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Diretor de pesquisa da UFU considera 2018 ano decisivo para a ciência no Brasil

“O ano de 2018 será muito importante para a ciência no Brasil, precisamos de novos legisladores que advoguem pela saúde, educação e ciência de forma verdadeira”, diz Del Claro. | Foto: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – Divulgação

 

Os investimentos feitos pelo Governo Federal no âmbito da ciência e tecnologia estão cada vez mais reduzidos. No mês de março deste ano, o governo anunciou o congelamento das verbas em 44% do orçamento previsto para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

 

Em meio a este cenário, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência alega que os investimentos em pesquisas são importantes para o avanço do país e que esses atos do poder público geram precariedade nos estudos científicos e, consequentemente, a população ficará prejudicada.

 

No dia 21 de novembro, reitores das universidades, entidades estudantis e órgãos de pesquisa compareceram na Câmara dos Deputados para debater sobre a diminuição de recursos para as universidades federais na proposta orçamentária de 2018.

 

O diretor de pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Kleber Del Claro, explica para a Conexões como funcionam as políticas feitas pela instituição para captar verbas e distribuí-las às pesquisas realizadas pelos institutos da academia. Além disso, Kleber comentou sobre o que a Universidade está fazendo para lidar com a diminuição dos investimentos.

 

Conexões: Gostaríamos de saber como funciona a captação de recursos para as pesquisas realizadas na Universidade Federal de Uberlândia.

 

Del Claro: Através de editais que são lançados pelas agências de fomento. Fazemos captação dos editais pelos sites, correspondência e também pelo sistema FINANCIAR. Captamos também por parcerias com empresas.

 

Conexões: Como esses recursos são distribuídos para as pesquisas realizadas nas Universidades, quais são os critérios?

 

Del Claro: São feitas chamadas, os interessados submetem projetos. Nos projetos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) sempre reservamos cotas para a Biblioteca, Energia Elétrica e Núcleo de Processamento de Dados Nupro/CTI – Informática – estrutura básica de funcionamento.

 

Conexões:  Para o senhor, quais benefícios os projetos de pesquisa trazem para a comunidade acadêmica e externa?

 

Del Claro: Pesquisa é investimento, não é gasto. Os benefícios são óbvios: novos medicamentos, novas formas de comunicação, novos materiais, técnicas, etc. Ou seja, redução da dependência tecnológica. Melhor vender que comprar tecnologia não é?

 

Conexões:  Membros da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) reclamam que as políticas de investimento do governo em ciência e tecnologia estão reduzindo fundos para as pesquisas, fato que se configura no desmonte da ciência brasileira. Como o senhor observa este fenômeno? Caso os investimentos fiquem mais escassos, quais seriam as consequências para a sociedade no Brasil?

 

Del Claro: Estamos em um patamar de investimentos inferior a 2014, ou seja, há um grande retrocesso e a PEC 95, que congela os gastos por 20 anos, representa o fim da ciência, educação e saúde no país. Imagine se surgir uma nova doença e não temos recursos adicionais para estudá-la e combatê-la? É um absurdo o que estão fazendo com a ciência e tecnologia no país, redução e cortes absurdos em investimento em nossa independência científica e tecnológica. Enquanto isso damos isenção fiscal de um trilhão para petrolíferas estrangeiras? É justo? E o quanto vemos ser noticiado todos os dias sobre desvios? Enfim, um absurdo cortar em ciência, saúde e educação.

 

Conexões: O Ciências sem Fronteiras  foi cancelado pelo governo desde abril deste ano. Os alunos da universidade também participaram deste programa. Gostaríamos de saber se o projeto do Ciências sem Fronteiras, lançado em 2014, foi benéfico para a Universidade e quais as foram as consequências do fim do plano para a instituição.

 

Del Claro: Toda nova iniciativa e ideia tem méritos e deméritos. O grande problema do CSF foi ter enviado uma quantidade de estudante ao exterior exagerada, muita gente sem o preparo adequado e enviada para universidades de formação duvidosa. Mas o programa em si, é um ideia iluminada, grandiosa. Sim, ganhamos muito com ele. Ele permitiu internacionalizar nossos estudantes, tornar nossas universidades e país mais conhecidos e gerou inúmeras parcerias internacionais que estão em plena atividade. Uma grande preocupação atual é que os melhores cérebros nesse programa deixem o país em busca das oportunidades que viram no exterior e em razão da falta de apoio à pesquisa que estão vendo no Brasil.

 

Conexões: Em meio a esse quadro de investimentos decrescentes, como a UFU está lidando com menos recursos recebidos, pelo fato de que, neste ano, recebe menos investimentos pelo MEC e tem parte dos fundos contingenciada?

 

Del Claro: Estamos lidando muito bem. Corremos atrás, negociamos, tiramos leite de pedra. Esse ano conseguimos quase 6 milhões da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] para a UFU e não houve redução das cotas de bolsas. Vamos resistir, vamos sobreviver, já vi crises muito piores que essa. Já tivemos os salários congelados por oito anos, sem contratações, sem investimentos e sobrevivemos. O ano de 2018 será muito importante para a ciência no Brasil, precisamos de novos legisladores que advoguem pela saúde, educação e ciência de forma verdadeira.

 

 

Agência Conexões
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