
23 maio Liminar que ordena o retorno parcial dos cobradores é um alento, mas não resolve o problema
Uma decisão micro para um problema macro. Convenhamos, partindo do ponto em que é melhor pingar do que secar, a Justiça Federal de Uberlândia acertou. A liminar expedida semana passada (07), ordenando a volta dos cobradores nos ônibus durante os horários de pico, foi um suspiro em meio à um sistema sobrecarregado.
É fato que um suporte maior durante esses horários de maior tensão é super bem-vindo, pois é extremamente necessário. A justiça também ordenou o retorno destes profissionais para as linhas onde o pagamento em dinheiro é superior a 30%. Mas cá entre nós, isso chega a ser risível. Parece que não compreenderam a função dos auxiliares de bordo, nome mais adequado para os chamados “cobradores”.
Esses profissionais não servem apenas para cobrar passagens, estão muito além disso. Competem a eles organizar o fluxo de passageiros, operacionalizar a plataforma de elevação de cadeirantes e, sobretudo, auxiliar o motorista durante todo o trajeto, no intuito de evitar acidentes, como as recorrentes vezes em que os usuários ficam presos nas portas de desembarque. Sem eles, o motorista é obrigado a fazer tudo isso, tirando o foco da direção segura, que seria sua única responsabilidade.
Tudo isso nos leva e deduzir que as empresas de transporte público que atendem o povo uberlandense não levam em consideração a qualidade do serviço prestado. Quem está por dentro dessa realidade e/ou depende diariamente dos coletivos, reconhece muito bem a importância dos auxiliares de bordo como parte essencial deste sistema.
Em 2017, cerca de 900 cobradores estavam na iminência de perderem seus empregos. Destes, um pequeno grupo foi realocado para outros setores dentro das próprias empresas. Dentre os restantes, boa parte entrou para a crescente estatística de desempregados ou de trabalhadores informais no Brasil.
E em 2018, um estudante de engenharia civil da Universidade Federal de Uberlândia, Ruan Souza Dotta, realizou uma densa pesquisa sobre a qualidade do transporte coletivo da cidade de Uberlândia, com base na avaliação de 500 usuários. E muito além dos inúmeros problemas constatados, a monografia revelou a opinião destes passageiros a respeito dos cobradores.
Dentre todos os entrevistados que fizeram elogios, sugestões e/ou reclamações, o clamor pelo retorno dos cobradores (auxiliares de bordo) estava na boca da maioria, totalizando 63,9%. O autor ainda discorre sobre a prefeitura ter ciência dos problemas causados pela ausência destes profissionais, mas que desde então, nada foi alterado para alcançar as soluções desejadas.
Por fim, reitero. A liminar é um alento que vem em boa hora, mas muito aquém do que realmente precisa ser feito: o retorno total de todos os auxiliares de bordo.
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