Observatório Luminar
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Fetichismo do mercado e reificação do trabalhador

ARTIGO | Em momento algum é possível duvidar de que os números foram claros na pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha sobre a reforma trabalhista. O maior número dos entrevistados, 58%, acredita que a aprovação da reforma proposta pelo Governo diminuirá os direitos dos trabalhadores. A mobilização social aconteceu com greve geral, manifestações no primeiro de maio e a busca por negociações entre entidades sindicais e parlamentares. Porém, um dos aspectos mais interessantes de ser avaliado nesse processo é o abismo cada vez mais profundo entre os representantes e os representados do nosso sistema político. A existência de bancadas setoriais, como a ruralista e a empresarial, nas casas de poder não é uma novidade. A promiscuidade na relação entre políticos e instituições privadas também não. E isso resulta no favorecimento desses setores em detrimento dos interesses comuns dos cidadãos. Fica cada vez mais evidente que as demandas e direitos dos eleitores estão no final da fila das prioridades dos deputados e senadores. Como a reforma trabalhista aprovada pela Câmara na última quarta-feira, que propõe uma mudança radical na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). A possibilidade de aumento das jornadas diária e semanal de trabalho, de maior fracionamento das férias e diminuição no tempo de intervalo são algumas das mudanças, caso a proposta seja aprovada no Senado.  Deputados da oposição sobem à mesa da câmara para protestar contra a votação da reforma trabalhista. Foto Lula Marques/AGPT Não bastassem essas mudanças, o que mais impressiona na proposta é a prevalência do acordado sobre o legislado nas relações trabalhistas. Isso significa que os pactos firmados entre patrões e empregados se sobrepõem às próprias leis vigentes. O que, no contexto de crise econômica e de altos níveis de desemprego da atualidade, se torna a fórmula de ouro para que as condições de trabalho sejam flexibilizadas ao máximo e, como consequência, favoreçam os empregadores. Tudo isso sustentado por grande parte dos nossos parlamentares. Ainda, para completar o pacote, tramita na Câmara a reforma da previdência e já foi sancionada a Lei da Terceirização. Isso evidencia que, para muitos representantes, não são válidas as estatísticas de opinião pública. Não importa que 64% dos brasileiros acreditem que a reforma trabalhista beneficie principalmente os patrões. Pouco a pouco, a noção de representação política tem se perdido no tempo, e os eleitores só têm valor quando são coisificados, transformados em nada mais que um número: o voto.  

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