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Eu não quero voltar pro armário

Me perguntaram quanto tempo eu gasto em redes sociais. Obviamente, eu não soube responder. Mas, sei que são muitas. De memes até ofertas de emprego, talvez também ofertas de emprego com memes, ocupo as horas do meu dia com o celular na mão, navegando pelos aplicativos a fora. Curtidas, comentários, reações. Estas  últimas, na rede social do Mark, ganharam uma nova companhia. Seguindo o exemplo da florzinha da gratidão, pros dias das mães, no mês de junho temos a bandeira do orgulho LGBT como um dos tipos de reação possíveis nesta rede, em comemoração ao dia mundial do orgulho da causa.

 É preciso visibilidade LGBT em todos os locais, no mercado de trabalho não é diferente. | Fpto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Como não devemos perder as oportunidades da vida, pois elas não duram muito, minhas reações utilizando a bandeira do orgulho vão de links de testes “descubra se você é Maiara ou Maraísa” a notícias de sites diversos. Posts de empresas apoiando a causa LGBT também ganharam dois segundos do meu tempo para reagir dessa mesma forma.

 

Foram empresas diversas e em grande escala que aderiram a esta comemoração. Algumas mudaram suas embalagens, outras apenas colocaram mais cores em uma publicação. Colocaram também um questionamento na minha cabeça, que rendeu um tuíte  na rede social vizinha: “Sas empresas dizendo que apoia a causa LGBT, mas vem cá, na hora de contratar funcionários cês tão apoiando tb ou cês só estão querendo likes?”

 

Em uma sociedade LGBTfóbica, no mercado de trabalho não é diferente. Gays e lésbicas, logo na entrevista de emprego, acabam optando por não revelar suas orientações sexuais. Muitas vezes escondem os trejeitos, por não se sentirem confortáveis e por medo de sofrerem consequências desagradáveis. Um retrocesso, pois são levados a abrir a porta do armário e, depois, os fazem se trancarem novamente ali.

 

Travestis e Transexuais encontram empregos apenas na prostituição.   Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, mais de 90% desse público está vivendo unicamente dessa forma. Arrisco afirmar que os 10% que não vivem essa realidade, tiveram ou irão ter problemas em relação a sua identificação. Prova disso é o empecilho encontrado ao nome social.

 Em 2014 , em uma lanchonete de fast food, um senhor se negou a ser atendido por uma transexual. O gerente do estabelecimento, que era gay, foi chamado e, consequentemente, a polícia também foi acionada.Para surpresa dos envolvidos, um dos membros da equipe policial também era homossexual. Esta situação levou o senhor a questionar: “só tem bicha nessa cidade?”. Casos como esse infelizmente ilustram a realidade do mercado preconceituoso. Mas, servem também como exemplo de comportamento a ser adotado por patrões. É preciso que as empresas sejam abertas a contratarem empregados LGBT’s, e busquem criar processos contra a discriminação no espaço de trabalho, incentivando um local onde esses sujeitos se sintam acolhidos. Pois, estes, que estão a margem e que estão sempre a um passo atrás, precisam correr enquanto a outra parte da sociedade anda a passos lentos.  Eu quero correr, mas em busca dos meus direitos: de não precisar me inibir em cruzar as pernas durante uma entrevista, de poder ouvir Anitta no intervalo do trabalho sem medo de ser apontado e incentivar a minha empresa a lutar pelos direitos LGBT’s não só no Facebook, mas também no mundo real.  Nas redes sociais, o like motiva os usuários e as empresas mas apoiar a causa vai além de um simples curtir. É preciso 365 dias de luta e conscientização LGBT. Por isso, Mark, aí vai uma dica. A bolinha de reação do orgulho deveria permanecer durante todo ano, junto da florzinha da gratidão, para que encher essa rede social com mais cores e flores, de janeiro a janeiro.

Agência Conexões
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