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Eu aprendi a amar diferente

Alegre, vaidosa e apaixonada por gatos. A mineira de Tupaciguara, Vanderleia Moura, tem 50 anos, é casada e tem um filho adulto. Hoje, cuida de 12 gatinhos em seu lar e mais 44 que ficam em uma espécie de abrigo.

Ela conta que sempre foi muito sociável, gostava de ir para baladas e barzinhos. Mas foi surpreendida, aos 45 anos, em maio de 2017, por um câncer de mama. Um ano após ter colocado prótese de silicone, percebeu que havia algo errado em sua mama. “Deitada, fui tocar na minha mama para sentir o silicone, um grande sonho, e tocando nela [na mama], percebi. Foi através do toque”, revela. Segundo estudos,  apenas uma forma raríssima do câncer está associado ao uso de implante/prótese de silicone, mas não é o caso de Vanderleia. 

A mineira conta que nunca teve o costume de se tocar e que seus exames estavam em dia por conta da prótese de silicone, por isso o choque foi grande. “Foi impactante quando eu cheguei com o diagnóstico porque meus pais são idosos e na minha família a gente não tinha presenciado uma pessoa com câncer”, lembra ela. E completa: “O nome é pequeno, mas o impacto é grande. Não fui só eu que adoeci, minha família também adoeceu. Mas todo mundo me abraçou e me acolheu”.

Para ficar curada, foi necessário uma cirurgia de quadrante – que retira apenas o local em que o tumor está localizado. Vanderleia optou por fazer a cirurgia em uma clínica particular. Porém, todo o restante do tratamento foi realizado pelo Sistema Único de Saúde, no Hospital do Câncer de Uberlândia – confira mais na reportagem feita pela Conexões. Lá, ela realizou quatro sessões de quimioterapia e 35 de radioterapia. Apesar dos efeitos colaterais comuns, como queda de cabelo e fraqueza, sua aceitação e persistência foram fundamentais. 

“Eu acordei [para vida].  aceitei ficar careca, aceitei minha mama ficar queimada [cicatrizada, por conta da cirurgia]. Os olhares são diferentes, você entra num comércio e vê os olhos de todo mundo olhando, porque eu não gostava de turbante, não gostava de peruca”, recorda. Vanderleia conta que a aceitação faz toda a diferença. “Eu era loira, tinha um cabelão, mas quis me aceitar, isso fez eu me sentir bem. Para mim não teve dificuldade nenhuma, achei que teria, mas não, fiquei bonita careca, fiquei linda”, diz. 

Sua rede de apoio familiar e acolhimento no Hospital do Câncer também foram muito importantes e, hoje, a mineira se vê uma nova mulher, transformada por tudo que vivenciou durante sua luta contra a doença. “Hoje eu vivo mais para o voluntariado do que para aquela pessoa que gostava de ir na balada. Eu aprendi a me amar e a me aceitar, a amar o próximo, a ver a dificuldade do outro e ouvir as pessoas. Aprendi a amar diferente”, revela.

Seu tratamento no hospital encerrou-se em janeiro de 2018. Porém, fora dele continua. Ela ainda precisa tomar medicamento a cada seis meses até completar 10 anos desde a primeira dosagem, além de seguir com os exames de rotina e acompanhamento. O remédio é fornecido pelo SUS e ela consegue pegá-lo na secretaria de saúde de sua cidade, mas confessa que às vezes prefere buscá-lo em Uberlândia para visitar o hospital e as amizades cultivadas naquele ambiente. 

Atualmente, Vanderleia compartilha sua experiência em um grupo no Facebook com mais de 17 mil mulheres, encorajando-as por meio da sua história. “Tem gente de todo lugar, conversamos por horas e horas e eu falo que ainda vamos nos conhecer pessoalmente porque nada é impossível”, explica empolgada. 

A mineira conta que a positividade foi sua grande aliada, mas que existiram também momentos de desânimo. “Sou um ser humano qualquer, tinham dias que batia aquela tristeza, nesses dias eu passava uma maquiagem e saia, nem que fosse para o portão da rua. Sabia que naquele dia a depressão estava perto de mim e eu não podia deixar cair”, conta.

Para todos que estão passando por esse momento, ela deixa um recado: “Tem que ter força, deitar no travesseiro e chorar. Tem que olhar para esse dia lindo que é o sol, a noite que é maravilhosa e tentar seguir em frente”. Ao ser questionada sobre sua vida hoje, responde: “Eu vivo cada dia como se fosse o último. Enquanto eu puder sorrir, ajudar, fazer a minha pessoa feliz, eu faço. Eu vivo”.

Moura posando para a campanha “Outubro Rosa”/ Arquivo pessoal / Foto: Alexandre – Grupo Luta Pela Vida


Ana Victória Moreira
anavmrosa@gmail.com
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