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Da diversidade ao uso de tecnologias: uma conversa sobre educação e ensino

Vamos falar sobre educação? A Conexões conversou com a professora e doutora Valeska Virgínia Soares Souza. Atualmente, ela leciona no Instituto Federal do Triângulo Mineiro, campus de Patrocínio – MG. Sua linha de estudo tem relação com o uso de tecnologias e da comunicação na educação, com foco na aprendizagem de línguas. Na entrevista, é possível entender melhor a diversidade dentro de uma sala de aula, o uso das tecnologias, entre outras questões importantes sobre o dia a dia de um ambiente escolar.

 

Conexões: Como é para o professor lidar com as diferenças que existem entre os alunos dentro da sala de aula?

Valeska Souza: Entrando numa sala de aula, os alunos são diversos fisicamente, cada aluno tem uma história de aprendizagem, cada aluno tem suas tribos e suas preferências. Então, a gente já sabe que a homogeneidade não existe. A heterogeneidade é constitutiva de qualquer grupo social. E a gente tem que estender isso para a sala de aula.

Então, você entra numa sala de aula e fala “vamos fazer turmas mais homogêneas”. Quantas vezes foram aplicadas provas de nivelamento, por exemplo. Eu lembro que, quando eu comecei a estudar, tinha turma A, B, C e D. (…) A turma A era dos alunos que tinham as melhores notas porque se acreditava que, quanto mais homogênea a sala de aula, melhor as chances dos alunos se sentirem bem e se desenvolverem.

Isso cai por terra quando a gente vai olhar qualquer comunidade de prática. Grupo de médicos, grupo de arquitetos, por exemplo. Por mais que eles tenham a redundância da mesma profissão, cada um tem sua especialização, cada um tem seu olhar para aquela prática que faz. E a comunidade de aprendizagem também é diversa.

 

Valeska Souza é professora de Línguas desde 1989 (Foto: Letícia Brito/Agência Conexões)

 

 

C: Como a tecnologia pode contribuir para que o professor lide melhor com essa diversidade?

VS: Então, a coisa mais séria é aceitarmos que a diversidade existe e que a heterogeneidade é constitutiva. A partir do momento em que o professor vê isso, ele vai começar a pensar formas de atender a todos os alunos. Só que temos um professor para 30 ou 40 alunos. E é onde acredito que a tecnologia pode ser benéfica. Primeiro, a tecnologia assistida. Por exemplo, se eu tenho um aluno com baixa visão ou deficiência visual, eu posso utilizar tecnologias de áudio, ou mesmo o Braille, para que essa pessoa possa acompanhar. Mas eu preciso pensar que, por essa pessoa ter necessidade especial, ela não é diferente. Todo mundo é diferente, cada um tem suas especificidades. Então, como eu posso criar uma aula que vai envolver a todos? Por exemplo, um fórum de discussões em que as pessoas podem entrar em diversos momentos para colaborar. Então, posso usar tecnologias para minimizar esse impacto de ser apenas um professor para diversos alunos.

 

C: Existe uma resistência por parte dos professores, tanto de escola pública quanto privada, em aderir às tecnologias?

VS: Existe uma resistência em todo meio social que você esteja. Existe uma resistência nos alunos. Às vezes quando eu proponho algumas coisas tecnológicas, inicialmente eles dizem “ah professor, mas é difícil, é complicado, não tenho computador em casa”. Eu falo, “mas cadê seu celular? Seu celular é um computador. Então, vamos adaptar para o seu celular”. Eu acho que há essa resistência. Se os alunos, que são totalmente tecnológicos, têm resistência a essas propostas mais inovadoras, imagina um colega que viveu a vida toda dando aula da mesma forma. Ninguém fica feliz em sair da zona de conforto. Mas acho que essa barreira de idade está sendo quebrada. As pessoas estão vendo os bons produtos e eu estou vendo mais pessoas aderindo a essas ideias tecnológicas. Eu vejo com bons olhos, cada vez mais.

 

C: Para finalizar, uma questão mais ampla, o que seria uma “educação tradicional”?

VS: Eu usava essa expressão educação tradicional de uma maneira muito pouco reflexiva, como se toda educação antigamente fosse igual. Hoje, eu já tenho uma perspectiva de que até a educação é totalmente heterogênea. Ainda tem professores que estão naquele modelo Top – Down em que o professor fala e os alunos têm que estar todos em silêncio. Por exemplo, não há nada que eu tenha menor tolerância do que colocar mapa de sala. Você acredita que se colocar alunos estrategicamente posicionados, eles vão ficar em silêncio. Então, [isso é] para garantir que seja um para todos: eu [professor] falando para todo mundo [alunos], que é o modelo tradicional.

Mas, há muito tempo atrás, nós já tínhamos professor de biologia, por exemplo, que levava os meninos para sentar no chão e brincar com as plantas. Então, acho que isso coexiste. Boas práticas e práticas inadequadas estão espalhadas no tempo. Acho que a palavra tradicional unifica, como se tradicionalmente a educação fosse feita de uma única forma. E eu acho que sempre há exceções.

Agência Conexões
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