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Entrevista com candidatos a reitor: Arquimedes Ciloni

 

A Chapa Democracia Sempre tem Arquimedes como candidato a reitor e Fernando como candidato a vice. Algumas de suas propostas são: garantir igual tratamento entre os campi e Unidades Administrativas da UFU na execução orçamentária de projetos destinados à melhoria da estrutura física; intensificar o uso das tecnologias de segurança predial a partir da vigilância/monitoramento por câmeras e valorizar o trabalho das pessoas envolvidas com a atividade – vigilantes UFU e contratados; garantir apoio às Unidades Administrativas e Acadêmicas no processo de implantação da flexibilização da jornada de trabalho de 30 horas; ampliar a participação de discentes vulneráveis em programas de pesquisa e extensão (PIBID, PIBIC, PEIC etc); aprimorar a regulamentação da realização de eventos; descentralizar os processos de gestão financeira da UFU e do HC tendo em vista o seu aprimoramento administrativo.

 

Candidato Arquimedes Ciloni em coletiva de imprensa. Foto: Nasser Pena

 

Arquimedes Ciloni é professor efetivo da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal de Uberlândia (FECIV/UFU). Ele possui graduação em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia Civil de Araraquara e mestrado e doutorado em Engenharia de Estruturas pela Universidade de São Paulo (USP). Foi reitor da UFU entre 2000 e 2008, Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação de 1994 a 1996, Diretor do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia (CETEC/UFU) entre 1997 2000 e Coordenador das Unidades de Pesquisa do Ministério de Ciência e Tecnologia (2011-2014).

 

O candidato a vice-reitor de Arquimedes é Fernando Ferreira, professor titular da Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV/UFU). Ele foi Diretor da Faculdade de Medicina Veterinária entre 1999 e 2001 e atualmente é membro diretor do Conselho Curador-Fiscal da Fundação de Desenvolvimento Agropecuário (FUNDAP) e da Fundação de Apoio Universitário (FAU).

 

Corte de verbas

 

Conexões: A UFU recebeu, em agosto, a proposta de orçamento preliminar do MEC para 2017. Há um corte de 20% em relação ao valor que era esperado. O atual pró-reitor de Planejamento, José Francisco Ribeiro, declarou, em entrevista à Diretoria de Comunicação da UFU, que o valor é insuficiente para as despesas projetadas para 2017. Diante dessa situação, que possíveis soluções e medidas a chapa vê para reorganizar os gastos diante do orçamento e que âmbitos da UFU considera que devem ser priorizados (sofrer menos com o corte)?

 

Arquimedes Ciloni: Nós não trabalhamos com a perspectiva de que diante de cortes orçamentários vindos das instâncias superiores o que nos restaria fazer seria proceder a cortes nos gastos internos. Não é com esta lógica que nós trabalhamos. Nem eu nem o Prof. Fernando. Para nós, o gestor público tem que saber trabalhar na opulência e na crise. Ao que tudo indica, realmente nos próximos anos teremos fortes restrições nas universidades federais. Diante desta realidade, a tarefa do gestor será a de ampliar a captação de recursos financeiros por meio de novas fontes de recursos públicos que possam fazer crescer o orçamento da UFU. Nós já fizemos isso em gestões anteriores e sabemos como fazer. Por exemplo, é possível obter mais recursos em uma ação articulada de Reitores, por meio da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), para se ampliar o orçamento das instituições ou se obter emendas parlamentares voltadas para essas instituições, buscar recursos por meio dos fundos setoriais, além de várias outras possibilidades. Talvez seja possível, e necessário, também, algum tipo de aprimoramento nos processos administrativos internos que contribuam para otimizar a execução do orçamento. Se houver esse tipo de possibilidade, nós, a partir de uma ampla avaliação em cada setor, identificaremos e promoveremos as mudanças nas rotinas administrativas que se mostrarem pertinentes.

 

Assistência Estudantil

 

C: As políticas de assistência estudantil têm se mostrado essenciais para a permanência de alunos na universidade e sua demanda tem sido constantemente ampliada. Caso eleita, o que a chapa pretende fazer para reduzir o impacto sobre elas do corte orçamentário já anunciado pelo MEC?

 

AC: Mais uma vez reiteramos: nós não trabalhamos com a perspectiva de que diante de cortes orçamentários vindos das instâncias superiores o que nos restaria fazer seria proceder a cortes nos gastos internos. Não é assim que trabalhamos. Temos que, de início, lutar para que esses cortes no financiamento da assistência estudantil não se confirmem. Mas além disso temos que, novamente, em uma ação articulada de Reitores, de Pró-Reitores da área da assistência estudantil, conseguir não apenas manter os patamares atuais de financiamento, mas ampliar esse financiamento. Por sua vez, também aqui, possamos aprimorar algum procedimento administrativo com que a UFU vem trabalhando, mas isso tem que ser identificado e definido no diálogo com os próprios estudantes e com a equipe da área da assistência estudantil.

 

Segurança

 

C: Em 2015, o debate sobre a segurança dentro dos campi foi retomado. Relatos de assaltos e violência, além de uma operação realizada pela Polícia Federal que expôs o tráfico e uso de drogas dentro do campus motivou a atual gestão a anunciar medidas como o estudo de uma parceria com a Polícia Militar e a expansão e terceirização do sistema de monitoramento. Caso seja eleita, quais medidas a chapa tomará considerando a garantia de segurança na universidade?

 

AC: Com certeza não podemos fechar os olhos para as situações que envolvem as drogas dentro do campus. Temos consciência do quadro que temos hoje e enfrentaremos estas situação. Nesse sentido, o uso de tecnologias de segurança, a melhoria na iluminação dos campi e a interação com órgãos e canais de segurança pública que existem na nossa sociedade podem ajudar em grande medida neste trabalho. E pretendemos aprofundar as ações nesse sentido. No entanto, o problema da violência não pode ser reduzido à questão das drogas. Temos que lembrar que a violência pode assumir várias dimensões e nuances. Por isso, como já dissemos em nossa Carta Programa, é nosso compromisso conduzir a elaboração e implantar de forma democrática uma Política de Segurança Institucional que, além do combate a qualquer tipo de assédio sexual ou tentativa de violência sexual dentro da Universidade, privilegie a resolução não violenta de conflitos, estabelecendo um programa de capacitação permanente dos(as) profissionais que atuam na segurança e vigilância na UFU com foco em direitos humanos e no respeito à diversidade de gênero, classe, raça, etnia, geração, orientação sexual na perspectiva da Vigilância Cidadã. Uma Política de Segurança Institucional que terá ações que contemple medidas e procedimentos para a garantia da segurança das pessoas que trabalham e estudam na UFU, dos bens materiais e imateriais, assim como dos equipamentos e instalações.

 

Hospital de Clínicas

 

C: Em janeiro deste ano o HC informou que atenderia somente “casos de risco iminente de morte ou sequelas graves”. Em junho, com uma dívida de 50 milhões de reais, a direção* da unidade reconheceu esta crise como a mais grave de sua história. Foi admitido também o risco de fechar as portas permanentemente. Se eleita, que medidas podem ser tomadas para alteração deste cenário? (*Hélio Lopes)

 

AC: O enfrentamento e superação da atual crise do Hospital de Clínicas da UFU deve ser feito a partir do reposicionamento estratégico do HC como casa de ensino. Ele é o maior laboratório de ensino, pesquisa e extensão da Universidade Federal de Uberlândia e, portanto, deve ser fortalecido nesta sua identidade institucional, ao lado da consolidação de melhores condições para que ele realize sua função de assistência que, historicamente, sempre constituiu a outra dimensão que de sua identidade institucional.

 

C: Um contrato assinado em 2011 autorizou uma obra de ampliação do HC orçada em 94 milhões de reais. Há menos de três meses, mesmo com pedidos do diretor clínico** para que a sociedade não procurasse o hospital devido à inexistência de condições seguras de atendimento, o valor foi reajustado para cerca de 120 milhões de reais. Com tal quantia, o hospital poderia ser mantido por um ano. O que é prioridade? (**Paulo Sérgio de Freitas)

 

AC: A conclusão da construção do novo prédio, que está em andamento, é importante. Com ele o HC terá melhores condições para o desenvolvimento das atividades de formação dos profissionais da saúde que lá já se realiza. No ano de 2000 o HC enfrentou uma crise tão grave quanto essa. Nossa experiência daquele momento nos indica alguns caminhos importantes para a superação do momento atual. É possível trazer novas áreas de formação para se desenvolverem articuladas ao nosso HC, tanto em nível de graduação, mas, especialmente, em nível de pós-graduação; podemos aprimorar procedimentos de gestão hospitalar por meio do uso de tecnologias da informação; é fundamental fortalecer o Conselho Deliberativo do Hospital; e são nestas perspectivas que trabalharemos. Portanto, não trabalhamos na perspectiva de cortes. Pelo contrário, temos clareza que o HC se fortalece na afirmação de sua identidade institucional.

 

Campus Glória

 

C: Nos últimos anos a UFU tem lidado com uma delicada questão, a ocupação de parte do terreno da universidade no Campus Glória. Hoje, mais de duas mil famílias encontram- se instaladas no território e a UFU enfrenta uma forte pressão judicial, chegando o Ministério Público Federal (MPF) a ter bloqueado os bens dos atuais reitor e vice-reitor e também do ex-reitor por entender que houve omissão da administração da universidade no caso e improbidade administrativa no processo de “troca” de terrenos entre a UFU e o município de Uberlândia. Caso seja eleita, como a chapa pretende agir para solucionar essa questão?

 

AC: Agiremos com a prudência e responsabilidade institucional que o problema exige. Temos clareza da responsabilidade que teremos no sentido de não permitir que o patrimônio público da UFU venha a ser lesado. E nesse sentido, pelo que tem sido noticiado, a atual administração superior da Universidade e o Conselho Universitário estão construindo soluções que assegurarão que não haja esse tipo de prejuízo. Mas, também, precisamos que estas soluções assegurem a proteção à vida das pessoas que hoje habitam aquela área. Todos sabemos que uma ação de reintegração de posse que utilize a força traria grandes riscos à vida das pessoas envolvidas. Não é este o melhor caminho. Qualquer ação que venha a colocar em risco a vida de centenas e milhares de pessoas que ali vivem macularia a história da nossa Universidade. Por isso trabalharemos sempre para a construção de soluções que se fundamentam e realizam na proteção institucional e no cuidado e respeito à vida, aos direitos humanos e ao cuidado com as pessoas.

 

Campi avançados

 

C: Os campi avançados da UFU (Monte Carmelo, Patos de Minas e Ituiutaba) vêm sofrendo com infraestrutura precária. Os alunos reclamam de questões como falta de pavimentação e más condições ou ausência de laboratórios, por exemplo. Diante das reivindicações, que foram expostas fortemente durante ocupação estudantil da Reitoria em junho, a chapa traz planos para melhorar a situação desses campi a longo e curto prazo?

 

AC: Em nossa Carta Programa estão claramente expostas nossas preocupações, propostas e compromissos com os campi nas cidades de Ituiutaba, Patos de Minas e Monte Carmelo. Para nós são todos, igualmente, campi UFU tanto quanto os campi instalados na cidade de Uberlândia. Nossas propostas vão ao sentido de dinamizar os processos de construção e instalação da infraestrutura nos Campi da UFU nestas cidades, inclusive com a busca de recursos complementares ao orçamento destinado à UFU; garantir o tratamento equitativo entre as diferentes Unidades Acadêmicas e Administrativas da UFU; criar estruturas de gestão como extensão da Administração Superior e fortalecer as estruturas das Pró-Reitorias nos campi nessas cidades, e, o mais importante, assegurar a organização de Unidades Universitárias, de natureza gerencial-administrativa, nos Campi instalados nas cidades de Ituiutaba, Monte Carmelo e Patos de Minas, em articulação e integração com as estruturas administrativas existentes na sede de Uberlândia, com vistas à assegurar integração institucional, eficiência administrativa, agilidade na solução dos problemas de organização, gestão e funcionamento institucional. Precisamos, também, assegurar a composição do quadro de professores e de técnicos-administrativos nesses campi como requisito indispensável para garantir condições trabalho mais qualificadas para a realização do ensino, da pesquisa e da extensão nesses campi.

 

Eventos culturais nos campi

 

C: Os eventos culturais na UFU, tais como a Calourada e demais festas e/ou apresentações artísticas que ocorriam nos Centros de Convivência (CC), vêm sendo reprimidos há mais de um ano devido às ações judiciais do Ministério Público Federal (MPF). Os principais motivos do MPF para a proibição dos eventos têm relação com a falta de fiscalização da Universidade no que concerne à venda e consumo de bebidas alcoólicas, além do controle de emissão sonora. Diante desse cenário, como pretende atender às reivindicações dos estudantes por espaços culturais frequentes no âmbito universitário e ao mesmo tempo solucionar as regras colocadas pelo MPF?

 AC: A vida cultural na Universidade é para nós um dos pilares fundamentais da dinâmica institucional. Especialmente quando lembramos dos vários cursos, docentes, estudantes e técnicos-administrativos que trabalham na área de artes na UFU. O Instituto de Artes tem um papel muito importante na vida acadêmica e cultural da UFU e da cidade e região como um todo. Em nossa Carta Programa deixamos claro a proposta de apoiar a realização de eventos culturais e esportivos promovidos pela Universidade buscando oferecer a estrutura física e de segurança como banheiros, palco, iluminação, vigilância, etc. Dentre estes eventos estão incluídas a Calourada, as olimpíadas, festas, campeonatos e outras atividades de natureza festiva na Universidade. Nossa preocupação e compromisso é no sentido de que estas atividades se desenrolem dentro de determinados padrões de respeito e cuidado em relação às pessoas, à vizinhança dos campi e ao próprio patrimônio público. Avaliamos que é possível a retomada destas atividades na UFU, porém dentro de padrões e compromissos de responsabilidade mútua entre todos os envolvidos. Em outro momento de nossa instituição nós já soubemos lidar com esta situação, dentro de uma postura de diálogo com os estudantes e de interação com os profissionais que trabalham na segurança interna e externa da UFU. Com equilíbrio e responsabilidade vamos retomar e enriquecer a vida cultural na Universidade.

Agência Conexões
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