05 maio Deficientes visuais encontram um espaço de inclusão e apoio na ADEVIUDI
Turma matinal de Educação para Jovens e Adultos (EJA). Foto: Laura Fernandes/Agência Conexões
Quando o beneficiado por um projeto passa a fazer parte da gestão do mesmo e começa a auxiliar outras pessoas, é possível entender o recado de que algo positivo está saindo dali. É isso que acontece com grande parte da equipe da Associação dos Deficientes Visuais de Uberlândia (ADEVIUDI). O programa teve início em agosto de 1972 e, presta apoio ao deficiente visual considerando desde o aspecto psicossocial ao incentivo à inclusão dessas pessoas por meio da educação e profissionalização. Dentre as atividades oferecidas estão duas turmas do EJA (Educação para Jovens e Adultos), alfabetização em braile, curso de informática e administração de empresas e aulas de tapete, bateria, violão e estudo bíblico. O esporte também está presente dentre as atividades ofertadas, através da yoga, ginástica e oficina de Goalball.
Joana Pires nasceu com baixa visão (vê apenas vultos) e é prova da existência de inclusão. Hoje presidente da Associação, ela frequenta a ADEVIUDI desde 2009 e há três anos participa do EJA, a primeira escola que entrou. “Eu tinha muita vontade de estudar, aprender a assinar meu nome, [porque] eu não sabia. Aqui eu aprendi tudo”. Apesar de já ter terminado o curso, a presidente continua frequentando algumas aulas para reforçar o que aprendeu. “Estou lá de penetra agora (risos). Eu vou porque tem muitas letras que eu ainda confundo, como o S, Ç e Z”. Joana também fez curso de massoterapia e administração de empresas e conta que muitas pessoas já conseguiram emprego por causa dos cursos profissionalizantes ofertados ali. “Aqui só fica parado quem quer. Aqueles que querem lutar pela vida têm várias oportunidades na Associação”, afirma.
Joana diz que desde que começou a ir à ADEVIUDI, sua vida mudou. “Aqui eu entendi que sou alguém e não apenas uma deficiente. Aprendi a dar valor em mim mesma”. Sobre os próximos planos da Associação, ela relata com entusiasmo o projeto de montar uma cozinha. “Precisamos de uma cozinha para dar aula de capacitação para os nossos deficientes aprenderem a cozinhar. Muitos chegam aqui e não sabem nada, não vão nem até o bebedouro pegar um copo de água para tomar”, aponta. Joana esclarece que isso acontece porque a maioria não tem o incentivo da família para aprender. “Muito cuidado com quem é deficiente acaba prejudicando, porque prende a pessoa. Muitos acabam ficando com medo e não pode ser assim, né? Tem que pensar: eu posso, eu vou fazer, eu quero”, esclarece.
Antes de Joana, quem presidia a Associação era Ivando Pereira de Araújo, que atualmente é coordenador geral. “Tenho outro projeto de vida que não permitiu que eu continuasse na presidência. Porque a gente tem que avançar também, né? E temos que dar a oportunidade para novas pessoas”, diz. Agora, ele almeja poder ajudar os deficientes visuais de forma mais ampla. “Estou com planos de chegar à Câmara Municipal para ser um representante legítimo das pessoas com deficiência. Porque estamos cansados desses candidatos virem aqui, prometerem muita coisa e no fim não fazer nada por nós”, desabafa.
Como resultado da inclusão, a associada Joana Pires hoje é presidente do projeto. Foto: Laura Fernandes/Agência Conexões
DESAFIO DO APOIO FINANCEIRO
O coordenador afirma que é preciso buscar outros meios para cobrir os gastos. “Todo mês a gente fica com débito de cerca de mil reais… Mas não podemos parar os trabalhos, porque acreditamos que amanhã sempre será melhor. Ainda fazemos alguns eventos beneficentes para ajudar e contamos com doações anônimas”, conta. Segundo Ivando, o dinheiro da subvenção é para pagar os funcionários e os encargos e “ás vezes sobra para pagar as contas de energia, água e papelaria (xerox, impressões etc)”. Futuramente, há um projeto de uma estufa de flores para conseguir mais recursos.
Assim como ela, a auxiliar administrativa explica que muitas pessoas chegam à ADEVIUDI bastante perdidas, mas acabam encontrando apoio nos demais associados. “Tem muita gente que chega aqui num quadro depressivo por conta da deficiência visual, mas aí com o tempo e a convivência com os outros, a pessoa vê que não é daquela forma que pensava, omeça a participar das atividades e às vezes não quer nem sair mais”. Por experiência própria, Ana Carolina afirma que “todo mundo aqui é amigo e procura ajudar o outro da forma que pode”, finaliza.
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