04 abr No campo, protagonizar é resistir
Posted at 01:20h
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Opinião
by Agência Conexões
ARTIGO DE OPINIÃO – No início do mês de março, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) organizou em Brasília o Seminário de Políticas Públicas para as Mulheres Rurais. O evento reuniu as mulheres engajadas nos movimentos agrários de todo país com o objetivo de pensar e discutir as políticas públicas e sociais para a mulher do campo. Pautas como a reformulação da assistência técnica pensada no modo de vida da mulher, a titulação feminina nos negócios da família e a participação delas no desenvolvimento rural sustentável foram debatidas. Segundo dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a participação das mulheres do meio rural na renda familiar é cerca de 3% maior do que a das mulheres que vivem na cidade. Portanto, é fundamental e louvável que o MDA se atente cada vez mais às demandas femininas e promova projetos que assegurem sua autonomia financeira e social. Mas é interessante reiterar que ainda há muito que ser feito, principalmente em relação à proteção física e moral das mulheres – sejam elas agricultoras familiares, chefes quilombolas e indígenas, pescadoras, cortadoras de cana ou quem planta café. Muitas mulheres rurais, apesar de estarem conquistando independência econômica e aperfeiçoando seus conhecimentos de assistência a terra e de escolaridade, ainda sofrem com a desigualdade de gênero e violência física e psicológica por parte dos parceiros ou colegas de trabalho, fora os casos de estupro e abuso sexual. A depreciação moral se apresenta desde as formas mais sutis, como a visão de que o serviço prestado pela mulher na propriedade da família é somente uma “ajuda”. Isso não só diminui o papel produtivo feminino, como também transforma toda a atividade igualmente feita pelo homem em um trabalho complementar realizado pela mulher. E mencionar a questão da desigualdade salarial se torna redundante quando o assunto é gênero, principalmente no meio rural. A Lei Maria da Penha é um avanço inegável em relação à realidade da mulher brasileira, entretanto ainda é pouco debatida no campo. Uma pesquisa realizada por estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com 58 trabalhadoras rurais do sul do país mostra que elas conhecem parcialmente a Lei e toda a rede de proteção a mulher que foi sendo desenvolvida principalmente a partir da Secretária Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República. A rede inclui abrigos, delegacias da mulher, Instituto Médico Legal e outros projetos e órgãos que não são acessíveis nas localidades rurais. Ou seja, falta a circulação de informação, a divulgação desses meios que auxiliam as mulheres no enfrentamento de todos os tipos de violências e a criação deles próximo às comunidades. Mais que tudo: quando se discute políticas públicas para as mulheres no campo, ainda são escassos os debates amplos sobre as questões subjetivas a respeito da vivência cotidiana da mulher rural. O empoderamento feminino precisa ganhar ainda mais fôlego nos espaços para além do meio urbano. Para que isso aconteça, é fundamental ouvir as tantas Marias, Anas e Rosas e conhecer as barreiras que impedem que elas conquistem mais lutas. Fazê-las titulares das propriedades – hoje, 20% das mulheres têm a titularidade, enquanto os homens, 80% -, adequar as técnicas manuais e mecanicistas de agricultura à realidade delas, incentivar que as mesmas busquem esse conhecimento e, acima de tudo, pensar em propostas que atendam a saúde, o bem estar a integridade física e moral de cada uma delas são algumas formas de torná-las protagonistas.
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