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Eu não quero os parabéns

Movimentos de mulheres e feministas do Distrito Federal realizam ato unificado pelo Dia Internacional da Mulher. Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil 

A romantização do sofrimento e luta das mulheres chega em seu ápice no Dia Internacional da Mulher. Data que parece sempre se perder dos motivos originais e terminar exaltando a força feminina frente à desigualdade, o assédio, a exploração. Além de reforçar o padrão de doçura e loucura da mulher feminina e ideal. Tira-se um dia para desejar Feliz dia da Mulher a todas que encontramos nas ruas.

 

Esta não é, nem nunca foi, uma data a ser empregada e usada para reafirmar os estereótipos de mulher socialmente aceitos. Na verdade, a data é parte do resultado da luta por direitos e reconhecimento enquanto cidadãs de mulheres da classe operária. Primeiramente, com ondas grevistas nos Estados Unidos, em 1909, depois pela indignação com a morte de trabalhadoras em um incêndio, em 1911, do qual culpados nunca foram punidos e, ainda, com a paralisação de  mulheres operárias na Rússia, em 1917, que impulsionou o início da revolução socialista naquele país. A escolha pelo mês março para protestos marcou vários movimentos grevistas em diversos países naqueles anos. Por isso a escolha do dia 8, quando, em 1975, ocorreu a oficialização do Dia Internacional da Mulher pela Organização das Nações Unidas (ONU).

 

No Brasil também não há motivos para comemorar. A taxa de feminicídios é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Fórum Brasileiro de Segurança Pública estima que devem ter ocorrido entre 129,9 mil e 454,6 mil estupros no País em 2015, apenas 45.460 casos foram registrados. Ao calcular a média, considerando somente os boletins de ocorrência registrados, em 2015 ocorreu um estupro a cada 11 minutos no país.

 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 22 milhões de abortos inseguros ocorrem todo ano no mundo, e estima-se que 47 mil mulheres morrem anualmente por complicações decorrentes de práticas inseguras para a interrupção da gravidez. A representatividade política também não permite comemorações. O Congresso brasileiro é 116º em ranking de 190 países sobre representação feminina na política, com apenas 9% da Câmara e 13% do Senado sendo mulheres, de acordo com dados da União Inter-Parlamentar.

 

Felizmente, há inconformidade com a situação de cidadãs de segunda classe,  motivando protestos e paralisações em todo o mundo no dia de hoje. O movimento Ni una menos e a Marcha das Mulheres de Washington foram inspiração para a convocação de uma Greve Internacional das Mulheres por movimentos em prol dos direitos das mulheres em vários países. No Brasil, o protesto organizou-se em torno das ações da 8M em diversas cidades.


Sem efetivamente lidarmos com as questões sensíveis a qualidade de vida da mulher como legalização do aborto, o fim cultura do estupro, políticas efetivas contra o feminicídio, uma reforma previdenciária que leve em conta a dupla jornada feminina, a real representação política balanceada, e a inclusão da discussão de gênero e planejamento familiar nas escolas, não é possível aceitar os parabéns.
 

Agência Conexões
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