04 set Incerteza é a tônica após os cortes do MEC
Por: Pedro de Paula
No primeiro semestre de 2019, o Ministério da Educação (MEC) anunciou o bloqueio de uma parte do orçamento das Universidades e Institutos Federais do Brasil. De acordo com o governo, esses cortes foram aplicados em gastos não obrigatórios como água, luz, funcionários terceirizados e bolsas pesquisas, ensino e extensão. Essas mudanças surpreenderam os estudantes de todo o país e instalaram um clima de medo e incerteza nos campi das instituições afetadas.
A falta de investimento nas produções de pesquisas científicas e em projetos para a comunidade externa foram as ações que mais impactaram, tanto os estudantes, quanto a comunidade externa às universidades. Pelos campi universitários federais encontramos diversos relatos de estudantes que perderam auxílio estudantil, os benefícios destinados a auxiliar alunos de baixa renda a se manter durante a realização do curso, além de auxílio pesquisa e outros tipos de bolsa, que cobrem os gastos de determinados projetos, como por exemplo, as iniciações científicas.
Uma das estudantes afetadas pelos cortes na Universidade Federal de Uberlândia foi Amanda Marques, de 20 anos. Apaixonada por palavras, ela saiu de sua cidade natal, Patos de Minas, com o intuito de fazer diferença na graduação, que desde pequena sonhava em cursar, o Jornalismo. A trajetória de Amanda começou bem, ela logo se adaptou ao ritmo frenético do ensino superior. Em menos de um mês, entretanto, a garota que vivia com fartura no seu lar, já sabia que precisaria abster-se de seu lazer e outros itens para pode comprar o arroz do dia seguinte.
No segundo período de curso, ainda lidando com a saudade de casa e a incerteza do amanhã, Amanda foi convidada para participar de um projeto do curso de Jornalismo, o jornal laboratório Senso Incomum. No projeto, Amanda teve oportunidade de desenvolver suas habilidades jornalísticas e aprimorar seus conhecimentos na área, e, em troca do seu comprometimento e produções de qualidade, a estudante passou a receber auxílio do Programa de Bolsas de Graduação (PBG). Eram os quatrocentos reais mais bem ganhos de Amanda.
Aos poucos, a vida da futura jornalista foi se transformando, assim como sua vida acadêmica. Com o dinheiro que Amanda recebia com a bolsa, foi possível trocar seu minúsculo quarto no pensionato por um maior e mais confortável. Era possível fazer a feira do mês e até alguns luxos, como amaciante para as roupas. Além disso, ao se livrar dos pensamentos sobre o que iria comer no dia seguinte ou sobre como iria pagar as contas do final do mês, seu rendimento na graduação melhorou e, finalmente, ela pode se dedicar exclusivamente ao seu curso.
No entanto, a fase boa estava com os dias contados. Amanda, pouco tempo após renovar sua participação no projeto, recebeu a notícia que não seria auxiliada pela bolsa, pois ela estava entre os itens atingidos pelo corte. Nesse momento, um filme passou diante dos seus olhos e ela se viu vivendo na mesma angústia de quando começou o curso, pedindo dinheiro emprestado para seus amigos para poder comprar comida. Um retrocesso que ela não quer viver.
Apesar de não ser uma rotina saudável, a iminentemente realidade de Amanda é vivida por vários outros estudantes de institutos federais. Uma situação ainda desconhecida para grande parte da população. É uma realidade que precisa ser conhecida para que expressões como “balbúrdia” e “lugar de vagabundo” não sejam relacionadas às universidades. Quem está dentro de uma instituição de ensino superior está, simplesmente, buscando por uma vida e oportunidades melhores.
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