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Leitura: um passaporte para o conhecimento

Menina participa de atividade no Dia Nacional do Livro Infantil.  Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

 

CRÔNICA – O lugar era um shopping center, o mesmo vai e vem de pessoas, tudo como sempre é. A não ser por uma feira de livros que nem sempre está ali. As placas informando os preços me chamaram a atenção: cinco, dez e, uns dos mais caros, por 20 reais. Com esses valores, era possível comprar desde livros infantis, até clássicos, como Machado de Assis.

       

De repente, um burburinho começa e o volume daquelas conversas vai aumentando aos poucos. Era como uma avalanche chegando. Uma avalanche de crianças, carregadas de olhares ávidos. Não é exagero, elas estavam realmente maravilhadas com os livros. Percebi que vinham da Escola de Educação Básica da UFU (ESEBA) pelos uniformes que usavam. Olhavam, pegavam, iam até a professora para dizer que já tinham escolhido um livro. Ela tentava manter algum controle sobre aquela empolgação toda, anotando um por um, o nome e a obra escolhida por cada criança. Alguns eram indecisos, voltavam atrás, conversavam com os amigos, sentavam em grupos, olhavam as figuras com mais calma. O barulho das conversas e risadas estava sempre presente, deixando bem claro que elas queriam estar ali.

       

Enquanto eu observava tudo aquilo, uma menina, com o livro do Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, nas mãos, se aproximou. Ela ria, observando uma das páginas ilustradas. Perguntei se gostava do que via, ela respondeu que sim com um gesto de cabeça empolgado. Quando fui conversar com uma das professoras o que acontecia ali me pareceu ainda melhor de se ver. Ela explicou que as crianças estão no primeiro ano do ensino fundamental e têm a idade de cinco e seis anos. As professoras enviaram um recado aos pais, pedindo autorização para levar os alunos à feira de livros e solicitando cinco reais de cada um. Com esse dinheiro, cada criança poderia levar um livro para casa.

       

O que eu vi naquela sexta-feira, me lembrou de uma pesquisa realizada, em 2015, pelo Instituto Pró- Livro, com execução do IBOPE Inteligência.  Vários dados em relação à leitura dos brasileiros foram coletados e um, em específico, se relaciona bem à atitude daquela professora. De acordo com a pesquisa, 33% dos brasileiros têm gosto pela leitura porque foram influenciados por alguém. A influência de um professor ou professora aparece em segundo lugar, em 7% dos casos, ficando atrás apenas da influência da mãe ou alguma responsável do sexo feminino (11%).

      

A pesquisa é pertinente e importante, mas mesmo sem ela, o papel dos professores e professoras no gosto pela leitura é fácil de ser percebido. Aquelas crianças tiveram a experiência de sair da sala de aula, ir a um lugar voltado para o consumo, e voltar de lá com livros baratos e, principalmente, que as agradavam e despertavam para o ato de ler. Elas estão começando agora a entender que o juntar de letras e sílabas levam a vários sentidos. Nada mais sensível, por parte das professoras, e encorajador para as crianças, do que esse incentivo. Que essa iniciativa continue e muitos livros passem pelos olhares empolgados que vi naquele dia.

 

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