Observatório Luminar
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Crescimento do empreendedorismo revela escassez e fragilização do mercado formal

O empreendedorismo tem sido uma iniciativa muito estimulada no Brasil nas últimas décadas. As redes sociais estão lotadas de exemplos de iniciativas bem sucedidas e dicas de como alcançar sucesso. Porém, apesar do crescimento, ainda são poucas as políticas públicas, com enfoque nno apoio financeiro a empreendedores e empreendimentos. 

Há iniciativas que visam o apoio tecnológico e de inovação e

uma preocupação de que estas políticas atendam a grupos específicos e ao empreendedor de maneira geral. Exemplo desse tipo de preocupação é  o Inova Uberlândia, programa criado por uma legislação municipal de 2017 para ampliar o incentivo de empresas de base tecnológica e fortalecer a competitividade na oferta de serviços de tecnologia das iniciativas locais. 

Uberlândia também é conhecida como a segunda cidade com o maior número de empresas abertas em Minas Gerais. Para a propaganda oficial, esse número  demonstra que o município é exemplo no incentivo ao empreendedorismo, porém ele pode também ser lido um indicativo que os uberlandenses estão em processo de recomposição de renda, impulsionados pela crise econômica instaurada no país e pela queda dos empregos formais

Além disso, muitos se vêem obrigados a abrir uma empresa para se encaixarem no mercado até mesmo pelo processo de pejotização já discutido na Conexões.  Esse é o caso do estudante de jornalismo Edivaldo Carvalho, de 21 anos, que se viu obrigado a abrir uma MEI para se encaixar no mercado de trabalho dentro das contratações disponíveis. O jovem faz parte de uma tendência, como aponta o relatório da DataHub que indica um crescimento do número de MEIs entre jovens de 18 a 24 anos, devido a pejotização das profissões. Ele relata: “Todos os serviços que consegui até hoje foram ou em estilo freelancer ou oportunidades PJ, então, não tive escolha, tive que abrir para conseguir trabalhar” 

É nesse cenário de necessidade de se realocar no mercado e recompor a renda mensal, que muitos brasileiros partiram para o empreendedorismo. De acordo com o Sebrae, o Brasil registrou mais de 3,9 milhões de novos empreendimentos formalizados como micro e pequenas empresas (MEIs), um crescimento de 19,8%. A contrapartida desse crescimento é uma redução acentuada na oferta de postos de carteira assinada, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados no final de novembro. 

Ed, como é conhecido em seu círculo de amigos,sentiu na pela essa redução de oferta de vagas CLT. O estudante relata sobre a experiência de uma entrevista de emprego que participou achando que seria em regime CLT e, ao recrutador direcionar as perguntas, percebeu o interesse da empresa no fato dele possuir um CNPJ. 

Foi assim também que Edivaldo, limitado em suas opções, começou a empreender junto ao seu colega de classe na universidade Kauê Altrão. Ambos, indignados com a falta de empregabilidade e com a necessidade de recompor a renda mensal, decidiram montar um e-commerce para poderem se ajudar em meio a tantas dificuldades. Nesse e-commerce tinham como intenção vender produtos e serviços ligados ao jornalismo, como fotografia. 

Kauê relata que achou uma boa ideia e iniciar sua vida de empreendedor com seu melhor amigo, e enfatiza como as redes sociais foram um impulso a mais para tomar a decisão de abrir um CNPJ. “Para mim, foi ótimo abrir um negócio com meu amigo, consegui unir o útil ao agradável. A universidade consome muito do meu tempo e com uma empresa aberta, tenho possibilidade e flexibilidade. Além disso, as redes sociais sempre apontaram que esse é o futuro promissor, né?”

Kauê relata que o empreendedorismo dele e do colega se mostrou muito promissor em primeiro momento devido ao apoio de outros amigos, de pais e colegas de graduação. Porém, não tiveram muito sucesso vendendo produtos, os serviços que vendiam, como produção fotográfica, eram muito mais procurados e muito mais rentáveis também para a dupla. Além disso, o compromisso que firmaram ao comprar produtos e revender, de acordo com ele, era muito pesado e não conseguiram cumprir. Decidiram parar com produtos e seguiram apenas com serviços. 

“Eu ainda tenho vontade de empreender com produtos, mas é um trâmite muito difícil, envolve muita burocracia que, muitas vezes, por conta da faculdade, não é possível dar conta.” explica  o estudante. 

Nesse cenário, a dupla continua com seu CNPJ aberto e com o empreendedorismo na veia, porém, foca na venda de serviços. O que fica de lição para todos aqueles que desejam empreender mas ainda não sabem do tamanho da responsabilidade e burocracia que vão enfrentar. 

Empreender é uma ótima escolha, principalmente no cenário econômico que o Brasil se encontra. No entanto, é preciso estar atento às razões pelas quais tantas MEIs estão sendo abertas, assim como quantos empreendedores vêem no próprio negócio a única saída para obter uma renda e fugir do desemprego. 

Essa ambiguidade dos números, que parecem demonstrar o aumento do empreendedorismo, porém revelam mais um mercado de trabalho escasso e precarizado, pode ser compreendida se observarmos que muitas MEIs também estão sendo fechadas. Segundo dados do Sebrae, em 2021 os comércios de roupas e acessórios formaram a categoria que mais fechou registros de MEI – cerca de 71,6 mil, uma alta de 32% em relação ao ano anterior, quando foram 48.457. Isso aponta que muitos empreendedores voltaram para o regime CLT e o caso da dupla entrevistada pode ser exemplo do motivo dessa desistência: responsabilidade, burocracia e administração. 

Empreender é sinônimo de administrar, gerenciar e lidar com muitas responsabilidades que, muitas vezes, não estão presentes no mercado de trabalho formal ou prestações de serviço, o que explica também o fechamento de tantas MEIs. “Empreender não é uma tarefa fácil, eu passo por poucas e boas para manter meu negócio vivo”, conta Daniele Galassi Rocha, dona de uma loja virtual de roupas. Daniele diz que para estar empreendendo é preciso ter consciência de controle financeiro e não dar o passo maior que a perna, é importante estar atento a todos os detalhes sempre. 

Agência Conexões
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