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COVID-19 afeta indígenas desaldeados do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba


No Brasil, a pandemia afetou grupos negligenciados pelo poder político de uma maneira muito mais grave. Aqueles que são historicamente invisíveis não foram contemplados com políticas públicas e assistência adequadas à sua situação, dentre eles, é possível citar a população negra, pessoas periféricas e indígenas. Na região do Triângulo Mineiro não foi diferente: povos que já sofriam com a falta de reconhecimento continuaram a não ser prioridade das autoridades e do Governo, mesmo estando em situação de risco.

De acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), os povos indígenas são mais vulneráveis a viroses, especialmente a infecções respiratórias como a COVID-19. Isso ocorre não somente por  imunidade baixa, mas porque, por se encontrarem mais isolados, povos indígenas não são expostos a vírus como as pessoas que vivem em centros urbanos. Entretanto, mesmo se encontrando em situação de risco, esses povos não são priorizados nas campanhas de vacinação. O problema é que  não há um reconhecimento para indígenas como comorbidades prioritárias por parte dos órgãos públicos, mesmo se eles tiverem os documentos que os definem como indígenas, o Registro Administração de Nascimento Indígena (RANI), o que grande parte dos desaldeados não têm.

Para a Cacique do Movimento dos Indígenas não Aldeados do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (MInA), Kawany Lourdes Tupinambá (tendo seu nome brasileiro como Maria de Lourdes Tupinambá), a comunidade dos índios desaldeados foi afetada de forma diferente devido ao fato de estarem em constante movimento migratório. Esses povos foram, ao longo de muitas décadas, forçados a se mudarem de suas tribos de origem, com muitos indígenas se encontrando não apenas na cidade, mas também em assentamentos à beira da estrada.

Kawany Tupinambá, Cacique do MInA, responsável por organizar e orientar os não aldeados do Triângulo Mineiro. Arquivo pessoal da Cacique Kawany

O MInA busca o reconhecimento da origem étnica daqueles que não se encontram em suas comunidades ancestrais, porém, também exercem doações de refeições não apenas para indígenas, mas para todos aqueles em situação de vulnerabilidade. Segundo Kawany, são entregues cerca de 400 a 500 marmitas por dia aos que necessitam na cozinha comunitária do bairro uberlandense Glória. A cacique explica que essas ações são necessárias pois não houve uma assistência aos indígenas por parte do Governo durante a pandemia, fora o auxílio emergencial.

Por ser a voz de liderança do movimento, Kawany ficou encarregada de fazer um levantamento do número de indígenas para quando a hora da vacinação desses povos chegar. Entretanto, ela revela que muitos têm medo de tomar a vacina e já declararam que não passarão seus nomes para o levantamento, em razão das fake news. Para ela, o Governo deveria utilizar de políticas públicas para atuar na conscientização de indígenas, além de promover um atendimento específico a eles, como levar as vacinas até as aldeias. Até então, ela não contabilizou a morte de nenhum dos não aldeados do Triângulo Mineiro, apesar da situação de precariedade e da falta de acesso a serviços de saúde.

Anna Júlia Lopes
annajulialrodrigues@gmail.com
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