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Não posso fazer nada, está no edital

 

 

A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) aplicou o seu vestibular de inverno nos dias 3 e 4 de junho. O exame, assim como qualquer outro, foi pautado sob um edital que definia regras para todas as partes relacionadas à aplicação e realização da prova. Ao todo, foram 26.869 inscritos. Além dos 10% que não compareceram, também não realizaram a prova aqueles que se apresentaram com piercings e/ou alargadores, pulseiras e colares, itens proibidos pelas normas de segurança do vestibular. E é aí que está o ponto para questionamento.

 

Aconteceram situações de candidatos que estavam com piercings e alargadores serem barrados caso não conseguissem tirá-los. Até aí, estávamos vendo o cumprimento das normas. Havia, no entanto, aqueles que não conseguiam tirar por questões particulares de cada acessório. Muitas vezes, na tentativa desesperada de tirá-los, os candidatos com piercings na sobrancelha, no umbigo, nos lábios, nariz, ou seja, em lugares sensíveis, tiveram lesões em seus corpos.

 

 Foto: Marco Cavalcanti/Diretoria de Comunicação – UFU

 

Não se questiona a legitimidade do edital. Não se questionam as tentativas – necessárias – de proteger a integridade do processo seletivo contra fraudes e colas. Questiona-se, no entanto, o exagero. Proibir celulares, relógios, canetas de material não transparente, lápis, borracha, rótulos de alimentos; pedir, muitas vezes, que todos os pertences sejam lacrados dentro de um envelope oferecido pela instituição aplicadora do exame; pedir que os candidatos prendam seus cabelos quando longos e não usem bonés são procedimentos regulares. Até que ponto, então, deixa de ser procedimento regular para ser, muitas vezes, imposição e abuso?

 

As provas do vestibular da UFU tiveram, nessa edição, a participação e colaboração da Polícia Federal (PF). O vestibular da Universidade sempre fora tranquilo, mas até mesmo pela sua abrangência em número de candidatos,  em 2017-2 foi um número recorde. Não seria exagero, então, preocupar-se em colocar dentro do campus o corpo da Polícia Federal? Ou seria o vestibular um caminho mais fácil para usar da presença da PF?

 

Atualmente no Brasil, as pessoas que desejam ingressar no ensino superior, público ou privado, são submetidas a exames internos aplicados pelas próprias instituições – os famosos vestibulares. Desde que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) surgiu no cenário nacional, com sistemas de seleção como o Sistema de Seleção Unificada (SISU) e o Programa Universidade Para Todos (PROUNI), o leque para o ingresso no ensino superior aumentou um pouco. Pelo SISU as pessoas conseguem ingressar em instituições federais e estaduais do Brasil. Já o PROUNI permite o acesso à Universidades particulares com auxílio financeiro para pessoas de baixa renda.

 

Mesmo assim, ainda são os vestibulares que sustentam o ingresso nos períodos em que esses programas de ingresso não atuam e também em universidades que ainda não os adotaram como maneira de seleção única de estudantes.

 

Dessa maneira, observando o cenário brasileiro de ingresso nas universidades do país, estamos falando de candidatos, em sua maioria adolescentes, submetidos a um sistema escolar meritocrático, que dependem do bom desempenho em uma única prova para conseguir sua vaga no ensino superior. Submetemos esses candidatos a um momento de tensão, colocando sobre eles toda e qualquer suspeita de fraude.

 

É nesse processo que se deixa de questionar o sistema educacional falho do Brasil para colocarmos todos os holofotes, todas as preocupações, sobre a cereja do bolo: um piercing no nariz que pode ser um ponto de transmissão de cola.

 

A UFU, em pronunciamento oficial, afirmou que pretende ser reconhecida pela sua credibilidade, visa ampliar seu vestibular e ser acessível a todos os candidatos que pretendem ingressar na Instituição. Ficaremos nos perguntando, então, onde estará esta acessibilidade.

 

 

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