez em quando, os meios de comunicação em massa fazem uma campanha, por exemplo, para recolher os reciclados, mas não é algo permanente. É pontual, efêmero. E não cumpre com o objetivo de criar hábito. As pessoas se esquecem.
Conexões: Qual é o papel da mídia e do Estado nesse processo?
Mauro: Para muitos, o entendimento de Meio Ambiente vem só da mídia – mas para esta introjetar na pessoa o hábito, é muito difícil. Muitas vezes, ela não tem como atingir a instituição, apenas o indivíduo. Cabe então ao Estado lidar com as instituições. Os papéis devem ser divididos: a mídia ataca o indivíduo, subsidiando-o com informações de qualidade e exemplos; e as instituições atingem os órgãos públicos.
Tem-se que atacar o individual e o coletivo. E aí, no Brasil, as instituições falham. Não é só a escola que traz a postura ambiental, também a instituição familiar contribui para isso. Se família, escola ou demais instituições não tratam da situação ambiental, o indivíduo fica à deriva. Para essa mudança cultural ser efetiva, a gente tinha que atacar o indivíduo – entra em cenário a informação de massa –, mas também a instituição via gestão. E aí vem uma frase que eu uso muito: a gestão ambiental e a educação ambiental são complementares e indissociáveis.
Conexões: Você poderia comentar mais sobre essa complementaridade entre gestão e educação ambiental? Há um espaço de diálogo entre comunicação, educação e meio ambiente?
Mauro: Em síntese, para mim, a sustentabilidade é a meta; o objetivo que o planeta se mantenha para relações futuras. Começamos com educação e gestão ambiental. Quando eu falo de educação, quero promover o cidadão, mas, quando abordo a gestão, sou pragmático: falo de gerir, de acompanhar. Indivíduo e instituição, gestão e educação: dualidades que caminham juntas. Preciso de sensibilização, gestão ambiental, informação de qualidade – que atenda públicos variados –, conscientização. A pessoa tem que criar uma consciência a partir da informação. Assim, começa-se a transformar valores, atitudes e ações, planejamento. Pensa-se numa escala local e global, no lugar onde eu trabalho e na minha casa. Pensar e agir localmente e globalmente.
É um processo contínuo e permanente. Quando falo isso, são os 365 dias do ano. É lógico que, num dia ou outro, será mais forte, mas eu não posso interromper o ciclo. As pessoas interrompem porque esquecem. É necessário criar políticas e mostrar os resultados para incentivar as pessoas a fazerem mais. Assim, leva-se a mudança organizacional, institucional e cultural. Nunca sabemos se o ciclo durará um, dois ou dez anos até que vejamos resultados, mas o importante é que ele não pare. Essa é minha visão de educação ambiental associada à gestão. Se eu dissociá-las, estarei trabalhando com sonho, utopia. Precisamos da espiral educação, comunicação, meio ambiente e um quarto poder: a gestão.
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