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Crises psicológicas na graduação: a realidade de quem sofre

Diversos fatores podem contribuir para o quadro de crises psicológicas na graduação, dentre eles estão: a cobrança, a pressão por cumprir prazos e metas, sobrecarga, ambientes marcados por extrema competição entre colegas, relações abusivas entre professor e aluno. “Me sinto inferior, existe uma disputa muito grande na sala de aula; e isso se acentua ainda mais devido à pressão imposta pelos professores”, enfatiza Paula Assunção, estudante de Engenharia Biomédica na Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

 

                    “Me sinto desamparada dentro da universidade”, conta a estudante Paula Assunção. Foto: Anatália Amorim| Agência Conexões

 

Com 20 anos, ela faz parte da realidade de 70% dos estudantes que vivenciam alguma dificuldade emocional, segundo o ‘Perfil do Graduando’ da UFU, realizado em 2014. Paula conta que a faculdade a faz sentir-se incapaz. “Me sinto sem ânimo para sair, para praticar exercícios e sinto menos vontade ainda de frequentar às aulas”, declara.

 

Natural de Ibiá, cidade localizada no interior de Minas Gerais, conta que nunca imaginou a faculdade como sendo um mar de flores, ainda que a ideia de morar longe dos pais seja o sonho da maioria dos jovens, o que para ela não era diferente. Como cursou o ensino médio em outra cidade, já conhecia a realidade de morar só. Porém, quando iniciou a graduação, percebeu que as experiências vivenciadas no ensino médio não representavam muito bem o que encontraria na faculdade.

 

As dúvidas e questionamentos são muito presentes na vida de Paula. Tais indagações vão além do conteúdo da graduação, pois, muitas vezes, ao não obter um resultado proporcional ao seu esforço, começa a se perguntar: ‘Estou no curso certo?’, ‘Isso é realmente o que eu quero?’, ‘Será que conseguirei aprender essa matéria?’, ‘O que há de errado comigo, já que tantos outros conseguiram um bom resultado?’, ‘Estudei o suficiente?’. “Essas inseguranças e incompreensões refletem nas outras áreas da minha vida, inclusive na esfera pessoal. Não tenho ânimo, nem vontade para sair, e quando o faço é sempre com a preocupação de que devia estar estudando”, afirma a estudante.

 

Na UFU existe um setor responsável pelo atendimento psicológico, a Divisão de Saúde (DISAU). Entretanto, para a estudante, a forma como tratam o tema dentro da universidade é insuficiente para suprir as demandas dos discentes. Quando indagada sobre procurar ajuda, diz ter ouvido falar da DISAU poucas vezes, sendo que essas poucas tinham teor negativo. Dessa forma, nunca recorreu ao atendimento oferecido.

 

Paula recorda uma palestra promovida recentemente pela Divisão: “Na palestra ouvi diversas críticas ao atendimento da DISAU. Ouvi também a resposta do setor, o qual relata a pouca importância que tem frente ao reitor”. Para a estudante, é necessário que haja uma cobrança aos superiores, para que vejam com mais atenção as dificuldades que muitos alunos encaram todos os dias dentro e fora da universidade.

 

Essa realidade vivenciada por Paula é similar à de muitos estudantes brasileiros. Em grande parte das universidades públicas, assim como na UFU, as maneiras de buscar ajuda não são divulgadas de maneira correta e abrangente, e o atendimento, na maioria das vezes, é ineficiente. Como salientado pela estudante, a  pouca importância que as questões e políticas de auxílio referentes à saúde mental dos alunos têm frente aos grandes setores, é nítida. Muitas vezes, o estudante perde seu direito e se vê desamparado dentro da universidade, precisando, assim, enfrentar a situação ‘sozinho’.  De acordo com a psicóloga e coordenadora da DISAU, Michele Xavier Falco, a procura dos alunos por atendimento é grande. Michele acredita que é necessária a ampliação do espaço físico e a contratação de mais profissionais para comportar tamanha demanda. “Nos campi de Uberlândia, nós somos apenas 4 profissionais para atender um universo de quase 20 mil alunos”, pontua.

 

A estudante Paula Assunção diz sentir-se desamparada dentro da universidade: “Sei que através do auxílio ‘oferecido’ pela instituição, será difícil conseguir apoio. Conciliar meus horários entre aulas, estudos e ainda tentar buscar um tratamento psicológico através da DISAU se torna quase impossível. Entretanto, apesar de tudo, continuamos”, conclui Paula, com uma aparente pontinha de esperança.

 

A DISAU está localizada no bloco 3E, sala 125 , no campus Santa Mônica da UFU. Atualmente, devido a um processo de reorganização interna da Divisão, os atendimentos estão sendo temporariamente dirigidos somente aos alunos bolsistas da Divisão de Assistência e Orientação (DIASE).

 

Para entrar em contato com a DISAU, as formas de contatos são:

Telefone:  (34) 3230-9558

E-mail: disau@proae.ufu.br

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agência Conexões
agenciaconexoes@gmail.com
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