11 jun Futebol feminino: espaços que ainda precisam ser preenchidos
O futebol feminino cresceu em um berço preconceituoso de machismo e desigualdade. Muitas jogadoras deram seus primeiros chutes nas ruas com meninos e ouviam bastante “isso é coisa de homem”. Ainda bem que, mesmo com dificuldades, houve quem lutasse por espaço e visibilidade.
2019 é um ano de transformação. A Conmebol – Confederação Sulamericana de Futebol – exigiu que os times masculinos tenham uma equipe feminina para participarem da Libertadores. Para um bom futebol, não basta só a criação dessa categoria, mas é necessário que haja investimento nas bases para o desenvolvimento do esporte e preparação das mulheres para diversas competições.
Com essa exigência, a segunda divisão (A2) do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino atingiu mais que o dobro de clubes participantes em relação à temporada passada, de 16 para 36.
É muito espaço para as mulheres. Mas um ponto a se destacar é que nem tudo é tão bom quanto parece, ainda há muito para ser conquistado. Um exemplo é que os jogos desse campeonato acontecem em horários que não favorecem a torcida, em geral, são disputados em dias de semana no meio da tarde, ou seja, o público é pequeno para grandiosas partidas. Um jogo à noite gera mais custos do que um à tarde, mas sabemos que futebol é produto, dessa forma, por que não fazer um investimento e receber os resultados adiante? Acredito que seja ainda a falta de confiança nos chutes femininos.
É preciso criar intimidade do time feminino com o público, é necessário que ele saiba da existência e conheça minimamente o trabalho realizado pelas jogadoras e suas equipes, ninguém conhece que não é mostrado. O futebol feminino precisa invadir as redes sociais, os programas de TV, os comerciais; precisa ganhar destaque comercial tanto quanto o masculino. Em 2019 vivemos um cenário de maior visibilidade do futebol feminino, tempo de muitas “primeiras vezes”: primeira vez que a Copa feminina é transmitida pela Globo e primeira vez com o uniforme desenhado e pensado para mulheres, mas não é a primeira a copa.
No Brasil, as pessoas param para assistir a seleção masculina jogar e, mesmo com frustrações, é fácil encontrar famílias, amigos, colegas de trabalho reunidos e acompanhados de tira-gosto e cerveja. Algumas empresas grandes como Bayer, O Boticário, Heineken, Nubank, Ambev, Falconi vão liberar os funcionários para assistirem os jogos e também divulgar o horários das partidas. A nível local, em Uberlândia, a CDL, o Sindicomércio e a Prefeitura Municipal até o momento não têm nenhuma informação a respeito de pausa no comércio para os jogos da seleção feminina brasileira, como ocorre nas copas masculinas. A falta desse apoio impede maior aproximação com as mulheres que representam nosso país em campo, dificulta a quebra de tabus e mantém o preconceito ao redor do futebol feminino.
Outra questão de destaque é a diferença salarial do futebol feminino e masculino. Segundo o site Hypeness, a seleção brasileira feminina vai ganhar um quarto do que Neymar ganhou na copa da Rússia. Ainda, de acordo com documento disponibilizados pela FIFA, serão destinados por volta de 30 milhões de dólares para cada seleção, sendo que na Copa da Rússia de futebol masculino, o investimento foi de de 400 milhões de dólares. Essa variação salarial faz com que mulheres se sintam desanimadas com o futebol feminino e, principalmente, gera menos preparação e alcance, o que compromete o desempenho dos clubes e a qualidade das equipes.
Não se pode negar que já é um grande espaço conquistado: mais clubes, times disputando confrontos em grandes estádios, emissora de grande audiência na cobertura da copa, mas a luta não pode parar. Precisamos de mais mobilização pelo futebol feminino, precisamos prestigiar, precisamos incentivar. Essa luta é de todas as mulheres que prezam por mais espaço na sociedade, visibilidade e conquistas. Essa luta é nossa!
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