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Cultura viva, mais que nunca

ARTIGO DE OPINIÃO – Mais que dar nome a um importante projeto do Ministério da Cultura (MinC), Cultura Viva é a descrição perfeita para o setor cultural nos últimos meses. Há muito tempo não se via o movimento tão articulado. As ações fogem ao padrão de estarem concentradas nos grandes centros, elas são nacionais, organizadas e pautadas por diversos pontos, primeiramente, “Fora Temer!”.

 

O movimento começou a partir do primeiro decreto de Temer, a medida provisória 726 de 12 de maio de 2016, que extingue o MinC, vinculando a pasta ao Ministério da Educação (MEC). E a resposta dos agentes culturais foi imediata, ocupações de equipamentos culturais pelo país e manifestações por todo o globo, incluindo o importante Festival de Cannes, que deu projeção internacional para a causa. Não deu outra, o presidente em exercício teve que ceder e recriar a pasta ministerial da cultura, porém, a ação não aquietou os ânimos das manifestações. A recriação do ministério era apenas uma das diversas pautas defendidas pelos ocupantes, que seguiram firmes ampliando cada vez mais o movimento.

Manifestação do Ocupa MinC no Rio de Janeiro. (Foto: Facebook Ocupa MinC RJ/Reprodução)

 

Temer, que parece entender por cultura apenas o estilo parnasiano e anacrônico de escrita, depois da recusa de cinco mulheres, entregou a condução do MinC a um quadro com pouco enraizamento nacional, Marcelo Calero. Mais uma afronta ao movimento das várias ocupações denominadas “OcupaMinC”, que acontecem por todo o país. Em nota, o movimento declarou “Não haverá dialogo, conciliação ou negociação com quem trate com um governo golpista.”, se referindo ao recém empossado ministro da Cultura e ao governo interino de Michel Temer.

 

Não é de se esperar que um parlamentar de bastidores, praticamente um aristocrata, como Temer, tenha noção da importância que as ações do MinC desempenham no país. Que, mesmo com grandes deficiências, principalmente orçamentárias, tem dado uma contribuição civilizatória aos cidadãos e cidadãs brasileiros. Não é de se esperar que o presidente interino entenda que uma orquestra na favela pode afastar muitos jovens da criminalidade, que grupos de teatro de bairro possam oferecer perspectivas inimagináveis a uma criança carente ou que os inúmeros cursos superiores na área das artes tragam importantíssimas contribuições para a sociedade e, para o seu completo espanto, a ciência.

 Talvez sejam esses os motivos pelos quais o presidente e o ministro não tenham entendido o porquê da continuidade e crescimento das ocupações. Por não saberem que a cultura é rede, que a cultura é conexão e que a cultura a cultura é viva, dinâmica e inquieta. Por não saberem que a cultura atravessa a vida humana em todas suas esferas e, quando a esfera da liberdade é ameaçada, não existe corpo dócil, não existe medo. Cultura sim, temer, jamais.  

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