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Desafios das mulheres que conciliam a maternidade com os estudos

Engravidar durante a faculdade pode ser um momento de receio e medo para muitas mulheres. Afinal, são várias as dúvidas que surgem: Como ter uma gestação saudável e continuar indo para as aulas? Como ser uma mãe presente e tirar tempo para se dedicar à vida acadêmica? Prosseguir estudando ou trancar o curso? Muitas optam por conciliar a maternidade com os estudos.

    Esse foi o caso da gerente financeira Camila Fernandes Cruvinel, de 24 anos, que engravidou de Benício quando estava prestes a entrar no último ano da sua graduação em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). “Optei por continuar e fazer as coisas no meu ritmo. Após o nascimento eu entrei em regime especial. Em tese, eu não precisava ir às aulas”, conta Camila.

    O regime especial é uma condição que faz parte do decreto-lei (DL) 1.044/69 criado em 1969 para assegurar o direito das alunas gestantes a continuarem os estudos.

    Mas na prática, a lei realmente funciona? Camila conta que, mesmo estando em regime especial, enfrentou dificuldades com um de seus professores. “O professor marcou uma avaliação e o Benício não tinha nem um mês de vida ainda. Fiz o requerimento para realizar a atividade em outro dia e ele não aceitou. Tive que fazer a prova com o Benício em um braço, enquanto usava a outra mão pra poder escrever”.

Em seu caso, Camila explica que o problema foi uma exceção e que recebeu muito apoio dos demais professores. Porém, enfatiza que nem todos têm a mesma sorte e declara já ter presenciado casos de preconceito com amigas que também são mães. “Parece existir um pensamento coletivo de punitividade, de que a mulher deveria passar por dificuldades como consequência por ter engravidado durante os estudos. E depois que a criança nasce, eu acho que a situação só piora, pois crianças não são bem aceitas e bem vistas, muitas vezes, no convívio social”, afirma Cruvinel.


Camila Cruvinel e seu filho Benício no dia da defesa de sua monografia | Acervo Pessoal

Quem também passou por uma cena de preconceito em sala de aula foi Marcella Macedo de Carvalho, 25 anos, que engravidou de Ana Laura durante sua graduação em Ciências Biológicas pela UFU. Hoje, ela conta apenas com o suporte das avós da criança para ficar com ela durante o dia quando Marcella está trabalhando. À noite, precisa levar a filha com ela para as aulas, o que acarretou um problema. “Teve uma professora que me deixou sob aviso, disse que ela [a filha] poderia ficar desde que ficasse quietinha e que se alguém de fora perguntasse eu deveria falar que já estava indo embora”, conta Marcella.

    Esse preconceito pode significar um grande empecilho para as mães universitárias. Marcella conta que o maior tempo de estudo que possui em sua rotina é dentro de sala de aula, fora disso pode aproveitar apenas os momentos em que a filha está dormindo. Camila passava pela mesma situação. Por não contar com a ajuda de outras pessoas, ela precisava se virar para conseguir estudar. “Não tinha como esperar ele dormir, por exemplo, porque ele tirava sonecas de 20 minutinhos. Eu tentava estudar com ele no colo, amamentando. Para ir às aulas eu o levava junto. Até no estágio ele já foi”, conta Cruvinel.

    Mas o que entra em questão neste momento é: Ter de levar seus filhos para a sala de aula é o modelo ideal de educação para as mães universitárias? Marcella explica que a presença da filha em sala muitas vezes compromete seu rendimento nos estudos, por precisar encontrar uma forma de entretê-la. Para ela, o ideal seria que a faculdade tivesse uma creche disponível nos anos iniciais da criança. “A angústia de deixar de ir à aula por não ter com quem ela [a filha] ficar não existiria, ou diminuiria”, afirma Marcella. Camila também acredita nisso como uma solução e reforça a necessidade de um auxílio financeiro: “Muitas mães não conseguem arcar com as despesas para se manterem na faculdade após os filhos”.

    Apesar de todas as dificuldades, as duas jovens possuem planos de continuar estudando e quando questionadas sobre que mensagem deixariam para as universitárias que estão ou ainda virão a passar pela mesma situação, são otimistas. “Eu diria para não desistirem, mas também não se cobrarem tanto. Para seguirem seu próprio ritmo, respeitando seu próprio tempo, seu corpo e sua mente”, diz Camila, enquanto Marcella reforça: “Não desistam!”

Marcella Macedo e sua filha Ana Laura | Acervo Pessoal
Thais Fernandes
thaisfernandsp@gmail.com
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