19 jun Educação brasileira em tempos de ignorância
Um cenário sombrio surge em 2019 para a educação no Brasil. Com medidas controversas e ações desastradas por membros do Executivo, os cortes em áreas fundamentais do ensino superior revelam um prognóstico pessimista no atual governo Bolsonaro.
A situação da educação no Brasil começou a degringolar a partir do próprio Ministério da Educação (MEC). O primeiro ministro escolhido pelo atual presidente da república já demonstrou como seria o projeto destrutivo do ensino no país. O colombiano Ricardo Vélez Rodríguez (vocês não leram errado, colombiano em um ministério no Brasil, que disse, em entrevista à revista Veja, que o brasileiro era canibal e ladrão) ao invés de achar soluções para melhorar o cenário educacional no país, preferiu exigir (para não dizer pressionar) que as escolas gravassem os alunos cantando o Hino Nacional e que fosse lida uma carta com o slogan da campanha eleitoral de Bolsonaro (“Brasil Acima de Tudo, Deus acima de Todos”).
Além disso, propôs mudanças em livros didáticos de História a respeito do golpe civil-militar de 1964, já que ele próprio afirma – em concordância com o presidente da República – que não houve ditadura. Sem contar nas diversas demissões que o mesmo fez assim que iniciou sua gestão, que ocasionaram uma paralisação de atividades importantes dentro do MEC, como a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e as inscrições no Financiamento Estudantil (FIES). Poucos meses depois de completar sua desastrosa gestão à frente do MEC, Velez foi demitido através de uma nota do presidente pelo Twitter, bem ao estilo Bolsonaro de governar.
O sucessor de Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub, foi nomeado com a missão de resolver resolver os problemas causados na anterior gestão. Ele, porém, resolveu dobrar a aposta. Primeiramente, o ex-professor ligado ao mercado financeiro há vinte anos, anunciou um corte de 30% em recursos destinados a algumas universidades federais, alegando que havia “balbúrdia” nos campi. Mesmo afirmando que esses recursos iriam para a educação básica, foi observado que nem lá o ministro poupou.
Como se não bastasse, durante as manifestações dos estudantes contra o que a equipe tem chamado de “contingenciamento”, Weintraub incentivou denúncias contra alunos e professores que divulgassem ou promovessem protestos dentro de instituições de ensino, ato que foi condenado por diversos órgãos, alegando censura por parte do ministro.
Os golpes contra a educação brasileira têm como motivos, primeiramente, uma política de perseguição ideológica promovida pelo novo governo, que acusa o ensino no país de sofrer com o “marxismo cultural”, que seria uma espécie de aparelhamento movido por setores da esquerda. Essas acusações são alimentadas pela ala ideológica do governo, patrocinada principalmente por Olavo de Carvalho, escritor autoproclamado filósofo que, por diversas vezes, já afirmou que parou de estudar no antigo ginásio e que nunca precisou de uma universidade. Esse guru do bolsonarismo, além de coordenar ataques e ofensas a comunidade acadêmica, tem uma certa influência no MEC, pois o mesmo sugeriu a escolha de Vélez Rodriguez e tem a admiração do atual ministro Weintraub.
O resultado desses disparates promovidos pelos ministros do MEC dessa gestão do governo Bolsonaro tem péssimas consequências na educação brasileira. Até o presente momento, a gestão atual não conseguiu apresentar uma proposta plausível para melhorar o ensino no Brasil. Pelo contrário. O que o atual governo vem patrocinando é uma espécie de caça às bruxas, contra aqueles que dentro da área educacional se colocam em oposição às convicções vigentes do presidente da república e de seus apoiadores. Um exemplo é o polêmico projeto do Escola Sem Partido, considerado por muitos especialistas na área de educação como uma forma de censura, parecida com o ocorria na na antiga União Soviética. Em consequência disso, diversos projetos de pesquisa acadêmicos estão paralisados por causas dos cortes, sem contar que provas do ENEM e exames que tem como objetivo saber como está a alfabetização no país estão parados por causa da série de demissões ocorridas no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), órgão responsável por esses assuntos e subordinado ao MEC. Em resumo, a educação brasileira está paralisada há seis meses por culpa dessa forma irresponsável de cuidar do ensino no país pelo atual governo.
Por mais que a comunidade acadêmica possa ter uma influência de pautas de esquerda em certos setores, e tenha alguns problemas gerenciais, esses ataques contra a educação promovidas pelo atual governo só tentam criar um cenário de sinais trocados do ponto de vista ideológico, e isso é tudo que o ensino no país não precisa. Um país que está em 13° lugar em produção científica no mundo precisa mais do que nunca de recursos para continuar com pesquisas importantes em diversas áreas. Ao invés de ser preocupar com pautas ideológicas, o MEC deveria procurar soluções imediatas para melhorar a situação da educação no Brasil como um todo. Como por exemplo, melhorando os programas existentes como o ENEM e o FIES, para que possa oferecer educação superior para todos (coisa que os ministros do MEC já disseram que não seria possível), criar uma Base Nacional Curricular que possa atender as necessidades do ensino no país e, por fim, ter um programa Nacional do Livro Didático. Só assim podemos fazer com que a educação brasileira iguale os índices educacionais dos países desenvolvidos.
Enquanto isso, cabe a todos aqueles que se interessam em um Brasil com um projeto de educação evoluído continuar a lutar e reivindicar o poder público contra essa política de retrocesso e de aparelhamento ideológico. Só com o poder da educação é que conseguiremos derrotar o clima de ignorância e desonestidade intelectual, que vigora no nosso país.
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