08 jul “Há um combustível que nos dá essas esperanças de que as coisas irão melhorar”
Por: Genivan Júnior e Vanessa Gianotti
Dia 8 de julho é celebrado o Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador. A legislação que estabelece a data festiva é a Lei nº 11.807/2008, em razão da comemoração da criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, neste mesmo dia, em 1948.
Para marcar a comemoração, a Conexões traz hoje uma entrevista com o professor Celso Martins Belisário. Licenciado e Mestre em Química pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e Doutor em Ciências pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), atualmente é professor efetivo da Área de Química do Instituto Federal Goiano (IFGoiano – Campus Rio Verde) e docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos, com projetos relacionados a métodos de conservação de frutos do Cerrado. Também atua como coordenador do curso de Engenharia Ambiental do IFGoiano desde 2017.
Conexões: Quando começou sua vontade de ser um pesquisador?
Belisário: Desde criança eu já gostava muito de questionar tudo, mas quando ingressei no curso de Química, em 1999, comecei a ter mais interesse pela ciência em si.
Conexões: O que lhe interessa nessa área? O que lhe instiga?
Belisário: Eu estou envolvido em duas áreas: no Ensino de Ciências e na tecnologia de alimentos. O que me atrai mais na área do Ensino de Ciências é o estudo da aprendizagem de estudantes e seu interesse pelas ciências. Na área de alimentos, eu busco sempre com meus projetos avaliar: os frutos do cerrado com compostos bioativos, principalmente associados a atividade antioxidante.
Conexões: Você acha que existem muitos jovens interessados na área científica hoje?
Belisário: Está reduzindo a cada ano. Atualmente, estamos em um momento em que se negam os fatos científicos por modismos, como exemplo, grupos terraplanistas e anti-vacinas. Há um descrédito na ciência por parte de certa fatia da sociedade, mas não creio que seja consciente. Foram manipuladas por uma onda de ceticismo e não possuem conhecimentos suficientes para questionarem.
Conexões: E como combater essas fake news que são prejudiciais à sociedade de maneira mais direta, com mortes pela falta de vacinação, por exemplo, possuindo um escopo menor de formandos?
Belisário: Acho que o momento é de levar a ciência para a sociedade em geral. Simplificando um pouco a linguagem que usualmente é editada em periódicos científicos, a fim de alcançar a sociedade. Acho que só assim a credibilidade e a função social da ciência voltam a ser pontos apoiados e compreendidos pelo povo. Além disso, atividades em ambientes públicos, como feiras e praças, podem atingir um grupo social que provavelmente terá maior interesse, a partir de contatos dessa natureza. Tendo esse conhecimento, as fake news não poderão enganar mais essas pessoas, [elas] terão condições mínimas de [se] questionar.
Conexões: A área científica recebe um repasse menor de verbas. E com esses possíveis cortes de bolsas, como será possível levar a pesquisa adiante?
Belisário: A redução de verbas atinge primeiro as bolsas. Os estudantes de Iniciação Científica, mestrado e doutorado, que fazem jus às bolsas, se dedicam aos projetos de pesquisa por mais tempo do que os não bolsistas. Essa verba é vital para que se alimentam, usem transporte, paguem aluguel. A ciência, tratada como base do desenvolvimento social, contaria com aumento de investimentos, não com redução. Com a tendência de cortes, a qualidade dos trabalhos cai, há menos procura por parte de alunos, programas fecham por falta de produtividade. A tendência é que a pesquisa seja sucateada a nível nacional.
Conexões: Para finalizar, com um quadro tão difícil na ciência atualmente, como continuar? Por que é importante lutar pela área científica e ainda estimular novas pessoas a entrarem nesse meio?
Belisário: Continuar é preciso. Há um combustível que nos dá essas esperanças de que as coisas irão melhorar. Sabemos que não há desenvolvimento sócio econômico sem o desenvolvimento científico. Quanto aos investimentos, creio que precisamos investir em parcerias de financiamento privado das pesquisas, empresas investindo em pesquisas que possam resolver problemas. E o estímulo é contínuo, mesmo em situações difíceis, a ciência se constrói, e ainda tem seu lado chamativo, mesmo que em baixa, mas ainda é interessante para muitas pessoas.
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