Observatório Luminar
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Educação e pandemia: um caso de ausência de políticas públicas

A educação foi uma das áreas mais atingidas pelo distanciamento social necessário para contenção da pandemia do novo coronavírus. Com o lento recrudescimento que a vacinação tardia e desorganizada causou, as escolas ficaram praticamente um ano e meio fechadas. Crianças, adolescentes e adultos precisaram aprender, junto às professoras e professores, bem como a seus cuidadores, como manter o processo educativo de modo remoto. Um aprendizado, por vezes, bastante difícil, especialmente quando o isolamento foi acompanhado do descaso governamental e da falta de políticas públicas voltadas a garantir o mínimo de condições para docentes trabalharem e estudantes aprenderem, como no caso das escolas públicas.

Paralelo ao caos gerado pela crise sanitária, aqueles que deveriam, por obrigação legal, organizar o sistema educacional, acabam por dificultar ainda mais o processo, seja não utilizando os poucos recursos disponíveis para a área, seja criando polêmicas desnecessárias. É fato que a pandemia do novo coronavírus pegou a todos de surpresa, mas no Brasil foi preciso lidar com ela em meio a um histórico de baixos investimentos no setor e com um governo que demonstra sem constrangimento, com atos e palavras, que a educação não é prioridade. 

Dados levantados pelo Movimento Todos Pela Educação mostram que em 2020 o Ministério da Educação teve a pior execução orçamentária da década, justo no período que demandava mais investimentos para adaptação de escolas, formação de professores e ampliação do acesso de estudantes ao ensino remoto. A educação básica foi a que mais sentiu o impacto, mas outros níveis de ensino, como o universitário e a pós-graduação, também sofrem com os cortes, conforme já noticiamos na Conexões.

Em meio ao caos da pandemia, o ministro da educação Milton Ribeiro, que multiplica demonstrações de desconhecimento sobre a dimensão da pasta que coordena, ainda ganha as manchetes dos jornais com declarações polêmicas. Explicitando sua visão ideologizada do mundo, questiona a educação inclusiva, a ampliação de oportunidades no ensino superior e, até mesmo, a sexualidade de professores e estudantes. Com a postura, o pastor sinaliza que abandonou sua inicial promessa de buscar diálogo e preservar a laicidade do Estado, em prol da campanha política voltada ao grupo de apoio mais fiel do presidente da República.

Nas próximas semanas a Conexões apresenta a série especial “Educação na Pandemia”, na qual pretende abordar, a partir de diferentes perspectivas, os impactos do isolamento social sobre a educação. Nos próximos dias apresentaremos entrevistas com professores e pesquisadores sobre a educação infantil e básica, o ensino médio e a educação superior. São especialistas que analisam, de modo minucioso, as dificuldades sobre as quais a crise sanitária jogou luz, sobretudo no sistema público, e avaliam como tentar amenizar essa problemática.

Ana Spannenberg
anaspann@gmail.com
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