21 jul Há 19 anos a ONG SOS Mulher e Família presta suporte a casos de violência familiar
Pessoas doando seu tempo em prol do próximo, esta é a ONG SOS Mulher e Família. A instituição foi fundada com a participação, quase unicamente, voluntária e contando apenas com um profissional remunerado. Cláudia Cruz, psicóloga e presidente da ONG há quatro anos atua desde a criação do espaço como voluntária. “Além de ser um trabalho de prestação de serviço ele também é um trabalho político, no sentido de, diante da comunidade, lembrar e reforçar sobre a importância da criação de políticas públicas para o combate da violência contra a mulher. ”.
A ONG foi criada a partir de ações de pesquisadores do núcleo de estudos de gênero da UFU, que viram a necessidade de implementação de ações que lidassem com a demanda de casos de violência. Seu surgimento e estruturação foi baseado em uma instituição similar, que fica em Campinas, a ONG SOS Mulher de Campinas naquele momento já tinha 18 anos de trabalho de combate contra a violência à mulher.
A iniciativa presta atendimento desde março de 1997. Grande parte de sua estruturação teve como suporte a instituição de Campinas, mas também foi incorporando novas técnicas de abordagem. Os serviços promovidos no espaço contam com atendimento ampliado e continuado, que é o que Cláudia explica. “A gente entende que a questão da violência é muito ampla e muito complexa, ela não se resume simplesmente em um encaminhamento jurídico, antes disso tem toda uma problemática que a gente precisa entender para poder intervir”.
A necessidade de um atendimento amplo surgiu a partir dos registros constantes, nos primeiros anos de instauração da ONG, de casos parecidos, Cláudia explica: “Havia o registro da ocorrência, um processo contra o autor da violência, que via de regra era o marido ou companheiro, mas num segundo momento havia a retirada desse processo, desse registro contra o autor da violência, isso era praticamente um ciclo vicioso”. Esses comportamentos por parte da mulher violentada levaram os profissionais a alguns questionamentos e à conclusão que os auxílios a estes casos deveriam ir além da manutenção jurídica, por isso a necessidade de ampliação na abordagem destes casos, com a oferta de suporte social e psicológico, além da abordagem jurídica, que de certa forma fica em último caso nessa triagem. Associado a essas modalidades de atendimento também são realizadas atividades educativas preventivas junto à comunidade, com o intuito de informar a população sobre a violência e como agir em situações deste tipo.
Atendimento
A ONG recebe demandas espontâneas, mulheres que procuram o espaço de atendimento, como também há o encaminhamento por parte de outros órgãos, como os da Rede da violência contra a mulher ou a partir de outros aparelhos de atendimento social e de espaços jurídicos, como delegacia da mulher, primeira vara civil, dentre outros. A instituição trabalha no acolhimento à demanda, qualquer pessoa que vivencia uma situação de violência no contexto da família recebe atendimento na instituição, o que hoje soma um total em média de 800 atendimentos por ano. Primeiramente existe o contato de psicólogos e assistentes sociais que estudam a ocorrência. A partir daí, se houver, de acordo com as características do acontecido, a necessidade de uma intervenção da delegacia isso é sugerido para a pessoa, que vai buscar este tipo de encaminhamento, caso acredite ser preciso. Todo o processo judicial acontece de acordo com as determinações dos associados.
O diferencial do órgão é a assistência ampliada, o que o distingue de um atendimento associado à delegacia, uma vez que no ambiente são ofertados atendimentos que vão além da abordagem jurídica, o que Cláudia elucida. “Via de regra o SOS trabalha muito mais com uma abordagem que leve a pessoa a ponderar sobre esse processo de violência que ela tá vivendo e, inclusive para que ela consiga identificar alternativas pra lidar com o processo de violência ou pra rompê-lo, se ela entende que não consegue ou não é viável permanecer nessa relação”.
Rafael Silva, como psicólogo, é quem estabelece um dos primeiros contatos no atendimento aos associados. Ele trabalha na ONG desde julho de 2015 e conta como acontece essa triagem e acompanhamento. “As mulheres quando chegam aqui elas passam por um atendimento social. Primeiramente, ela é acolhida com um ou mais atendimentos, porque a gente entende que existem demandas que são urgentes. Então esse atendimento, já com a assistente social, a gente tenta sanar um pouco dessas demandas, às vezes fazer uma denúncia, tentar proteger essa mulher vítima de violência, ver como que a gente pode fazer isso, alguma questão psicológica, talvez ela está muito afetada, angustiada, às vezes fica inviável dela ir trabalhar e a gente conversa sobre essas questões”.
A ONG fornece atendimento psicológico tanto individual quanto em grupo, o que tem trazido bons resultados, de acordo com Rafael. “Essas mulheres que vem aqui para o atendimento e tem uma experiência de grupo é a possibilidade de falar de seu sofrimento, de talvez ser escutada, ser compreendida, de ser aceita naquele grupo. E isso é fantástico, porque é a possibilidade dela se incluir na comunidade. Nessa comunidade que a gente cria nesse grupo específico. Pode haver trocas de experiência, de sabedoria, de como lidar com essa violência”.
Nas terapias em grupo são discutidos vários assuntos referentes a temáticas que estão permeando o campo feminino, que vão desde a gestação até a violência em si. Rafael pondera a importância desse acompanhamento psicossocial como sendo um dos fatores responsáveis até mesmo pelo fim da violência, pois é a oportunidade dessa mulher entender e conseguir lidar melhor com a situação em que vive. Ainda segundo o psicólogo, a demanda sobre casos de violência é grande, mas eles estão trabalhando em busca de tentar amenizar tal cenário. “Não é o único dispositivo. Não é suficiente. Não supre e não vai suprir, mas é um passo, é um dispositivo, mais uma possibilidade”.
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