
16 maio É possível conciliar estudos, trabalho e maternidade em um Brasil de pandemia?
Jhonatan Dias e Lorena Roje
Neste perfil, entrevistamos Letícia Oliveira, de 24 anos, para falar sobre a experiência de ser mãe e universitária.
Letícia Oliveira era apaixonada pela Lua desde o seu primeiro ano de vida: Nova, crescente, minguante – todas as fases do único satélite natural do nosso planeta encantavam os olhos da pequena. Por isso, o nome de sua única filha não poderia ser diferente: Luna, sua nova paixão, nasceu durante uma lua cheia.
Letícia soube que seria mãe duas semanas após ser aprovada no curso de Biomedicina, da Universidade Federal de Uberlândia, no início de 2018. Assim como a Lua influencia fenômenos naturais na terra – e até a vida de quem acredita em signos – Letícia precisou adaptar os planos de estudar por conta da nova responsabilidade: “A minha filha ficava com o pai dela e com a minha mãe enquanto eu ia para a UFU estudar. Não peguei muitas matérias de laboratório porque algumas vezes precisei levá-la à faculdade comigo”, explica.
Com dois sonhos desafiantes em órbita, a estudante precisou trancar a faculdade após o primeiro semestre para se dedicar à maternidade com os pés no chão. “A faculdade durante a gravidez foi muito difícil, estava sempre passando mal, indo aos hospitais. Eu tentei pegar regime especial para estudar em casa (antes da pandemia) mas não deu certo”. A estudante trancou a faculdade pela primeira vez em agosto de 2018, e Luna conheceu a terra em setembro desse mesmo calendário.
Aí veio a pandemia e “desandou tudo”, nas palavras de Letícia.
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No segundo semestre de 2019, Luna já estava com um ano e, assim, sua mãe conseguiu voltar, aos poucos, à rotina de aulas de um curso integral. “Fiz o segundo semestre normal, em 2019, mas em 2020, por causa da pandemia, precisei dar uma pausa nos estudos novamente porque estava muito difícil para conciliar três coisas: fazer faculdade em casa, observar a Luna e trabalhar”, comenta Letícia.
A futura biomédica trabalha, em casa, resolvendo problemas de entrega de mercadorias para os clientes de uma empresa. Ela se queixa que sua saúde mental piorou por causa da pandemia.“Ou eu trabalhava e dava atenção, ou eu via a aula, e ela estava se sentindo muito sozinha. Nesse momento, eu não tive condição de fazer faculdade”, relata.
Quando a crise passar, ela planeja colocar sua filha na escola para que ela possa trabalhar e estudar com mais tranquilidade. “Eu queria muito cortar as matérias teóricas agora para quando voltar focar nas aulas práticas. Mas, preciso alimentar, distrair e dar atenção para não deixar a criança ‘doida’ dentro de casa.”
A nossa entrevista foi realizada às 17h30, uma hora e meia após o fim do expediente de Letícia. Ela precisou desse tempo para cuidar de sua filha de dois anos e colocá-la para dormir. Ao final, a ‘estrela’ da reportagem apareceu: “Minha filha acabou de acordar. Fala: oi!” Tímida e sonolenta, Luna responde: “oi”.
Direito à maternidade na pandemia


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