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Mãe e filha atuam juntas na luta por direitos de imigrantes refugiados

Em Uberlândia, Gesiane e Kelly Moraes, mãe e filha, fundaram o Taare — Trabalho de apoio a migrantes internacionais —, ONG voltada para a assistência de imigrantes em deslocamento forçado. A organização é orientada principalmente para o ensino do português para imigrantes em situação de vulnerabilidade social.

Oficializado como Organização Não Governamental em 2017, o Taare já auxiliava imigrantes refugiados desde o ano interior. “O Taare não se tornou ONG para fazer alguma coisa, nós já estávamos fazendo”, conta Kelly, que, além de fundadora, foi presidente até o ano de 2021. Formada em Letras-Francês pela Universidade Federal de Uberlândia, Kelly viu na língua uma ferramenta de empoderamento e autonomia para essas pessoas.

O estopim para o início das atividades do Taare ocorreu em 2016, quando um conhecido entrou em contato com o intuito de ajudar um grupo de refugiados haitianos. Porém, a língua foi um empecilho, já que o grupo não falava português. Gesiane conta que o encontro desses refugiados com Kelly foi motivo de grande alegria porque, pela primeira vez em muito tempo, eles tiveram a oportunidade de compartilhar suas necessidades.

No entanto, a descoberta feita por mãe e filha era de que os imigrantes estavam vivendo em trabalho análogo à escravidão. Assim, elas reuniram advogados para auxiliá-las no caso. “Desde o começo, todo o trabalho foi em conjunto, mas com ela (Kelly) liderando”, relata Gesiane, que hoje auxilia o Taare na função de conselheira fiscal. A partir desse episódio, o desejo de iniciar a ONG surgiu, com a busca por pessoas que compartilhavam do mesmo interesse de ajudar migrantes refugiados internacionais residentes em Uberlândia.

Taare/Divulgação

Apesar de seus esforços, Kelly não agiu sozinha na formação do Taare: sua mãe foi fundamental na criação da ONG e no desejo da filha de ajudar as pessoas. Além da função de conselheira fiscal, Gesiane – que é empresária e esteticista por profissão –  também auxilia na coordenação pedagógica, faz parte da diretoria e se encarrega de áreas específicas, como a da etnia indígena Warao, oriunda da Venezuela. Segundo Gesiane, a família sempre teve o hábito de amparar os mais necessitados através de atividades da Igreja, e Kelly vivenciou isso desde a infância. Ao narrar a trajetória do Taare, do seu início em 2016 aos dias de hoje, Gesiane finaliza: “Nós estivemos sempre juntas”.

Desde o começo do Taare, a língua sempre teve papel central. Ao notar que muitos dos refugiados que estavam em situação de exposição não tinham conhecimento básico do português, Kelly percebeu que o desconhecimento do idioma os tornava ainda mais vulneráveis, dificultando o acesso à educação, saúde, emprego e documentação regular. Por esse motivo, as atividades do Taare iniciaram e seguem ocorrendo com um foco educativo voltado ao ensino do português, que tem como objetivo a autonomia dos imigrantes — tanto refugiados, quanto imigrantes em situação vulnerável.

Para que ocorra um trabalho de inclusão desses estrangeiros, foi utilizada uma metodologia de ensino específica: o “Português como língua de acolhimento”. As aulas consideram a questão da comunicação, como de que forma os imigrantes se comunicarão para ir ao supermercado ou ao SUS, tendo em vista o que eles precisam saber para se relacionar em diversos meios. Kelly explica ser importante considerar as necessidades específicas dos imigrantes porque, muitas vezes, eles saíram de forma forçada do seu país de origem e não se prepararam para vir ao Brasil. 

As atividades desenvolvidas pelo Taare são prioritariamente voltadas para a educação dos refugiados no idioma local. Taare/Divulgação

Apesar das variadas formas de ajudar os refugiados, a principal é através da educação — do imigrante, mas também da população. Além de oficinas e palestras de capacitação, o Taare, em parceria com o MIGRAST (Grupo de estudos e pesquisa em Migração, Saúde e Trabalho da Universidade Federal de Uberlândia), desenvolveu um guia de apoio disponível em cinco idiomas. O guia contém informações, compiladas pensando no imigrante recém-chegado em Uberlândia, referentes à documentação, educação, lazer e área jurídica. Segundo Kelly, o didatismo do guia faz com que o mesmo seja de utilidade também para funcionários de órgãos públicos, orientando-os na questão do refúgio.

Para Gesiane, o trabalho da ONG é auxiliar e orientar as pessoas através do reconhecimento de suas necessidades. “Muita gente pensa que a necessidade dos refugiados internacionais é só comida e roupa, e é muito mais do que isso. A nossa política é oferecer dignidade e autonomia para essas pessoas”, conta.

Anna Júlia Lopes
annajulialrodrigues@gmail.com
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