
04 abr Marina discute gênero através do teatro e reafirma sua identidade
Marina conta que seu processo de transição aconteceu aos poucos, tanto que não gosta de comentar a data específica ou ano que esse processo teve início. | Foto: Roberto Vicente | Agência Conexões
Ela nasceu ele. Essa sentença acaba mostrando uma parte do passado de Marina Silvério, mulher trans que nasceu na cidade de Uberaba no dia 16 de julho de 1994. De cabelos cacheados e bem volumosos, um sorriso que contagia a todos e um brilho no olhar que parece ser de criança, essa é primeira impressão que se pode ter dela, uma mulher que ao longo dos seus vinte e três anos enfrentou a homofobia e a transfobia e mesmo assim consegue enxergar o lado positivo da vida.
Durante sua infância, não houve questionamentos sobre sua identidade de gênero. Contudo, aos oito anos, pediu para sua mãe que deixasse o cabelo crescer, pois o cabelo longo o encantava, sua mãe sem hesitar ou questionar deixou. O problema não foi o tamanho, mas a sociedade que começou a julgar e confundir ele com uma menina; a partir daí as dúvidas sobre ser ou não do sexo feminino passaram a ser realidade.
Entretanto, alguns anos depois ela foi estudar no Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Minas Gerais, na cidade de Uberaba, e seu cabelo teve que ser cortado, devido às regras da instituição. Um lugar em que, segundo ela, havia muita repressão e ao mesmo tempo uma preocupação com o ensino comum e também cultural, como por exemplo as aulas de música e teatro.
Foram sete anos nessa rede de educação e nenhum aprendizado sobre sexualidade, orientação de gênero e identidade. Nesse tempo, entre fim do ensino médio e a escolha da graduação, ela começou a enfrentar alguns dilemas familiares relacionados à sua sexualidade. Em consequência disso, veio para Uberlândia para seguir uma nova vida e deixar para trás seu passado e os problemas familiares.
O processo de transição em seu caso aconteceu aos poucos, dessa forma ela não gosta de comentar a data específica ou ano que esse processo teve início, pois parece que foi somente a partir daquele momento em que ela começou a perceber que não se sentia bem naquele corpo, sendo que isso vai muito além de uma data. Deste modo, não cabem arrependimentos quando o assunto é transição, tudo aconteceu em seu tempo e na hora certa. Além do mais, foi no ensino militar seu primeiro contato com o teatro, algo que no futuro se tornaria sua profissão.
Sua trajetória acadêmica começou em 2012, quando foi aprovada no curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), concomitante ao início a sua transição de gênero. Esse período foi marcado por idas ao Hospital das Clínicas de Uberlândia (HCU), que oferece acompanhamento hormonal para pessoas trans, porém, com o passar do tempo ela já não conseguia mais ir às consultas e começou a se automedicar, mas não recomenda essa forma de tratamento a ninguém, visto que o consumo de remédio por conta própria é prejudicial a saúde.
Com sua graduação em andamento, ela começou a estagiar em uma escola de ensino fundamental, uma fase que, segundo ela, mostrou como a educação pode auxiliar nas futuras gerações quando o assunto são questões LBGTs. Entretanto, esse período não foi como os contos de fadas, durante esse tempo algumas vestimentas tiveram que ser adaptadas, como por exemplo o uso de calças e blusas que não tinham como características o gênero, além de prender o cabelo como forma de amenizar seus traços femininos. Essas eram medidas preventivas utilizada por ela para evitar olhares e julgamentos
Atualmente, ela cursa mestrado na UFU na área de Artes Cênicas e seu projeto envolve pequenas apresentações e discussões sobre sexualidade em redes de ensino. Dessa forma, ela consegue auxiliar na educação das crianças e adolescentes, mostrando a eles que não há nada de errado em sentir-se desconfortável com o seu corpo ou não se encaixar nos padrões normativos.
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