Observatório Luminar
Luminar é um observatório de mídia voltado para o acompanhamento sistemático da cobertura jornalística sobre políticas públicas. Acesse clicando aqui

Meu nome, minha identificação?

“Não basta a resolução de nome social do Governo Federal” – afirma Lila Monteiro. Foto: Laura Fernandes/Agência Conexões

 

Identificação. No dicionário, ação ou efeito de identificar. Ação de assimilar a partir de um aspecto, característica ou qualidade de outra pessoa e, a partir disso construir sua identidade. O documento utilizado para comprovar a identidade de alguém.

 

Identificação é se sentir parte, é se sentir representado por algo ou alguém. Identificar-se. Tomar pra si algo que lhe representa. Nome. Representação de reconhecimento. Sim, o meu nome me representa. Sim, eu me reconheço em meu nome. Você já fez está afirmação? Lila Monteiro, sim. Seu nome a representa. Mas, seu nome civil não atende sua representatividade. Lila é transexual e lida há dois anos com essa falta de representação.

 

Identificação

 

Se identificar é algo que requer entendimento e assimilação. Talvez para uma criança, entender os sentidos destes termos usados seja um pouco mais complicado, mas isso não quer dizer que o reconhecer-se em si já não tenha acontecido, no seu modo infantil de entender as coisas, mas acontecido.

 

Lila conta que sempre se identificou com o gênero feminino, mas sua memória nesse sentido só inicia aos 5 anos. “Tudo me despertava a identificação com o feminino. Desde brincadeiras, vestimenta, em como eu me via”. Ela recorda de vestir-se com as roupas de sua mãe e a repulsa que tinha por educação física. Esse era um momento que havia separações de meninos e meninas, e por não se identificar com as brincadeiras destinadas aos meninos, recusava-se a participar, o que lhe fez desgostar da disciplina.

 

Esses momentos de identificação tiveram considerações importantes ao longo de sua vida. Mesmo se vendo, desde sempre, como mulher, ela afirma que foi aos 15 ou 16 anos que admitiu isso pra si. “Eu achava que era um sonho, uma imaginação. Mas era realidade e, entre o sonho e a realidade só existe você”, concluiu.

 

Mesmo descobrindo essa realidade, se encontrando enquanto mulher, Lila ainda não fazia uso de vestimentas e acessórios ditos femininos, ou que fizessem alusão a esse universo. Ainda que seu interior trouxesse o aspecto feminino.

 

A estudante acredita que a oficialização do nome social traria dignidade às pessoas transgêneras. Foto: Arquivo pessoal

 

Mudança

 

Para muitos, talvez o mudar acontece aos poucos, em partes. Primeiro um detalhe, depois logo mais um, até que tudo, ou quase tudo, esteja diferente. Para Lila esse percurso teve um caminho mais curto. Foi do dia pra noite. Ela lembra que era uma quarta-feira. Naquela mesma noite ela decidiu não se vestir mais “como homem”. “Na quinta acordei, me maquiei e me vesti como mulher”, conta ela.

 

Já faz dois anos que Lila veste-se “como mulher”. Dois anos que se identifica com seu nome Lila Monteiro. Dois anos que Lila se sente representada com esse nome, apesar de não a representarem socialmente por ele.

 

Valor

 

Em Uberlândia a lei que trata da utilização do nome social ainda não foi aprovada, o que fere os valores de identificação de vários cidadãos, assim como os de Lila. O valor de um nome, além de estar associado ao poder de representação, de reconhecimento enquanto pessoa, está relacionado ao reconhecimento enquanto cidadão. Para Lila, a aprovação desta lei “significa que o município nos entende enquanto mulheres e enquanto detentoras de direitos, portanto enquanto cidadãs”.

 O não identificar-se remete Lila à exclusão e desumanização. A inclusão, segundo ela, a faria mais cidadã, mais digna, explica. E conclui ressaltando que “o importante não seria a Lila, seria o Estado, que estaria se tornando mais democrático”.

Agência Conexões
agenciaconexoes@gmail.com
No Comments

Post A Comment