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Entenda as novas regras para o cadastro de doadores de medula óssea

Em junho deste ano, o Ministério da Saúde, através da portaria n° 1.229 alterou a idade para se cadastrar como doador de medula óssea. Antes, o doador poderia se cadastrar até os 55 anos, com a nova lei o cadastro só pode ser realizado até os 35 anos. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca) é na medula óssea que as células troncos hematopoéticas, como hemácia e leucócitos, encarregadas pelo sistema de defesa do nosso organismo; e as plaquetas, responsáveis pela coagulação do sangue são produzidas. Em alguns casos de doenças como leucemia, portadores de aplasia de medula óssea e síndromes de imunodeficiência congênita a produção das células sanguíneas ficam comprometidas, tornando-se necessário o transplante de medula óssea. O médico hematologista e hemoterapeuta, Paulo Henrique de Paiva, esclarece que existe o cadastro nacional de doadores de medula óssea (REDOME), um sistema vinculado e gerido pelo pelo Inca, órgão do Sistema Único de Saúde (SUS), no Rio de Janeiro. “Os candidatos são cadastrados e são feitos os exames de histocompatibilidade (HLA). Sempre que um paciente necessita de doador não aparentado, seu nome é incluído em um cadastro de receptores (REREME) e o sistema faz automaticamente a busca no cadastro de doadores. Caso haja compatibilidade, são enviados ao centro transplantador onde o receptor está, e o processo segue, até que ocorra a doação efetiva e o transplante”, diz o médico.

O médico explica que o cadastro brasileiro é o segundo do mundo em termos de número de doadores. Porém, o custo dos exames necessários para testar a compatibilidade é alto. “Como o doador só fica no sistema até uma certa idade, preferiu-se aceitar doadores mais jovens, que ficarão disponíveis como doadores por mais tempo, economizando, assim, recursos públicos, que são investidos na ampliação e melhora dos centros transplantadores”, explica. Ele destaca também a necessidade do maior número possível de cadastros: “Como a compatibilidade entre não familiares é muito rara, são necessários milhões de doadores para se ter um cadastro que atenda realmente aos necessitados por transplantes”.

A Supervisora do Ambulatório Transfusional do Hemocentro de Uberlândia e enfermeira, Sarah Carvalho de Miranda, ressalta que a indicação do transplante é sempre médica, já que podem existir outras escolhas de tratamento A indicação médica é necessária tanto para o transplante autólogo – quando o paciente doa a medula para si mesmo – quanto para o alogênico, que ocorre quando o paciente precisa de um doador.  

Cadastro

É possível que algumas pessoas tenham receio de se cadastrar para doação de medula, às vezes por desinformação, às vezes por medo, ou uma mistura dos dois. Por esse motivo , é necessário ressaltar que todo o procedimento é feito de forma segura. Miranda explica que o transplante é um processo cirúrgico, realizado por profissionais competentes, e que o paciente passa por  uma avaliação clínica e física antes do procedimento.

A doação só é aprovada depois de confirmado o bom estado de saúde do doador. “A gente brinca que temos que fazer o bem para o outro, sem fazer mal para a gente. Isso é a premissa de qualquer doação, pontua a Supervisora do Ambulatório. Ao ser questionada sobre os riscos, ela complementa: “Os riscos são inerentes ao procedimento cirúrgico. Requer anestesia, o paciente pode apresentar alguma alergia, mas as chances são pequenas. Além disso, por ser um processo eletivo, se o doador quiser desistir no centro cirúrgico, ele pode”.

Quero me cadastrar, o que faço?

Para se cadastrar basta ir até o Hemocentro de sua cidade. Em Uberlândia, o cadastro é realizado pela Fundação Hemominas. Segundo a instituição, é necessário ter entre 18 e 35 anos, boa saúde e não apresentar doenças como as infecciosas ou as hematológicas; apresentar documento oficial de identidade, com foto, preencher os formulários (clique aqui) e colher uma amostra de 5ml de sangue para o exame de Antígenos Leucocitários Humanos (HLA), que irão detectar a compatibilidade.

Sobre isso, Miranda explica que há muita confusão na hora do exame. “Quando recolhemos o exame, muita gente acha que já doou a medula, isso é um mito. Se você fosse fácil assim, todo mundo estaria transplantado”, brinca. A enfermeira especializada em hematologia e hemoterapia também faz um alerta sobre o cadastramento: “é muito importante manter os dados atualizados. Não adianta eu me cadastrar e não atualizar os dados porque aí não conseguem me achar”, orienta. 

Me cadastrei, fui chamado. E agora?

A supervisora explica que, caso os genes do doador sejam compatíveis com os do paciente, ele irá receber uma espécie de convocação, por e-mail ou whatsapp. O possível doador deverá comparecer ao hemocentro, em seguida é realizada uma bateria de exames mais aprofundados para investigação do seu estado de saúde. Se comprovada a compatibilidade, o doador é encaminhado para o centro transplantador mais próximo do receptor e toda a ação é custeada pelo SUS.De acordo com a Fundação Hemominas, se comprovada a compatibilidade, o doador é submetido a uma punção óssea, com agulha, onde a medula é aspirada. A coleta é realizada em um centro cirúrgico, sob efeito de anestesia, e dura aproximadamente duas horas. Além disso, a retirada não causa nenhum comprometimento à saúde, uma vez que o corpo é capaz de repor essa medula em poucos dias. Há também a coleta por aférese, semelhante com a transfusão de sangue, onde não há necessidade de anestesia ou internação. Os critérios para cada transplante são de ordem médica. 

“Doar é o orgulho da vida da pessoa. Uma vez eu atendi uma moça que doou, ela falou – você quer ver minha cicatriz? – virou o orgulho. Hoje nós temos 38 milhões de pessoas cadastradas no banco, se você comparar isso a quantidade da população mundial, é muito pouco”, relata Miranda.

A especialista destaca que a importância do cadastro não é só pela quantidade e, sim, pela diversidade. “A população tende a ser parecida no meio em que ela vive. É importante que o Brasil como todo se cadastre, para a gente ter variação de genes, aumentando as possibilidades de encontrar doadores locais”, explica.

Infelizmente, Uberlândia ainda não realiza transplantes alogênicos, apenas autólogos. Segundo Miranda, os transplantes autólogos ocorrem no município desde o final de 2017. Porém, o Hemominas busca oferecer a realização dos dois tipos a partir do próximo ano.

O Receptor 

O processo do receptor é um pouco mais complexo. Segundo informações da Fundação Hemominas, para receber o transplante o paciente é submetido a uma quimioterapia para matar as células doentes, destruindo, assim, a própria medula. Em seguida, ele passa por uma espécie de transfusão de sangue, para receber a medula saudável. Chegando na corrente sanguínea, as novas células se alojam e se desenvolvem. Miranda, explica que esse procedimento é mais complicado para o receptor, porque até a célula “pegar” no corpo, o paciente fica exposto a infecções pela baixa imunidade, precisando ter cuidado redobrado. “Quando ela (medula) começa a produzir, dizemos que a medula pegou”, conta. 

Amanhã a Conexões publica mais uma reportagem contando a história de Mikaell Augusto da Cunha, que recebeu o transplante e hoje está curado e explica mais detalhes sobre todo esse processo.



Ana Victória Moreira
anavmrosa@gmail.com
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