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Democracia à prova de balas?

O episódio escancarou a radical guerra contra discursos progressistas e a democracia representativa, que por décadas mostrava romper barreiras. Foto: Daniel Teixeira | Estadão

Na última terça-feira do mês de março, dia 27, dois ônibus da caravana do ex-presidente Lula sofreram ataques de tiros enquanto estavam de passagem pela cidade de Laranjeiras do Sul, interior do Paraná. Em um dos veículos estavam agentes de imprensa que acompanhavam o evento e, no outro, convidados do ex-presidente. Lula não estava em nenhum dos veículos e ninguém foi ferido.

Logo após o ocorrido, o ex-presidente cancelou o evento que aconteceria no dia seguinte, em Guarapuava, cidade próxima a do atentado. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp) foi informada do caso e se deslocou até o local, com equipes do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), a fim de reforçar as investigações sobre o ataque.

O ex-presidente usou as redes sociais para comentar sobre o assunto: “Se eles acham que fazendo isso vão nos assustar, estão enganados. Vai nos motivar. […] Mas vamos respeitar a democracia e a convivência na diversidade”, afirmou o petista em sua conta do twitter.

Dois dias após o episódio, Tarcisio Vieira de Carvalho, Ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), comentou ao Broadcast Político que episódios como esse marcam lesões ao Estado democrático de direito. “O debate democrático não comporta violência dessa natureza. Isso é um atentado à democracia, às instituições republicanas e ao império da lei”, disse o Ministro.

O delegado Wilkinson Fabiano de Arruda também criticou publicamente o caso contra Lula utilizando-se de argumentos contra a atuação da política de segurança do estado e considerando o atentado uma tentativa de homicídio. Arruda foi plantonista no dia do atentado e pegou o comando para o inquérito do caso. Contudo, na última semana, por decisão do governador do Estado do Paraná, Beto Richa, Arruda foi punido pelas declarações e retirado do inquérito, substituído por Helder Lauria, chefe da Subdivisão de Polícia de Laranjeiras do Sul.

Em entrevista à Carta Capital, Arruda se pronunciou sobre a substituição: “É claro que [a substituição] tem razões políticas. Não gostaram das declarações que dei sobre como vejo o crime. Foi uma tentativa de homicídio. Por quê? Porque estamos diante do que se chama dolo alternativo. Quem atira contra um ônibus está querendo matar alguém. Não estou dizendo que era para matar o Lula. Mas quem faz isso, atirar em um ônibus, quer, sim, matar alguém”.

Na última quinta-feira, dia 12, o jornalista e radialista Marcos Rogério Weber, apresentador na rádio comunitária Palmeira FM, de Palma Sola, Santa Catarina, foi ameaçado por ter criticado os ataques contra a caravana do ex-presidente, ameaças que partiram de fazendeiros e comerciantes locais. Após tomar conhecimento, o líder do Partido dos Trabalhadores (PT) na Câmara, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), acionou a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias na Câmara para que providências sejam tomadas sobre o caso, a fim de garantir proteção a integridade física de Weber e seu direito de expressão como profissional da comunicação.

O ataque à tiros foi o ápice para diversos movimentos, representando uma importante cartada contra Lula e contra a democracia. O episódio escancarou a radical guerra contra discursos progressistas e a democracia representativa, que por décadas mostrava romper barreiras. Quem antes se refugiava nos protestos de verde e amarelo e nos discursos de ódio pela Internet, agora pega no gatilho e decide mudar os rumos à força. Desde a tomada de poder por Michel Temer, o chamado “estado de exceção moderno” inicia-se com desfechos cada vez mais reclusos às passadas vitórias democráticas. Contudo, a guerra política, antes multipolar por representatividade, agora se debruça entre um lado pró-Lula e outro contra-Lula.

Por fim, cabe frisar que não importa a posição política, o ataque contra Lula aponta para algumas perguntas que a sociedade brasileira precisa enfrentar. Estamos mesmo dispostos a ir “longe demais” por um processo sem provas e insólito? Este ataque tinha apenas como propósito “dar um susto” ou realmente tinha intenção de calar alguém?

Fontes: Carta Capital, Estadão e Brasil 247

 

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