02 ago Entenda: ações afirmativas não são um privilégio. Respeite!
Uma década. Este é o coletivo que representa o atraso no nível de qualidade de vida dos negros em relação ao dos brancos.
Número de negros que conseguem chegar à universidade ainda é inferior ao dos brancos. Foto: Freepik
De acordo com o documento “Desenvolvimento Humano para Além das Médias”, divulgado no dia 10 de maio deste ano, entre 2000 e 2010 o Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM) da população negra aumentou em média, 2,5% ao ano, enquanto a dos brancos cresceu 1,4%. Entretanto, , mesmo com o ritmo mais acelerado, só em 2010 o IDHM dos negros atingiu a pontuação (0, 679) que já havia sido alcançada pelos brancos dez anos antes (0, 675).
Estes dados são evidências que comprovam a desigualdade existente entre os povos em nosso país e que é reforçada em um dos pilares do desenvolvimento: a educação. Dados educacionais organizados pelo movimento Todos pela Educação, no mês de novembro de 2016, revelam que os brancos concentram melhores indicadores e é a população que mais frequenta as escolas. São também os que se saem melhor nas avaliações nacionais, o que não seria estranho, não é mesmo?!
Os números que evidenciam a desigualdade saltam aos olhos de todos e é perceptível que os melhores resultados em exames representarão essa realidade. A disparidade inicia-se nos níveis educacionais básicos, em que a taxa de analfabetismo é 11,2% entre os pretos; 11,1% entre os pardos; e, 5 % entre os brancos, o que atinge, consequentemente, a proporção de negros nas universidades. Segundo pesquisa divulgada, em novembro de 2016, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2015 12,8% dos negros, entre 18 e 24 anos, chegaram ao nível superior, enquanto que o número equivalente aos brancos, foi de 26, 5%.
A disparidade na porcentagem evidenciada pela pesquisa ainda é grande, mas se compararmos ao ano de 2005 poderemos observar um considerável crescimento. Neste período, que coincide com a implementação das ações afirmativas, como as cotas, apenas 5,5% dos jovens pretos ou pardos na classificação do IBGE frequentavam a universidade, o que nos evidencia os bons resultados da implementação da política pública. Dados apresentados pelo Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa), no estudo “O impacto da Lei 12.711 sobre as universidades federais”, de novembro de 2013, indicaram um crescimento no número de estudantes negros nas universidades públicas. “Em 2003, pretos representavam 5,9% dos alunos e pardos 28,3%, em 2010 esses números aumentaram para 8,72% e 32,08%, respectivamente”, afirma o documento.
Entender a representatividade destes números e a importância de políticas que visam a dissolução dessa desigualdade é compreender as ações afirmativas como medidas reparativas e não como privilégio. Privilégio é ter educação e saúde de qualidade. Condições socioeconômicas básicas que não exijam o abandono dos estudos para inserção no mercado de trabalho. Cotas são medidas reparativas, merecem entendimento e, acima de tudo, respeito.
Entenda, merecem respeito. Não venha aproveitar da situação de reparação e apropriar-se de direitos que não visam suas características e necessidades. Sim, refiro-me aos estudantes privilegiados que se vêem na liberdade de “burlar” o sistema e usufruírem de direitos que não lhes cabem. As ações afirmativas buscam reparar uma sociedade étnica e socioeconomicamente desfavorecida. Então, primeiro a entenda e, segundo, a respeite!
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