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Não pense em crise, estude!

“Tá reclamando de que?”, “Você só estuda!”, “Isso é frescura!”, “Na minha época a gente não era mole assim!”. Já ouvi muitas vezes frases como essas e imagino que muitos outros estudantes também tenham ouvido durante a graduação. Nessas horas, penso que talvez eu seja meio “mole” mesmo, ou que eu não dou conta do recado, ou que só “reclamo de barriga cheia”. Será possível que a ansiedade, o medo do fracasso, a tristeza, a falta de vontade de frequentar as aulas e a insônia no final do semestre são bobeiras fúteis?

 

Talvez, isso seja um problema apenas meu. Mas, quando sento com meus amigos e colegas para conversar, percebo que não é bem assim. Os universitários estão deixando de visitar os familiares porque têm um seminário para preparar, estão deixando de sair nos finais de semana por causa do relatório para entregar na segunda, estão deixando de dormir por causa da prova no outro dia.

 

De acordo com o Perfil do Graduando da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) elaborado em 2014, fica claro que esse não é um problema meu e dos meus amigos. Entre as dificuldades emocionais que afetam a vida acadêmica, 57% dos estudantes ouvidos afirmaram ter sentido ansiedade durante a graduação, 27,5% afirmaram ter insônia ou alterações no sono, 15,3% disseram sentir tristeza persistente e, um dos indicadores mais preocupantes, 2,8% afirmaram ter tido pensamentos suicidas. Essa última porcentagem pode parecer pequena, mas ela corresponde a 618 vidas de universitários.

 Freepik

 

É certo que uma graduação requer tempo, envolvimento e dedicação dos estudantes. No entanto, não é uma tarefa fácil conciliar a academia com a vida fora dela. Não é fácil lidar com a ansiedade, com as cobranças e as pressões. Talvez esse seja um problema da contemporaneidade, uma questão geracional. Porém, mais que buscar culpados para apontar os dedos, é preciso agir e buscar soluções e alternativas que possam ajudar quem está passando por um momento delicado emocionalmente. A universidade forma profissionais ao mesmo tempo que forma seres humanos, e é fundamental que as instituições de ensino sejam sensíveis e percebam que uma grande parcela dos universitários está doente e em sofrimento.

 

Infelizmente, a forma como a UFU pode atender esses casos tem sido precarizada ao longo do tempo. Hoje, a Divisão de Saúde (DISAU) faz atendimento apenas a estudantes bolsistas que precisam entrar em uma considerável fila. Aos demais universitários, a divisão se restringe a informar sobre alguns locais que fazem atendimento psicológico. No fim, nada muito diferente da famosa palavra de ordem divulgada pelo partido de Temer: “Não pense em crise, estude”.  

 

 

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