
29 abr O Parkinson não me limita
Por Genivan Júnior e Monallysa Leite
No dia 12 de março deste ano, a Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado aprovou o projeto que determina abril como o Mês de Conscientização da Doença de Parkinson. A proposta (PLS 100/2018) é do senador Paulo Paim (PT-RS), inspirada no Dia Mundial da Conscientização da Doença de Parkinson, celebrado em 11 de abril.
O Parkinson é uma doença progressiva do sistema neurológico que afeta principalmente o cérebro, caracterizada por prejudicar a coordenação motora e provocar tremores e dificuldades para caminhar e se movimentar. É um dos principais e mais comuns distúrbios nervosos da terceira idade e não perdoou Celeste, que descobriu a o parkinson ainda com 40 anos, e é esta história que iremos contar.
Era uma tarde de quinta-feira, e estávamos indo pela primeira vez à “Associação Parkinson do Triângulo”, localizada no bairro Umuarama, em Uberlândia. A Associação é uma instituição filantrópica que atende pessoas com a doença de Parkinson e Parkinsonismo. Como não tivemos casos de Parkinson na família, apesar de alguns contatos com uma ou outra pessoa, não sabíamos das particularidades e como a doença afetava a vida de alguém.
Chegando lá, o nosso encontro foi com Celeste da Costa Cardoso, uma paraense arretada, de 58 anos com muita história para contar. Ela, que sempre gostou de ajudar o próximo, levava uma vida normal sem a doença até os 40 anos.
Em 1982, Celeste se converteu para a religião evangélica, indo trabalhar em uma comunidade hippie, onde acabou se tornando uma. Ela conta que sua intenção era “trazer os hippies para Jesus”. Ela ainda morava em Belém, quando começou a trabalhar em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos. Foi quando conheceu um namorado, e veio para Uberlândia pela primeira vez, em 1997, na tentativa de ajudá-lo na sua reabilitação, que infelizmente não obteve sucesso. Três anos mais tarde retornou para seu estado de origem.
Com 35 anos na época, ficou apenas três meses no Pará e logo foi convidada por uma pastora a trabalhar em uma Clínica de Reabilitação Feminina que seria aberta em Uberlândia. Este sempre foi um desejo de Celeste, que há muito tempo, vendo o sofrimento de mulheres, sonhava em trabalhar com a reabilitação dessas pessoas e ajudá-las a mudar de vida. Ela conta, emocionada, que esse é seu orgulho, um dos maiores bens que ela fez na vida e estas mulheres sempre ligam para agradecê-la.
A expressão de Celeste muda, contudo, quando começa a nos contar como descobriu a doença. “Eu fui notar uma diferença em mim quando trabalhava em uma casa de recuperação para dependentes químicos, no ano de 2004. Fui a um neurologista, ele disse que era estresse e passou remédio, só que o efeito foi totalmente o contrário. Em 2007 eu comecei a sentir tremer tudinho. O meu dedinho do pé tremia involuntariamente.”
Como o diagnóstico só se dá ao olho nu, Celeste só viria a ser diagnosticada com a doença tempos depois. Jovem, com apenas 40 anos, ela nos confessou que não queria acreditar no diagnóstico, e por isso foi em mais de um médico. O último dos três profissionais ficou a acompanhando por dois anos, até o diagnóstico de “Mal de Parkinson”, em 2009.
No início, a enfermidade avançou muito rápido. Em 2007, Celeste teve o direito ao auxílio doença, mas só viria a se aposentar em 2009. Mesmo com o diagnóstico, ela não queria deixar o trabalho. Foi então, que decidiu fazer um curso de “cuidadora de idosos”. Durante toda nossa conversa foi possível notar o amor que ela tem por cuidar de pessoas. Celeste teve que abrir mão de muitas coisas em função da doença, uma delas foi a vaidade. Ela que sempre adorou andar de salto alto, hoje não pode mais. A paraense, contudo, não deixa de fazer suas atividades por causa da enfermidade. Ela levanta, faz café, lava a louça, limpa a casa e qualquer outra coisa que precise fazer. “Mesmo que eu faça devagar, não deixo de realizar as minhas atividades. O parkinson não me limita”, explica. Ainda não é possível prever como será a evolução da doença, mas segundo Celeste, seu caso está estagnado. A aceitação não foi fácil desde que recebeu o diagnóstico. Celeste conta que o pior são os olhares de julgamento, e isso fez com que muitas vezes deixasse de sair, inclusive para comemorar o dia das mães com seus filhos, mas ela orou muito para que Deus afastasse os maus pensamentos. Hoje, Celeste é mais independente e conta que não tem como evitar o julgamento, então não se importa mais com os olhares. Pelo menos três vezes por semana, ela pega o ônibus sozinha e vai da sua casa até a Associação ou até o Campus Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia, onde faz fisioterapia.
Atualmente, ela mora com uma filha. Nessa grande família, além dos quatro filhos, tem dois netos e, desde o ano passado, foi agraciada pela vinda de um bisneto. Dois dos seus filhos ainda moram no Pará, um deles mora com sua mãe, que é cadeirante. Eles chegam no mês que vem, por isso a casa está sendo adaptada. Quando questionada sobre quem irá cuidar de sua mãe, ela prontamente nos responde “E eu fiz o curso pra quê?” e caímos na gargalhada.
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