
30 set É difícil deixar para trás a antiga vida
Existem muitas diferenças entre os termos refugiado e imigrante. De acordo com as definições do dicionário, refugiado é o indivíduo que se mudou para um lugar seguro, em busca de proteção devido à perseguição política ou religiosa. Já imigrante é aquele que entra em um país estrangeiro com o objetivo de residir ou trabalhar.
A cidade de Uberlândia abriga grande parte desses indivíduos que chegam até o Brasil por alguma razão, como é o caso de Carlos Eduardo Sanota, venezuelano de 22 anos que há dois meses saiu de seu país de origem em razão da difícil situação em que se encontra o lugar. “Eu cursava Engenharia Eletrônica na Universidade Simon Bolívar e há algum tempo não tínhamos aula devido à crise que não é só política, mas se estendeu ao campo da saúde, educação e economia. Eu percebo que o país está desinformado porque o governo limitou até os meios de comunicação, o salário mínimo é insuficiente e quando se consegue dinheiro não se encontra alimentos nas lojas, porque a indústria não produz”, pontua.
“Eu já havia me decidido: não queria ficar na Venezuela”, conta Carlos Eduardo Sanota, que há dois meses deixou seu país de origem e veio viver em Uberlândia. Foto: Anatália Amorim| Agência Conexões
Carlos conta que a imigração foi planejada e que, após muita dúvida sobre qual lugar da América do Sul residir, optou pelo Brasil. “Eu já havia me decidido: não queria ficar na Venezuela. Planejei, pensei na questão das leis, das facilidades para a legalização da minha situação, pois não queria viver clandestinamente, e dentre os países me decidi pelo Brasil. Pensei na questão cultural e na receptividade; foram muitos fatores que pesaram na hora de tomar essa decisão. Escolhido o país, optei por Uberlândia pois já havia conhecido o lugar em 2014 através de um intercâmbio, e gostei muito da cidade e as pessoas se mostraram abertas aos estrangeiros”.
Segundo Carlos, o processo de regularização de sua situação foi um pouco complicada, pois sentia medo. A princípio, entrou no Brasil com visto de turista, o qual constava dois meses vivendo de forma legal. “Muitas pessoas que viajaram comigo tinham a intenção de pedir refúgio, mas eu não queria isso, me perguntava então o que seria. ‘Se não é refúgio, o que faço?’. Comecei a pesquisar sobre a situação e fui até a polícia federal, onde me informaram quais eram os documentos necessários para o processo, achei essa parte um pouco difícil já que alguns desses documentos estavam no meu país de origem. Com esses documentos em mãos, consegui um visto temporário com duração de dois anos”, conta o venezuelano.
Indagado sobre a possibilidade de dar andamento na graduação em alguma faculdade de Uberlândia, Carlos frisa a dificuldade em relação aos documentos do ensino médio ainda não legalizados e que precisam ser traduzidos. O empecilho seria o alto valor gasto para o procedimento e, também, para sua permanência na Universidade. “Eu gostaria muito de estudar na UFU, mas é muito difícil, pois geralmente o horário é integral e eu preciso trabalhar para me manter aqui”, afirma.
“É difícil deixar pra trás a antiga vida, quatro anos de faculdade, as amizades, a família. Eu tive muita sorte, fiz muitos amigos aqui na cidade, foi graças a essas amizades que eu consegui contatos. Se não fossem amigos me informando sobre os órgãos municipais de apoio eu não teria conhecimento, seria muito interessante se existisse algum centro de atenção aos imigrantes, para que quem esteja nessa situação se sinta menos perdido”, conclui Carlos.
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