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Não precisamos de mais medidas paliativas

ARTIGO DE OPINIÃO -No começo do mês, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo anunciou que os jogos clássicos de futebol terão apenas uma torcida até o final do ano. A decisão foi tomada devido a confrontos que aconteceram entre torcidas organizadas no último jogo entre Palmeiras e Corinthians resultando em diversos feridos e uma morte. Intriga o fato que nenhuma dessas brigas aconteceu dentro do estádio e nem mesmo nos arredores, mas em bairros mais afastados do local da partida.

 

O sociólogo Mauricio Murad, especialista em violência no futebol, destacou o fenômeno. Para ele, a medida não é eficaz porque os conflitos acontecem fora dos estádios. É óbvio que esses “torcedores” estão totalmente errados, mas será que a SSP não estaria agindo de forma equivocada e, mais ainda, tirando sua responsabilidade de garantir a segurança pública para todos os cidadãos?

 

O conceito da “doutrina de segurança nacional” criado durante o período ditatorial brasileiro continua existindo no país, seja no âmbito nacional, estadual ou municipal. A segurança ainda é tratada como contenção social, fazendo uso de força, armas e repressão. Só recentemente a política de segurança pública brasileira começou a ser entendida como um direito de cidadania. Mas isso já estava presente na Constituição Federal de 1988, no artigo 144, que afirma a segurança pública como direito e responsabilidade de todos (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm). É necessário que essa política comece seriamente a ser  abordada como uma questão social, já que o centro dela é a sociedade e sua convivência pacífica.

 

Sendo assim, será que o problema de violência no futebol irá se resolver apenas proibindo a torcida adversária de assistir ao jogo no estádio? Os conflitos não acontecem somente em São Paulo. Por diversas vezes comportamentos violentos foram visto em  Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e vários estados do Nordeste, nos quais  a rivalidade entre os principais times é grande. Na maior parte das vezes, como citado, os confrontos acontecem bem longe do local da partida. Além disso, também há exemplos de jogos com torcida única nesses estados, e mesmo assim brigas são recorrentes.

 

A impressão que fica é que essa medida serve apenas para tentar acalmar os ânimos. Seria preciso um controle real dos arruaceiros e causadores de violência, afastamento dos estádios  e até encarceramento, dependendo dos fatos. Porém, a atitude das autoridades continua sendo tentar “tapar o sol com uma peneira”; prefere-se afastar o problema do evento como se isso fosse desvincular uma coisa da outra.

 

Agência Conexões
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