
10 abr Futebol: da paixão a violência pública
Legenda: “Guerra do Pacaembu”, briga entre palmeirenses e são-paulinos em agosto de 1995. Foto: Djalma Vassao – Estadão Conteúdo
Brigar, matar e morrer por causa de futebol. Esta ainda é uma realidade no Brasil no esporte mais popular do país. A responsabilidade pela segurança de um evento de futebol no Brasil é destinada a Polícia Militar. Quanto mais cotado o jogo, como um clássico regional, mais policiais são convocados, pois uma segurança particular não seria o suficiente. A proporção de policiais em relação ao público pagante é baixa.
Tomando como exemplo os dois jogos da final do campeonato mineiro de 2017 é possível visualizar essa discrepância. O primeiro jogo teve 1.146 policiais para 40.694 pagantes e o segundo, 2.500 para 22.411. Nesse cenário, em caso de conflito, a polícia apelará para o uso da força devido a essa proporção existente, piorando mais ainda a situação. Os que realmente prestigiam esses eventos acabam não indo ao estádio por medo e os que vão sofrem com a polícia, que utiliza da repressão e não de medidas preventivas realmente capazes de solucionar o problema.
Em pesquisa recente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 68% dos entrevistados disseram não ir aos estádios por questão de segurança, o que demonstra que a falta de controle da violência nos estádios termina por privar a população de comparecer a um evento de um esporte que faz parte da cultura nacional. O porquê dessa estatística é ainda mais evidenciado quando observamos que o Brasil é o primeiro no ranking mundial de mortes envolvendo o futebol. Em um período de sete anos são 134 mortos, praticamente todos homens e jovens.
Tais violências estão quase sempre ligadas às torcidas organizadas. O Estatuto do Torcedor considera “torcida organizada, para os efeitos desta Lei, a pessoa jurídica de direito privado ou existente de fato, que se organize para o fim de torcer e apoiar entidade de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade”. O que sabemos que não é realmente o que acontece, muitos membros de tais torcidas são pessoas infiltradas de organizações criminosas, que estão ali apenas para estabelecer relações de poder e financiar e movimentar dinheiro.
O Brasil também é um dos países mais violentos do mundo, onde mais policiais matam e morrem, onde os índices de homicídios a homossexuais, mulheres e negros são um dos mais altos do mundo. A sociedade brasileira é marcada por violência, discriminação, exclusões, precariedades e impunidades. A violência no futebol é apenas um reflexo.
Não adianta ir pelo caminho mais fácil para solucionar a violência no futebol. Soluções, como acabar com as torcidas organizadas e implantar a torcida única em todos os estádios não resolveria, apenas colocaria a sujeira para debaixo do tapete. A questão cultural da violência é permutada em todos os setores, os ânimos aflorados transformam a paixão por um clube em animosidade e, posteriormente, os jornais espetacularizam esses acontecimentos, impedindo um papel fundamental da mídia sobre a população.
O futebol tem um grande peso simbólico no Brasil. É claro que resolver o problema da violência no futebol não vai acabar com a violência geral da sociedade, mas pode contribuir para amenizar o clima vivido no país. Pois o futebol não é apenas um jogo, é também economia, política e cultura. Políticas públicas eficientes de prevenção e melhoria devem ser implantadas com objetivo de reverter esse triste quadro e permitir que o esporte mais popular possa ser livremente apreciado por aqueles que assim desejarem.
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