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Escola sem partido e sem consciência

Desvio de merenda, escolas ocupadas em diversos estados, universidades em greve e também ocupadas, entre outros problemas que assolam a educação brasileira atualmente. Mas, o que parece ser mais importante no momento é a “doutrinação político-partidária” feita por professores em salas de aula. Isso é o que defende o grupo que criou o movimento Escola Sem Partido (ESP).

 

Para eles, muitos educadores militam durante suas aulas, discutindo temas como feminismo ou homofobia, por exemplo. Isso, para eles, seria uma imposição da ideologia de gênero nas escolas, além de uma doutrinação ideológica para que os alunos pensem como os educadores. O movimento propõe algumas soluções para esse ‘mal’ presente na educação: divulgar testemunhos de alunos que teriam sido vítimas desses professores, criar leis contra o abuso na liberdade de ensinar e enviar notificações extrajudiciais para ameaçar professores que adotarem essas condutas em sala de aula.

Escola Sem Partido confunde doutrinação com desenvolvimento da criticidade. (Foto: Cesar Brustolin/SMCS)

  Como se isso fosse pouco, ainda tentam incluir o ESP na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, através do Projeto de Lei nº 867/2015. Alagoas foi o primeiro estado a aprovar uma lei inspirada nesse movimento, no final do ano passado. Outros estados também discutem nova regulamentação da atuação dos professores dentro de sala de aula, espelhados no Escola Sem Partido. 

Mas, o pior de tudo, é que não há evidências consistentes do problema. Segundo uma reportagem do site Nova Escola o ESP afirma ter muitas denúncias de doutrinação, mas o site tem registrado apenas 33 – lembrando que o Brasil tem mais de 45 milhões de estudantes. Seria essa alegação somada a uma pesquisa encomendada pela revista Veja em 2008 – que não detalha a metodologia usada – as bases de sustentação do movimento.

 

Como indaga Paulo Freire, os educadores teriam que ser, afinal, extensionistas ou comunicadores? O simples fato de “estender” o conhecimento impossibilita a capacidade critica daqueles que o recebem. Isso seria algo antidialógico. A função do professor não é apenas memorizar um conteúdo e passá-lo adiante para os alunos. É necessário fazer refletir sobre o que foi aprendido, para que a relação entre ambas as partes não seja um assistencialismo educativo.

 

Podemos ver que o ESP vai de encontro àquilo que, para alguns, seria o ideal para a formação do estudante brasileiro. Em vez de buscar que o aluno tenha acesso a todas as informações, possa problematizá-las, confrontá-las e se torne crítico, capaz de criar suas próprias convicções, o professor deverá adotar uma postura quase robótica caso não queira sofrer o rigor da lei. É mais um golpe à educação brasileira já tão maltratada e esquecida.

 

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