24 set Leonardo Boff: alimentando perspectivas para o futuro
“Quem vai superar o capitalismo? É a Terra. Ela vai castigar esse sistema”, disse Genézio Darci Boff. Questões como as mudanças climáticas, a lógica capitalista de exploração e o momento político que o Brasil atravessa, foram temas centrais da coletiva de imprensa com o professor, teólogo e escritor, mais conhecido como Leonardo Boff.
A coletiva aconteceu na manhã da última terça-feira (20) e foi promovida pela Associação dos Docentes da Universidade Federal de Uberlândia (ADUFU). Leonardo Boff chegou na sede da associação pela manhã, risonho e cumprimentando todos os presentes. Participaram do evento jornalistas de mídias alternativas e coletivos.
Leonardo Boff começou respondendo sobre a questão do cenário político do Brasil. Ele reforça que vivemos, recentemente, uma ofensa à soberania popular, um golpe parlamentar e de classe. O professor analisa as raízes deste fenômeno e diz que, “sempre que há um benefício significativo, que pode ser consolidado em favor das classes dos dominados e marginalizados, as classes dominantes, tomadas pelo medo, dão um golpe para garantir a natureza da sua acumulação e não se sentirem ameaçados pelos novos sujeitos históricos.”
Além disso, o professor destacou que os brasileiros sentem os reflexos de um governo que não tem legitimidade e pouco apoio popular. De acordo com Boff, governo que está “aplicando o neoliberalismo mais cruel que conhecemos, desmontando praticamente todas as conquistas sociais”. O professor dá destaque para as áreas que têm sido mais prejudicadas: a saúde e a educação. “Diminuirão até liquidarem o SUS para privatizar o sistema de saúde. Isso é entregar os pobres à morte, pois eles não têm como pagar consulta e comprar remédio. Segundo, a educação, estão desmantelando todos os auxílios aos processos educativos.”
Dificuldades em implantar políticas públicas
Leonardo Boff fez críticas ao sistema capitalista e à lógica dominante da acumulação ilimitada. Segundo ele, isso foi o que levou, por exemplo, ao colapso da bolha especulativa, em 2008, nos Estados Unidos e à quebra de bancos como o Lehman Brothers, fazendo o Estado norte-americano assumir essas dívidas. De acordo com Boff, no contexto capitalista fica difícil efetivar políticas públicas. “Acho que só é possível mediante a grande pressão popular em que multidões cobrem do Estado projetos concretos, fazendo coligações com setores e partidos que tenham raízes populares e que podem representar os projetos na Câmara. Mas, [apenas] o Estado mesmo é muito fraco para impor políticas públicas.”
Escola sem partido
“Não existe escola sem ideologia”, afirma Boff, que também defende que as escolas têm a função de formar cidadãos críticos que sejam solidários, pensem no país e que saibam renunciar em função do bem comum. “É direito de todo o estudante saber quais são as grandes ideologias do mundo de hoje”. E conhecê-las, segundo o professor, “é exercer sua liberdade. (…) Negar que haja essa discussão na escola é reduzir as pessoas à alienadas a serem vítimas da ideologia dominante, que é profundamente excludente, elitista e conservadora”
Esperanças
Mesmo o Brasil vivendo um momento político tão singular, Leonardo Boff ressalta que é preciso fazer uma reflexão sobre esse tempo e “pensarmos para, além disso, alimentar nossas utopias que estão esmoecendo e ao mesmo tempo ultrapassar o ódio, as discriminações que estão na classe e sociedade. Pensarmos mais no país do que nos partidos, mais no futuro de um povo do que nas disputas por hegemonia política.”
Durante a noite, na UFU, Leonardo Boff ministrou a palestra “Utopias libertárias: Ainda há espaço para a política?”. O evento faz parte das comemorações do aniversário de 37 anos da ADUFU.
Confira a entrevista em vídeo:
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