19 maio Luís e as verdades de quem precisa da saúde pública
Depois de uma reforma de sete meses, o Centro Municipal de Atenção ao Diabético, referência em Uberlândia e região, foi reaberto no dia nove de maio. Após as melhorias, o espaço passou a ter capacidade para atender 2.200 pacientes com diabetes tipo I, tipo II e diabetes gestacional. Um desses beneficiados é o senhor Luís, que contou para a Conexões como o Centro o ajudou, o que mudou com a doença e mais algumas histórias.
Luís faz caminhadas perto de casa para ajudar no tratamento do diabetes. Foto: Ygor Rodrigues/Agência Conexões
“Eu só tenho coisa boa pra falar daqui, porque eles fazem muita coisa por mim… E a gente tem que agradecer e falar bem quando tem coisa funcionando, não é?”, diz o senhor Luís sobre Centro Municipal de Atenção ao Diabético (CMAD), logo no início da nossa conversa. Seu sobrenome lembra o de personagens da literatura brasileira: Machado Miranda. Aposentado e com 69 anos, descobriu que tem diabetes tipo II há pouco mais de dois anos, quando precisou ser internado no hospital por 18 dias. O motivo foi um princípio de Acidente Vascular Cerebral (AVC), além de um problema na perna. Mais tarde descobriria que essa complicação era a trombose, uma das consequências do diabetes. Mesmo com a aposentadoria, Luís ainda continuou trabalhando alguns anos como guarda de um prédio residencial, mas precisou parar definitivamente assim que soube da doença. “Conviver com diabetes não é fácil não, minha filha. Esse trem tem época que sobe e tem época que baixa. Mas agora eu tô controlando”, afirma.
O aposentado vai de 15 em 15 dias ao CMAD para tratar do pé diabético, um transtorno neurológico que afeta a sensibilidade dos pés do doente. Em razão disso, é comum haver lesões que se transformam em feridas que precisam de tratamento para não infecionarem. Luís sabe bem como é o problema e seus pés são a prova disso. “Aqui, eu faço curativo no pé, que fica trincado por causa da doença. Eles passam um produto, [que é] tipo de um óleo pra não deixar trincar”, conta. E em relação a esse atendimento, ele conta que nunca reclamou e só tem a agradecer o cuidado de todos os profissionais. “Depois que eu comecei a vir aqui, as coisas melhoraram muito para mim. As meninas daqui são muito boas, sabe? Elas fazem um tratamento que é uma beleza, você precisa ver”, diz em tom de contentamento.
Família e a herança do diabetes
No meio da conversa, Luís me apresenta sua esposa, dona Odirce. Ao contrário do marido, ela é tímida e de poucas palavras. Casados há 46 anos, Luís me explica que Odirce o acompanha em todos os lugares, assim como ele a ela. “Ela não me larga não. Aonde eu vou ela vai junto! (sorri). Não é, meu bem, que aonde eu vou você me acompanha? – pergunta ele para a mulher –. Ela é minha companheirinha”, completa. Ela responde afirmativamente com um aceno de cabeça e sorri.
O casal tem uma única filha, Adriana, de 40 anos, que herdou a diabetes de Luís. “O dela é tipo I, pior que a minha. Tive que levar ela na UAI [Unidade de Atendimento Integrado] várias vezes porque o diabetes baixava. Aí o médico falou pra ela: quando o seu diabetes tiver baixo, come um pedacinho de doce pra melhorar. Já o meu é alto e o doce faz subir”, explica.
Assim como o pai, Adriana também precisa conviver com a rotina de tomar todos os medicamentos que o diabetes exige. “Ela não precisa fazer tratamento específico para o
pé, por isso não vem aqui. Só toma insulina e outros remédios como eu”. Luís costuma pegar esses remédios no próprio posto de saúde, mas nem sempre consegue. “Quando não tem a gente compra, né? E minha esposa e eu acabamos comprando muito medicamento. Um dos comprimidos que eu tomo pra trombose custa R$60,00. É difícil porque vivemos só com a nossa aposentadoria que é curtinha”, conta.
Outra herança que a doença deixou foram as mudanças que Luís precisou fazer na alimentação, já que, para ele, o doce é sinônimo de problema. “Tive que diminuir o refrigerante, tomar cuidado com os tipos de suco. O café é uma dificuldade porque eu gosto bem adoçado e não dá. Às vezes eu coloco mais açúcar de teimoso, mas sei que não pode”.
Descaso com a saúde
Luís foi encaminhado para o Centro através da Rede Municipal de Saúde (UAI ou UBS – Unidade Básica de Saúde), que, ao contrário dos elogios feitos ao CMAD, ganhou muitas reclamações do aposentando. “Aquele postinho da Lagoinha é
uma negação. Fui fazer um curativo para pé e disseram que não tinha material de curativo. Onde já se viu um posto de saúde daquele tamanho não ter essas coisas? É uma coisa muito absurda!”, reclama.
Com a maior parte de seu tratamento feito no Centro, ele declara que prefere ir às UAIs e UBSs apenas para pegar remédios ou encaminhar alguma consulta quando é necessário, porque dizer sentir-se mal assistido. “Lá [no posto da Lagoinha] tem um médico que muita gente reclama, sabe? O povão não gosta dele porque é um doutor que parece não fazer muita questão de pobre. E um cara desses para atender o público não funciona, né?”, desabafa. Para Luís, quem trabalha com pessoas, principalmente na saúde, “tem que ser alguém popular e tratar as pessoas bem. Porque os tipos iguais a esse doutor nem examinam direito”.
Luís encerra nossa conversa mostrando que tem personalidade forte e não é um homem de meias palavras, quando se trata de defender seus direitos enquanto cidadão. “O que eu tenho pra falar eu falo mesmo. Se é pra falar bem, eu falo bem, se é pra falar mal eu falo também!”.
No Comments