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Movimento antivacina: um retrocesso na saúde pública


Revolta da Vacina, 1904. Movimento durou 6 dias. |
Aventuras na História

Essa imagem representa um conflito de 1904, mas poderia ser dos dias atuais, isso porque casos de surtos e epidemias de doenças, até então erradicadas no Brasil e no mundo, vem sendo redescobertas novamente. Como mostra a matéria do G1, a Organização Mundial da Saúde (OMS), alertou em novembro que os casos de sarampo no mundo tinham aumentado 30% em 2017 em comparação com o ano anterior, em parte porque as crianças não estão sendo vacinadas. No Brasil, o número de casos confirmados passou de 10 mil, informou o Ministério da Saúde.

Na imagem, vemos o Rio de Janeiro quando não era considerado uma cidade tão maravilhosa. No início do século XX, os riscos de contrair diversas doenças, como febre amarela, peste bubônica e varíola, eram altos na capital da República, assim como no restante do país. Isso era o reflexo de um sistema de saneamento básico ineficiente e moradias extremamente precárias .

Diante disso, o então prefeito do Rio, Pereira Passos (1902-1906) instituiu um projeto de saneamento e reurbanização da capital da República. Ao mesmo tempo, iniciava-se o programa de Oswaldo Cruz, que ocupava um cargo equivalente à ministro da saúde hoje. De forma autoritária, a vacinação tornou-se obrigatória e sua aplicação era feita a força. A obrigatoriedade forçada provocou uma revolta popular, dada a insatisfação com o governo, o autoritarismo e a falta de conhecimento sobre o efeito das vacinas. 

Tudo isso, levou o Rio de Janeiro a uma guerra civil. A Revolta da Vacina, que aconteceu entre os dias 10 a 16 de novembro de 1904, durante seis dias e resultou em, aproximadamente, 30 pessoas mortas e outras 100 feridas. A população, totalmente descontente com essa situação, resistiu ao projeto de vacinação forçada. Depois de um tempo, com a população mais calma, a vacinação continuou, sem obrigatoriedade e, aos poucos, as epidemias foram erradicadas. 

Mais de um século depois, a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), defende uma taxa de imunização de 95% do público-alvo, mas não é isso que vem acontecendo. O resultado de baixas coberturas vacinais traz, portanto, o reaparecimento dessas doenças. Dados do governo federal, mostram que 312 municípios brasileiros estão com cobertura vacinal abaixo de 50%, de acordo com a Agência Brasil.

A presidente da Sbim, Isabella Ballalai, em entrevista à Agência Brasil, explica que “uma série de fatores compromete o sucesso da imunização no país, incluindo a falta de conhecimento sobre doenças consideradas erradicadas, a divulgação de fake news via redes sociais e os horários limitados de funcionamento de postos de saúde”.

O movimento Antivacina, incluído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em seu relatório sobre os dez maiores riscos à saúde global em 2019, é um dos principais motivos para o aumento da volta dessas doenças. Esse movimento ganhou mais voz quando o médico Andrew Wakefield, em 1998, publicou um estudo na revista científica The Lancet, defendendo que “o sistema imunológico das crianças analisadas entrou em ‘pane’ após os estímulos ‘excessivos’ da vacina ao sistema imunológico”.

Mas isso, não passava de um estudo fraudulento que trouxe um enorme estrago. “Nos Estados Unidos, por exemplo, o sarampo atingiu 189 pessoas em 2013, após estar erradicado há quase 15 anos, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC)”. O negacionismo da ciência é o recurso mais aplicado durante essas teorias, que vão de encontro com o que médicos, especialistas e órgãos da saúde, formados dizem. De acordo com o Postal Saúde, “é importante ressaltar que todas as vacinas distribuídas pelo SUS são seguras. Elas passam desde o processo de produção por avaliação de qualidade e segurança e também pela validação e aprovação de instituto reguladores e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.

Triste perceber que o país que sempre foi modelo para a cobertura de vacina pública, hoje sofre retrocesso na saúde. Um movimento ideológico e religioso, sem fundamento científico, tem conseguido colocar em risco a vida de milhares de pessoas. Portanto, organizações públicas e privadas precisam buscar estratégias urgentes voltadas para uma ampla cobertura vacinal, dando maior atenção a estes casos de ignorância, no sentido da falta de conhecimento sobre a real importância da vacinação e da evolução da ciência para a área da saúde.

Monallysa Leite
leitemonallysa@gmail.com
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