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Meu nome importa

Por Pedro Prado e Ygor Rodrigues | Foto por Pedro Prado

Na Universidade, o nome que condiz com sua identidade está na lista de chamada. No local de trabalho, é possível ler Pedro Ferreira em seu crachá. Se apresenta como Pedro e gosta de ser chamado dessa maneira. Homem trans, aluno de direito e estagiário do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Pedro contou para a Conexões como é  a relação entre transexualidade e mercado de trabalho.

“O mercado de trabalho não é nem um pouco aberto para pessoas transexuais, principalmente por causa do nome”. O nome citado é o social, que Pedro usa no âmbito acadêmico desde 2016. No seu local de trabalho não é diferente. Lá, o juiz responsável pela vara em que estagia é também seu professor e, na Universidade, pesquisa sobre transexualidade. “Quando eu fiquei sabendo que eu ia pra vara desse professor eu fiquei imensamente aliviado. Porque eu sabia que, como juiz, ele não permitiria que seus colegas de trabalho fossem preconceituosos comigo”, explica.

Porém, não precisou de intervenção do juiz. Os colegas foram extremamente educados. No início, ele pensou que precisaria solicitar o nome social, mas a responsável pela documentação viu que no histórico da Universidade estava como Pedro, diferentemente do nome do RG. Automaticamente, ela realizou o procedimento para que ele fosse reconhecido pelo nome que condiz com sua identidade acadêmica. Seus colegas lhe dirigem a palavra como Pedro.

O banheiro, por ser unissex, não lhe causa constrangimentos. Entretanto, Pedro elucida que isso não é uma realidade de todas as pessoas transexuais. “Eu gosto de dizer que eu sou uma exceção. Porque eu tenho um trabalho formal. A grande maioria dos homens e mulheres trans não têm acesso a esse mercado”, esclarece. O que Pedro aponta está relacionado ao registro civil. Uma pessoa, ao procurar trabalho, leva seus documentos e participa do processo seletivo, no entanto, o empregador vê um nome no RG diferente da fisionomia. Além disso, “não se sabe lidar com a pessoa trans, qual banheiro se deve usar, o modo de tratar”, conta o estudante de direito.

Por essas complicações e falta de informações, Pedro declara que acaba sendo preferível aos empregadores contratar uma pessoa que se identifica com o gênero que lhe foi designado ao nascimento.  Pelas motivos supracitados, Pedro acredita que o mercado de trabalho está aberto para pessoas trans em empregos que se têm a possibilidade de escondê-las. “É o caso do telemarketing aqui em Uberlândia, onde tem bastante transexuais”, exemplifica.

Contudo, até em situações assim, o preconceito é visível. Pedro afirma que já ouviu casos em que houve desrespeito por parte de empregadores e colegas. Este preconceito  está ligado, mais uma vez, ao nome social, causando assim constrangimento. “O nome é a porta principal pro mercado de trabalho, para educação, o acesso à saúde. Quando a pessoa não tem esse nome retificado dificulta para ela ter acesso a emprego. Então sobra pra ela a rua, a prostituição”, afirma. 

Nome social em Uberlândia

Pedro declara que a aprovação do nome social em Uberlândia*, que aconteceu em maio deste ano na Câmara dos Vereadores, foi um passo muito grande e que são poucos municípios que possuem essa lei aprovada. Por ser no âmbito municipal, a lei só vale em terras uberlandenses. “Precisamos de uma lei que retifica o nome civil. É preciso quebrar essa burocracia”. Pedro ressalta que esse nome importa. É ele que vai ser apresentado em todos os espaços da sociedade.

Enquanto isso, o estudante acredita que o nome social aprovado no município e na UFU é um avanço. “Isso dá um retorno para a população, porque na universidade ela vai ser identificada pelo seu nome. Isso incentiva a pessoa trans a  entrar na universidade e, consequentemente, no mercado de trabalho”, opina.   

A Conexões noticiou o adiamento desta votação na Câmara, em abril. Logo após, em maio, a votação foi realizada e o nome social foi aprovado na cidade de Uberlândia.

Agência Conexões
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