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Da vida no Quilombo à Universidade

 Foto: Arquivo pessoal

 Menino criado pela avó, o estudante Paulo César da Silva de 23 anos, hoje cursa o 2º semestre do curso de Engenharia Química da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mas nem sempre foi assim. Até os 17 anos, o jovem viveu na Comunidade Remanescente Quilombola Corte, localizada no município Varjão de Minas e certificada pela Fundação Cultural Palmares, desde agosto de 2017.

 

Os primeiros anos escolares foram cursados na escola da prefeitura de Varjão de Minas no quilombo, tudo bem simples. Segundo ele só com duas salas, onde se juntavam duas turmas. Depois da 4ª série, o estudante foi estudar na Escola Estadual João Pereira Brandão dentro do município, onde ia de ônibus.

 

Ao completar 17 anos, depois de ter estudado a vida inteira em escola pública, o jovem ingressou no curso de Engenharia Química em uma faculdade particular da cidade vizinha Patos de Minas, onde estudava e trabalhava ao mesmo tempo para que pudesse custear o curso. A escolha veio de uma paixão despertada por uma excelente professora de química que teve no ensino médio. Já longe de onde nasceu, ele ia e voltava todos os dias da cidade à quase 70 km de Varjão.

 

Após perder o emprego, César viu seu sonho interrompido e sem alternativas, a não ser abandonar o curso no quinto período e decidir se dedicar para que agora entrasse em uma Universidade Federal. Foi um ano e meio estudando para os vestibulares, onde chegou a fazer o cursinho pré-vestibular público da UFU em Patos de Minas.

 

Até que, no primeiro semestre de 2017, foi aprovado no curso  de Química, no campus Pontal da Universidade, mas não conseguiu organizar os documentos a tempo que pudesse iniciar os estudos. Felizmente no meio do ano, o jovem foi aprovado no que realmente queria, o curso de Engenharia Química da UFU em Uberlândia.

 

Não bastava passar, o futuro engenheiro químico se viu num novo mar de dificuldades, pois não tinha condições financeiras de se manter. Foi a partir daí que ele procurou, pesquisou e conheceu o Programa de Bolsa Permanência (PBP), programa do Governo Federal de auxílio financeiro a estudantes matriculados em instituições federais de ensino superior em situação de vulnerabilidade socioeconômica e para estudantes indígenas e quilombolas. O recurso é pago diretamente aos estudantes de graduação por meio de um cartão de benefício.

 

Para os estudantes indígenas e quilombolas, é garantido um valor diferenciado, igual a pelo menos o dobro da bolsa paga aos demais estudantes, em razão de suas especificidades. O valor que o estudante recebe ajuda a pagar seu aluguel e as contas.

 Entrada da Comunidade Remanescente Quilombola Corte. Foto: Arquivo Pessoal 

O estudante que entrou pela modalidade 1 (Escola Pública, Pretos/Pardos/indigenas, com renda igual ou inferior a 1,5 Salário Mínimo) do Processo Seletivo Vestibular 2017.2 da UFU revelou que sente falta de uma política pública de cotas para estudantes remanescentes de quilombos na universidade, onde é o único. César explica que considera isso incoerente pois, apesar de existirem comunidades na região do Triângulo Mineiro, não existem referências aos quilombolas nos editais da universidade.

 

No futuro César se vê atuando como engenheiro químico em indústrias sucroalcooleiras, petrolíferas e outras áreas afins, ajudando a família e o lugar onde cresceu.

 

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