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Dia do índio: uma data que precisa ser ressignificada

Por: Lorena Roje

No início da década de 40, Lázaro Cárdenas del Río, então presidente do México, dá início ao discurso de abertura daquele que seria conhecido posteriormente como o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. Marcaram presença também 71 delegados independentes e 47 representantes de grupos indígenas de vários países. Depois disso, algumas medidas são tomadas para proteção dos povos indígenas das Américas, e, dentre elas, o estabelecimento do Dia do Aborígene Americano em 19 de abril. No Brasil, o dia passou a ser reconhecido como “Dia do Índio” a partir de 1943 com o governo de Vargas. 

Além da data comemorativa, a declaração apresentada continha outras propostas. Dentre elas, a orientação para censura de práticas racistas contra povos indígenas, o respeito à identidade histórica e cultural em relação a medidas de proteção e garantia de direitos para povos originários e, por fim, a criação de um Instituto Indigenista Interamericano, responsável pela política indigenista em todo o continente.

Após esse primeiro encontro, o congresso deu lugar a Convenção de Pátzcuaro. A Convenção passou a ser, então, a representação formal do indigenismo como política de Estado nos países signatários.

Hoje, a herança daqueles dias em que foi decidido que a vida dos povos indígenas deveria ser respeitada, bem como seus direitos e cultura, se traduz no aumento das visitas das escolas fundamentais em museus, comemorações com saias revestidas em pluma, cocares na cabeça, oficina de colares de semente, trabalhos com argila e na repetição incessante da esdrúxula música “Vamos Brincar de Índio”. 

Mas, o que tem de errado nisso tudo? 

Começando pela nomeação da data, o termo “Índio” ajuda a reforçar o estereótipo de que só existe uma variação de cultura indígena. Quando a comemoração dessa data propõe a exaltação de uma cultura singular, de apenas um modo de vida, uma língua e uma tradição, esse movimento acaba liquidando a variedade de todas as 305 etnias existentes atualmente no Brasil. 

Além disso, celebrar a data nesses formatos também fortalece a ideia de exotismo por trás desses povos, sustentando o ideal de que são povos do passado, que não mais habitam as terras brasileiras. Enquanto, segundo o Censo IBGE 2010, os povos indígenas somam 896.917 pessoas. Destes, 324.834 vivem em cidades e 572.083 em áreas rurais. O indígena está nas cidades, escolas, universidades, tribunais, comércios, hospitais e em espaços diversos, ainda ocupando e resistindo. 

Afinal, é preciso ressignificar o dia do Índio. Começando por chamar de Dia dos Povos Indígenas, e de lembrar e refletir sobre a diversidade, luta, sangue, perdas, massacres, força e resistência dos povos originários brasileiros. 

Agência Conexões
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